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Professores

Títuloordem crescente Código Data Descrição
Maria Cândida Rocha Diaz Bordenave (1929-2021) _

Foi com muito pesar que a PUC-Rio despediu-se de sua professora Maria Cândida Rocha Diaz Bordenave, ex-diretora do Departamento de Letras e fundadora do primeiro curso de Tradução da Universidade, considerado até hoje um dos melhores do país. Maria Cândida foi casada com Juan Bordenave, com quem teve seis filhos.

Nota do Diretor do Departamento de Letras, prof. Alexandre Montaury Baptista Coutinho:

A sua passagem pela Universidade enriqueceu a vida de cada um que, tocado pela sua humanidade luminosa e pela sua presença magnética, teve o privilégio de com ela conviver. O legado que deixa é imenso e decisivo para o que somos e para o que seremos.

Mensagem da profa. Margarida de Souza Neves, do Núcleo de Memória da PUC-Rio:

Muito triste com a notícia da morte de Cândida Bordenave, ela e Juan amigos muito queridos e exemplos de vida e de luta por um mundo melhor e mais justo.  A PUC-Rio deve muito à Cândida, não só pelo muito que fez no Departamento de Letras, na ADPUC e em todos os espaços da Universidade, mas principalmente pelo que ela é. Obrigada, Cândida.

Maria Adelaide Ferreira Gomes (-2022) _

A profa. Maria Adelaide Ferreira Gomes (-07/12/2022) foi graduada em Serviço Social pela PUC-Rio (1969) e professora da PUC-Rio entre 1984 e 2014, foi também professora da Faculdade de Serviço Social do Rio de Janeiro e da Universidade Gama Filho.

Alguns ex-Alunos manifestaram-se:

Minha querida e inesquecível professora, a PUC-Rio perde uma excelente profissional, ela, que mesmo afastada, estava sempre pronta a dar uma palavra de apoio a quem precisava dos seus conhecimentos.

Grande professora, muito querida! Com seu olhar atento e carinhoso, sempre pronta para ouvir e ajudar! Perdemos muito, mas sou grata por ter recebido os seus ensinamentos!

“Minha amada professora! Que exemplo de profissional! Os maiores ensinamentos vieram dela. Obrigado por tudo, Maria Adelaide!

Muito triste. Grandes aprendizados, saberes e experiências profundas. Professora sensível com a dor alheia. Nunca me esquecerei quando me acompanhou diariamente durante minha enfermidade cardíaca. Serviço Social em profundo luto.

Marcos Vinício Miranda Vieira (1968-2020) _

O prof. pe. Marcos Vinicio Miranda Vieira, coordenador da Cultura Religiosa na PUC-Rio, faleceu por Covid-19. Formado em Filosofia pela PUC de Minas Gerais e em Teologia pelo Instituto São Tomás de Aquino, ambos em Belo Horizonte, fez, bacharelado em Teologia na Pontifícia Universidade Salesiana, em Roma. Cursou ainda graduação em Psicologia e mestrado em Teologia pela PUC-Rio. Em 2000, recebeu o título de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro. Tinha 52 anos e trabalhava na PUC-Rio desde 1997.

O padre Marcos Vinício estava à frente da Paróquia São João Batista, em Rio das Pedras, desde o dia 21 de junho de 2011, quando foi erigida por Dom Orani. A paróquia está situada na região de Jacarepaguá, marcada com muitas diferenças sociais. Empenhado na formação da comunidade paroquial, construiu o prédio da atual paróquia, em diversas etapas, com vários andares, para acolher os fiéis distribuídos nas dezenas de pastorais e movimentos existentes.

Fortaleceu as duas capelas que já existiam na região, fundou a Capela São Nicola e Santa Rita, na Areinha, e tinha dado início à comunidade São Jorge, no Jardim Clarice. No seu árduo trabalho pastoral, tudo fazia para promover e ajudar os mais pobres, com cursos, auxílio emergencial, atendimentos na área médica, psicológica e creches. Também se preocupou com a questão ambiental e com as missões populares. Outra marca de seu pastoreio foi a formação das crianças e jovens, razão pela qual a paróquia tinha na Iniciação Cristã, quando ele faleceu, em torno de 1.200 catequizandos.

O Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist., Chanceler da PUC-Rio, que celebrou missa de corpo presente na capela Nossa Senhora da Conceição, no Palácio São Joaquim, na Glória, disse sobre o pe. Marcos:

Agradecemos a vida e a disponibilidade do padre Marcos Vinício, e o colocamos nas mãos de Deus para que acolha, na eternidade, esse bravo guerreiro, um homem de Deus, que muito fez pela Igreja.

Nota do Reitor da PUC-Rio, pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J.:

Padre Marcos Vinício foi arrebatado em direção à eternidade no domingo, dia do Senhor, levando à presença de Deus toda a sua história, construída com alegria, espirito missionário, vigor apostólico e amor incondicional aos mais pobres. Seu trabalho como pároco, em Rio das Pedras, será sempre lembrado por aquela comunidade, pois todos reconhecem o quanto ele era querido e admirado pelo povo de Deus.

Sua memória na PUC-Rio nunca será esquecida pela dedicação à CRE, os eventos interdepartamentais, as atividades com os alunos e professores, as parcerias com o Núcleo do Meio Ambiente (NIMA) e a Pastoral Universitária. Sua simplicidade mineira, seu coração generoso, seu entusiasmo apostólico e o apreço pela PUC-Rio são traços de alguém que viveu pouco, mas o suficiente para deixar um legado que não esqueceremos.

Marcos Azevedo da Silveira (1952 – 2009) _

O Professor Marcos da Silveira fez a graduação em Matemática na PUC-Rio (1974) e o mestrado em Engenharia Elétrica também na PUC-Rio (1976). Desde seu regresso do doutorado na França (1981) era professor do Departamento de Engenharia Elétrica.

O Núcleo de Educação em Ciências e Engenharia (NECE) da PUC-Rio foi nomeado e sua homenagem em 2011.

Os depoimentos a seguir foram compilados pelo Professor Moisés Henrique Szwarcman, diretor do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio.

Marco Aurélio Pacheco, Professor do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio.

Prezados,

Quem nessa universidade não conhece Marcos da Silveira?  Mas é preciso que se diga algo.

Uma mente privilegiada, um raciocínio na velocidade da luz, um eloqüente interlocutor, um banco de informações  acadêmicas ambulante. Na verdade, o Marcos da Silveira bem podia ser comparado a uma tomografia computadorizada da PUC-Rio, tamanho e minucioso é o seu conhecimento sobre a universidade e as pessoas que nela trabalham.

Conversar com o Marcos é muito fácil,  só lhe cabe ouvir.
Um coisa sempre me chamou atenção. Quando se leva um assunto qualquer a ele, sua posição é colocada  com tanta clareza e profundidade que a sensação era de que ele tinha passado o dia anterior se preparando para conversar sobre o assunto com você.

Controverso, de posições muitas vezes criticas e de firmes opções pessoais, a que mais se destacou foi a sua opção por pensar a universidade e a engenharia.

Consagrado alpinista, Marcos escala agora uma montanha em direção a um cume onde ele acredita nada existir. Vai se enganar mas, como cientista vai por fim aceitar.

Marcos partiu mas ainda é "presente". Sua profusa oratória e conversas sem fim ainda ressoam nos corredores CTC; seu recente livro sobre Engenharia, nem de longe assimilado

Por tudo que o Marcos é para a PUC-Rio, nossos agradecimentos.

Tácio Mauro Pereira de Campos, Professor do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio:

Caros

Existem e sempre existirão colegas que passam ou passarão, todos lembrados com muita saudade e afeição. Entretanto, poucos são e possivelmente serão os que não deixarão de permanecer, de forma indelével, em nosso meio. O Marcos da Elétrica é um destes poucos!
Motivos? Basta reler o escrito pelo colega Marco Aurélio para entender!

Foi um previlégio ter tido a oportunidade de conviver com o Marcos da Silveira!

Roland Scialom, Professor do Instituto de Computação da Unicamp:

Marcos é um camarada que ocupa na minha vida um lugar muito importante. Lamento não ter encontrado ele, recentemente, para dizer isso para ele, mais uma vez. Ele me inspirava amor, respeito e admiração. Foi um grande companheiro de aventuras intelectuais e esportivas. Nessas aventuras, ele era sempre vanguarda, e frequentemente era difícil acompanhá-lo. Gostaria de pensar que ele se foi para empreender a maior das aventuras dos homens, onde o espírito dos bravos se encontram depois de se libertar dos corpos.

PS: Dê uma olhada nessas duas fotos [ver fotos na coluna à direita] (Marcos da Silveira à esquerda e Roland Scialom à direita nas duas fotos; a primeira em Agulhas Negras, no Estado do Rio de Janeiro, e a segunda em Paris, França, ambas sem data).

Prof. José Eugenio Leal, Coordenador Setorial de Pós-Graduação do CTC:

Caros colegas:

Como colega e como Coordenador Setorial de Pós-graduação do CTC deixo aqui algumas palavras sobre a nossa perda do Marcos da Silveira.

Marcos da Silveira não teve muita interação comigo, como coordenador de Pós-Graduação.  Sua atuação mais direta foi relacionada a graduação, incluindo ai um excelente trabalho na criação de convênios de dupla-diplomação e intercâmbios. Na graduação trabalhou e contribuiu significativamente para a criação de um conceito de curso de engenharia moderno e adequado aos novos tempos, nas discussões internas, e com publicações, incluindo vários artigos em congressos  internacionais de ensino de engenharia e até orientando uma  tese de doutorado sobre o assunto.

No entanto, seu trabalho teve e terá impactos positivos profundos na nossa pós-graduação por muitos anos, pois ao dar a muitos dos  nossos melhores  alunos  uma oportunidade de expandir seus conhecimentos no exterior, ele os manteve na PUC e muitos deles fazem e farão a nossa pós-graduação com excelência.

Foi uma mente brilhante que buscava dar espaço a outras mentes brilhantes.

Ele deixa uma lacuna muito difícil de preencher e, não só por isso, será sempre lembrado no CTC e na nossa Universidade.

Profa. Ana Maria Abrantes Coelho, ex-aluna do curso de Física da PUC-Rio, formada em 1972, atualmente professora e pesquisadora do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (mensagem recebida em 07/04/2010):

Fiquei sabendo hoje, quase um ano depois do falecimento de meu antigo e querido amigo Marcos. Descobri seu livro na Internet, fui olhar as informações sobre o autor, e vi a data de nascimento ao lado da data de 2009. Minha primeira idéia foi a de que o site estava desatualizado!!!

Depois eu percebi o que não queria nem imaginar. Que tristeza. Fui sua colega e amiga de últimos anos de graduação. Ele me introduziu ao alpinismo, além de me deixar tonta com todas as sua idéias sobre tantos assuntos, imaginem o Marcos com 20 anos, quanto entusiasmo!

Meu abraço sentido para toda a sua família, se chegar a ler isso. Lembro muito bem de sua irmã, seu irmão e sua mãe. Pelo que li ele teve uma vida de sucesso na PUC, deixa o que contar. Lamento não ter encontrado com ele mais recentemente, para falarmos sobre nossa vida.

Marcio Eduardo Brotto (?-2017) _

(04 de fevereiro de 2017)

Marcio Eduardo Brotto graduou-se em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e fez seu Mestrado (1998-2000) e o Doutorado (2008-2012) em Serviço Social pela PUC-Rio, no tema Seguridade Social, com ênfase em Assistência Social e Saúde.

Professor do Departamento de Serviço Social, foi coordenador departamental do Programa de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e líder do Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas em Seguridade e Assistência Social (NIEPSAS), desenvolvendo pesquisas de Iniciação Científica. Marcio foi por duas gestões conselheiro do CRESS/RJ. Profissional sempre preocupado e comprometido com a questão social e os direitos humanos, segundo a Profa. Andreia Clapp Salvador, diretora do Departamento de Serviço Social, dedicou-se ao exercício profissional e à formação profissional de qualidade.

Foi com muita tristeza que a comunidade acadêmica se despediu desse profissional comprometido com os princípios e valores de sua profissão e do mestre dedicado:

Nós que tivemos a oportunidade de aprender e conviver com ele sentiremos muita falta do nosso "espetáculo".

Centro Acadêmico de Serviço Social da PUC-Rio

 

Marcelo Andrade (?-2017) _

(29 de outubro de 2017)

Professor do Departamento de Educação, Marcelo Andrade era Licenciado em Filosofia (1995), Sociologia (1996) e História (1996); Mestre em Educação (2000) e Doutor em Ciências Humanas / Educação (2006) pela PUC-Rio. Realizou o Programa de Doutorado no Exterior - PDSE/CNPq na Universitat de València, Espanha (2005). Marcelo foi Coordenador do Grupo de Estudos sobre Cotidiano, Educação e Culturas (GECEC) e, desde julho de 2016, era vice-decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) da PUC-Rio.

Bolsista do Programa Jovem Cientista (FAPERJ) e de Produtividade em Pesquisa (CNPq), foi também pesquisador associado ao Grupo Iberoamericano de Ética e Filosofía Política (Universitat de València, Espanha); ao Programa Teaching, Learning and Culture (University of Texas at El Paso - EUA) e ao REDISCO: Religions, Discriminations (Université Lyon 2, França).

Foi membro da ONG Novamerica, do Observatório de Educação em Direitos Humanos e do Conselho Diretor do Movimento da Ação da Cidadania. Atuou como professor de ensino fundamental, médio e superior e foi educador popular e pesquisador.  Nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, dedicou-se principalmente aos temas: Didática, Ensino e Aprendizagem; Currículo e Multiculturalismo; Educação e Direitos Humanos e Ética Intercultural. Era associado da ANPEd e participou ativamente da Associação. Integrou o Conselho Editorial da Revista Brasileira de Educação, participou dos GTs de Didática e Filosofia da Educação e foi por diversas vezes membro da comissão de eleição da diretoria da ANPEd e Conselho Fiscal.  

A missa de Ressureição do Professor Marcelo Andrade foi rezada pelo Reitor Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J. na Igreja do Sagrado Coração de Jesus as PUC-Rio.

Manoel Luiz Salgado Guimarães (1952 - 2010) _

O Departamento de História da PUC-Rio une-se a toda a comunidade de historiadores brasileiros na dor pela perda do professor Manoel Luiz Salgado Guimarães.

Querido por todos os que foram seus colegas e alunos, o Professor Manoel Luiz Salgado Guimarães começou o curso de graduação em História na PUC-Rio; graduou-se na UFF (1977); era mestre em filosofia pela PUC-Rio – orientando do professor Eduardo Jardim de Moraes – (1982); era doutor em história pela Freie Universität de Berlin (1987); e era professor do Departamento de História da UFRJ e do Departamento de História da UERJ.

Todos os Departamentos de História do Rio de Janeiro, os Centros de Pesquisa em História do Rio de Janeiro, a Direção da Associação Nacional de História (ANPUH), que Manoel presidiu entre 2007 e 2009, a Regional da ANPUH-Rio de Janeiro, seus colegas, alunos e ex-alunos, seus amigos e sua família convidam para a Missa de 7º dia que será celebrada pelo Professor Manoel Luiz Salgado Guimarães no dia 4 de maio, terça feira, às 12:30 horas na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Campus da PUC-Rio, na rua Marquês de São Vicente 225 (Gávea), no Rio de Janeiro.

Manoel Herrington Wambier (1942 - 1993) _

Wambier, menino do Rio, da TV e do rádio

Crônica publicada em 16/10/2012 no Jornal da PUC, Edição 262

Nesta série de artigos sobre as pessoas que emprestam seus nomes a espaços do campus da PUC-Rio os denominadores comuns são o reconhecimento do papel desempenhado na Universidade e a saudade.

Esse é o caso da homenagem ao professor Manoel Wambier, que batiza os laboratórios de rádio e TV do Departamento de Comunicação da PUC-Rio desde 1998.

Amigos de diversas épocas e lugares publicaram relatos que ajudaram a compreender melhor a personalidade de Wambier. Nesses relatos e em matérias publicadas no Jornal da PUC surge a figura do “menino do Rio”, da praia, das festas, da música. No depoimento do professor Miguel Pereira, que o trouxe para o Departamento de Comunicação em 1981, aparece o professor muito próximo aos alunos e ao mesmo tempo muito rigoroso. No discurso da profa. Lenira Alcure na inauguração dos laboratórios, ela resume: “Eterno menino do Rio, com seu jeitinho malandro e doce de quem nunca abandonou a infância, dá sentido à inauguração dos nossos estúdios de rádio e TV, pois foi ele o seu primeiro idealizador.” Ressalta ainda o “espírito conciliador e a coragem de enfrentar os maiores desafios”. Um amigo dos anos 1970, Luiz Sergio Nacinovic, assim descreve Wambier: “cara de bugre saído de quadro clássico de Almeida Júnior”, resultado da mistura da bisavó índia com imigrantes alemães.

Manoel Herrington Wambier, nascido em Ponta Grossa, Paraná, em 1942, iniciou sua carreira como locutor de rádio em Curitiba, onde estudava Filosofia.  Em 1963 já apresentava o principal telejornal da TV Paraná. Um episódio definiu sua saída de Curitiba e a vinda para o Rio: no telejornal, ao preparar-se para ler uma notícia sobre uma greve de gráficos e jornalistas duramente reprimida, viu que o texto era tendencioso e traduzia a visão do grupo empresarial que incluía jornais e o canal de TV no qual trabalhava. Ao vivo, o jovem locutor com espírito de menino que vê e fala, declarou “isso eu não leio, porque não é verdade”. Perdeu o emprego.

Veio para o Rio e trabalhou como locutor e depois redator-chefe da Rádio Globo, onde conheceu o prof. Miguel Pereira, que pesquisava nos arquivos do jornal O Globo. Wambier completou o curso de Filosofia na UFRJ em 1969, um período conturbado da vida nacional. Foi para a Alemanha onde passou sete anos, dominou a língua e trabalhou como locutor, redator e tradutor para a Deutsche Welle, e como tradutor e dublador de filmes.

Ao chegar na Alemanha foi recebido com suspeita pela comunidade de exilados brasileiros por não ter um passado de militância política explícita. Ganhou o apelido de "O Espião de Colônia", história contada pelo jornalista Osvaldo Peralva em livro que reuniu crônicas publicadas nos anos 1980. Logo o menino que fazia amigos com a facilidade da infância superou a desconfiança, que deu lugar a reuniões para as quais Wambier preparava “uma sopa de lentilhas para chef germânico nenhum botar defeito”, seguindo a tradição de boa cozinha transmitida por sua mãe.

Voltou para o Brasil, foi diretor da Rádio Roquette Pinto, do jornalismo da TV Bandeirantes no Rio de Janeiro e do núcleo de programas especiais da Rede Manchete. No Departamento de Comunicação da PUC-Rio ajudou a definir as disciplinas relacionadas a rádio e TV e a montar os laboratórios. Coordenava os programas de rádio e depois de TV produzidos pelo Departamento.

Se da mãe herdou a habilidade culinária, com o pai aprendeu a mexer com eletrônica. Era capaz de construir e consertar rádios. Na PUC-Rio desenvolveu um pequeno transmissor e fez experiências para implantar uma rádio que transmitisse a programação produzida pelos alunos de Comunicação. Testou a transmissão do sinal de rádio do alto do Edifício Cardeal Leme para os outros prédios da Universidade. Não foi possível colocar a rádio no ar por limitações técnicas e legais, por isso criou e coordenou uma rádio transmitida nos pilotis através de alto-falantes. Havia na programação radionovelas, música e programas produzidos pelos alunos.

Wambier faleceu em 1993. O sentimento da jornalista Dalva Ventura é de que ele foi plenamente feliz no Rio de Janeiro: “Não perdia uma praia, sempre no final da tarde e, nos finais de semana, preparava almoços antológicos para nós e uma galera de agregados. Que eram muitos.” Os amigos da PUC-Rio estavam entre eles, presentes naqueles dias de sol de Ipanema e atentos às orientações do professor próximo, mas exigente, que dizia sem hesitar: “Isso não está certo. Corrija”.

É justo que essa edição comemorativa dos 60 anos do curso de jornalismo na PUC-Rio volte a homenagear o professor Wambier e que todos nós relembremos que os laboratórios de rádio e TV do Departamento de Comunicação da PUC-Rio levam seu nome.

Clóvis Gorgônio
Núcleo de Memória da PUC-Rio

Luiz Fernando Gomes Soares (1954-2015) _

Luiz Fernando Gomes Soares, Professor Titular do Departamento de Informática e coordenador do Laboratório de Telemídia da PUC-Rio, faleceu no dia 8 de setembro, aos 61 anos, em decorrência de um ataque cardíaco. Líder do grupo que desenvolveu o middleware Ginga, um formato de interatividade para o sistema brasileiro de TV Digital, o professor conquistou o Prêmio Assespro 2008 como Personalidade do Ano, assim como o Prêmio Cientistas do Nosso Estado, como Pesquisador Inovador, no ano de 2005, e o Prêmio Newton Faller da Sociedade Brasileira de Computação, em 2006.
Luiz Fernando possuía Graduação e Mestrado em Engenharia Elétrica e Doutorado em Informática pela PUC-Rio. Cursou o Pós-Doutorado na École Nationale Supérieure des Télécommunications, na França, também em Informática. Publicou aproximadamente 200 artigos acadêmicos e orientou cerca de 90 alunos de Mestrado e Doutorado. Era pesquisador 1A do CNPq.

As pesquisas que desenvolveu sobre a linguagem NCL e o Ginga deram origem a duas Normas ABNT e a uma Recomendação ITU-T, fundamentais para a interatividade entre usuários e a TV Digital. Membro titular da Academia Nacional de Engenharia, além de atuar no Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, Luiz Fernando Gomes Soares fazia parte do Comitê Gestor da Internet no Brasil e do Núcleo de Coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Era também Conselheiro da Sociedade Brasileira de Computação, onde chegou a ocupar os cargos de presidente e vice-presidente, de 1999 a 2003.

No dia 9 de setembro a notícia se espalhou pelo campus da PUC-Rio e deixou todos perplexos e consternados. A mensagem do Professor Hugo Fuks, diretor do Departamento de Informática, não permitia dúvidas quanto ao que parecia impossível de acreditar, assim como deixava transparecer com toda a clareza a dor com que havia sido escrita:

É com imenso pesar que o Departamento de Informática comunica a perda do seu querido Professor Luiz Fernando Gomes Soares no dia de hoje. Em sua homenagem, todas as atividades do Departamento estão suspensas nesta quarta-feira, dia 09 de setembro de 2015.

Imediatamente as respostas se multiplicaram, vindas de todos os departamentos e centros, da Administração Central da Universidade, de dentro e de fora da PUC-Rio, de todas as agências acadêmicas e políticas ligadas à ciência em geral e à Informática em particular, inclusive do Governo Federal. Todas elas vinham carregadas de afeto e de respeito intelectual pelo Luiz Fernando. Nenhuma era formal ou protocolar. Cada uma punha de manifesto o vazio que essa morte tão inesperada deixa na Universidade, no país, na ciência e na vida de todos os que aprendemos a respeitá-lo intelectualmente e a querê-lo bem.

E quando seus alunos – que, na véspera, como faziam todos os dias, haviam almoçado com ele no restaurante da Universidade – desceram a rampa da Igreja e atravessaram o jardim do campus soluçando, enquanto carregavam seu corpo, o silêncio pesado da dor de todos nós falou mais alto que qualquer discurso, até que um aplauso prolongado tomasse seu lugar.

Luiz Fernando Gomes Soares, o LF, para seus amigos, fez toda a sua carreira acadêmica na PUC-Rio, da Graduação ao Doutorado, e nesta Universidade trabalhou a vida inteira, até que nos deixou tão cedo, aos 61 anos, e com tanto para contribuir para a ciência e para a vida.

Como poucos, o LF soube juntar prazer e ofício. Era um professor muito querido por seus alunos, um pesquisador de rara competência e também um cidadão empenhado em trabalhos sociais. Firme em suas posições, íntegro e generoso, era também divertidíssimo, como podem testemunhar seus companheiros do time de futebol – que, por décadas, ocupou a quadra do antigo Ginásio –, dos serões musicais, das festas onde dava provas de dançar como poucos. Ainda que isso não conste de seu curriculum Lattes, LF contava que tinha sido “os pés do Edson Celulari” nas cenas de dança da novela Kananga do Japão. Não sem razão, um de seus principais projetos acadêmicos, aquele que levou à criação de um middleware que define o padrão da TV digital no Brasil e em diversos países, recebeu o nome de Ginga.

(Departamento de Informática) (+8 de setembro de 2015)

Luiz Fernando Favilla Carrilho (?-2019) _

(10 de abril de 2019)

Graduado em Comunicação Social pela Universidade Gama Filho (1978), com especialização em Linguagem e Comunicação em Práticas Profissionais (lato sensu) pela PUC-Rio (2008) e mestrado em Design (2011) também pela Universidade, o prof. Luiz Fernando Favilla Carrilho era professor do quadro complementar da PUC-Rio e orientava os projetos de conclusão de graduação em Comunicação Social. Era também o diretor de criação da Agência.Com, a Agência de Publicidade da PUC-Rio.

Publicitário por formação, Favilla tinha alma de poeta, de acordo com seus companheiros de Departamento: “Extraía do cotidiano um jardim de imagens autênticas, encantadoras, divertidas. Mesmo nos dias difíceis, acalentava a vocação de distribuir histórias e afetos – nas aulas, nos pilotis, na Agência, na vida.” “Esse professor nos ensina para o mundo”, resumiam os estudantes.

A Folha de São Paulo o descreveu como “o inquieto professor da PUC do Rio que gostava de se reinventar e motivava alunos, amigos e familiares a desenvolverem seu potencial”. Segundo o jornal, “Para Luiz Favilla, mesmo que levasse tempo, cada pessoa precisava encontrar seu lugar no mundo. Algo que ele próprio buscou fazer”.

Luiz Felipe Guanaes Rego (2022) _

Formado em Geografia e Meio Ambiente pela PUC-Rio, doutor em Recursos Naturais pela Universidade Albert-Ludwigs, de Freiburg, Alemanha, Luiz Felipe Guanaes Rego (-26/02/2022) faleceu aos 59 anos de idade. Era professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente e Diretor do NIMA (Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente) da PUC-Rio. Seu interesse em pesquisa incluiu modelos do espaço geográfico em SIG para apoiar as análises, atividades e monitoramento do processo para a sustentabilidade da terra no nível local. Desenvolveu sistemas automáticos de gerenciamento de hortas ecológicas de produção contínua em ambiente urbano. Coordenou a Rede de Ambiente e Sustentabilidade da Associação de Universidades Jesuítas da América Latina, AUSJAL. Coordenou a Rede Brasileira de Soluções em Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa das Nações Unidas (SDSN Brasil).

Segundo o Reitor Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J., Guanaes foi

Uma pessoa que viveu a vida com tanta intensidade, colocando amor, verdade e sabedoria em cada gesto e ação na missão que fazia na Universidade. Nunca vi Luiz Felipe não vibrando com a missão que recebia de mim para contribuir com a Universidade, desde que o conheci na década de 90.

Luiz César Povoa (1937 - 2012) _

Luis César Póvoa, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC-Rio, era Professor Emérito da PUC-Rio e Professor Titular da UFRJ; atuava no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, que ajudou a criar; era consultor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e membro titular da Academia Nacional de Medicina. Era também membro de instituições internacionais como a American Endocrine Society e da British Society of Endocrinology. Entre suas publicações, o livro História da Endocrinologia Brasileira ocupa um lugar especial.

Um de seus muitos ex-alunos, o Dr. Rodrigo O. Moreira, publicou no site da Sociedade Brasileira de Diabetes um texto de despedida em que diz lembrar-se do Professor Povoa afirmando, em sala de aula na PUC-Rio: “Vou morrer com meus amigos e alunos. Vou morrer junto a tudo o que criei. E acho bom ninguém tentar mudar isso.” De certa forma sua vontade foi cumprida. Partiu cercado por seus amigos, por seus alunos, ex-alunos e após abrir o 41° Encontro Anual do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, evento que lhe era especialmente caro. Tal como queria. Flamenguista apaixonado, foi velado na sede do Clube que era uma de suas grandes paixões.

Luiz Cesar Monnerat Tardin (1953 - 2011) _

O Prof. Luiz César Tardin (13/05/1953 - 05/03/2011) formou-se em Direito pela PUC-Rio em 1978 e obteve o título de mestre em Ciências Jurídicas também pela PUC-Rio em 1985. Em 2000 formou-se em Teologia na PUC-Rio. Além de professor de Cultura Religiosa, desempenhava várias funções na PUC-Rio, tais como as de Coordenador Central de Estágios, Coordenador Geral do Projeto Unicom, Coordenador do Núcleo UniTrabalho da PUC-Rio, Coordenador Geral da Revista Virtual da revista ERGON, Membro do conselho diretor do Centro Loyola de Fé e Cultura e Diretor Administrativo da Revista Atualidade Teológica. Era ainda o representante da PUC-Rio no Conselho da Cidade do município do Rio de Janeiro na Câmara Trabalho e Emprego.

Depoimentos de amigos e ex-alunos do Professor Tardin:

A falta que faz o Prof. Luiz Cesar Monnerat Tardin

Caros Colegas, Professoras e Professores da PUC,

Diante da missa de sétimo dia amanhã para o Prof. Luiz Cesar Monnerat Tardin, um amigo que eu prezava muito, quero acrescentar a minha voz à dos colegas que fizeram elogios dele. Já o conheci quando ele era estudante de graduação, já naquela época uma pessoa que tinha idéias novas e boas que colocava em prática.

Como professor, fez muitas contribuições à Universidade. Ao longo dos anos, levou muitos alunos à Amazônia para que se sensibilizassem da realidade do País, da necessidade de ajudar os pobres. Organizou a atuação da comunidade da PUC na Rocinha. Diante dos desastres recentes na região serrana, articulou uma ação de socorro aos flagelados feita pela comunidade da PUC. Inventou a Mostra PUC, que divulga a PUC mais que qualquer outro evento, ajudando os alunos de obter estágios e trazendo muitos jovens bons a estudar na PUC. Sempre promovia ações para conscientizar as pessoas sobre tarefas urgentes para a sociedade, tais como o tema da última Mostra PUC, a limpeza da Baía de Guanabara.

Pensando de Luiz Cesar, me lembro de uma frase famosa de meu compatriota Robert Kennedy (que a atribuiu ao dramaturgo George Bernard Shaw), frase essa que para mim retrata o grande valor da vida e da atuação do nosso querido professor: "Some people see things as they are and say why? I dream things that never were and say why not?"

Luiz Cesar constantemente pensava de novas maneiras que ele poderia atuar para enriquecer e melhorar as vidas de todas as pessoas ao seu redor.

A PUC vai sentir muito a ausência de suas contribuições, de suas iniciativas, de suas idéas inovadoras. Que ele, junto ao Pai que nos criou, possa pedir por nós e pela Universidade que tanto amou e tanto serviu.

Agradeçamos a Deus pela presença tão importante que ele exerceu por tantos anos entre nós. Que o exemplo dele nos leve a imitá-lo em nossa atuação.

Um abraço solidário,
Prof. Pe. Paul Schweitzer S.J., Departamento de Matemática da PUC-Rio

 

Meu Caro Amigo

Dizem que ninguém é insubstituível. Mas dizem também que toda regra tem a sua exceção. O Professor Luiz César era provavelmente uma exceção a essa regra, assim como a muitas outras. Nosso Caro Amigo, como era carinhosamente chamado por alguns de seus pupilos, atendia também por Professor Tardin, César, Cesinha, Tardin, Luiz César e Monsieur.

A sua tripla e sólida formação – em Teologia, Direito e Música – esconde, de certo modo, a sua verdadeira tripla e forte atuação: como Educador, Empreendedor e Humanista. Além disso, sabia viver, e gostava de viver; era um verdadeiro bon vivant. Mas não perdia jamais a referência do fazer o bem, a quem quer que fosse, e de cultivar incansavelmente os mais importantes valores da fé cristã e da bondade humana.

Através da Igreja, encontrou sua vocação de Educador, e a tomou como principal Missão nesta vida terrestre. A veia Empreendedora era latente e presente em toda parte: na sua Fazenda, sem dúvida, com suas vaquinhas e sua paixão pelo café; mas também e, sobretudo, na PUC e na ONG Sociedade Brasileira para a Solidariedade, a SBS. O lado Humanista era transversal, presente, portanto, em todas estas e outras atividades, pessoais ou institucionais.

A Mostra PUC talvez seja o maior exemplo do cruzamento destas três virtudes do Professor Luiz César. Em poucos anos, ele conseguiu tornar a idéia de uma simples Feira de Estágios no maior evento da PUC-Rio, com ofertas de estágio, evidentemente, mas também workshops, palestras, e eventos artísticos, culturais e sociais, para toda a juventude, além de um Prêmio de dimensão internacional, para custeio de projetos acadêmicos voltados para as questões sociais. E sempre fez questão de deixar alunos da graduação na linha de frente da organização do evento, como forma de aprendizado através da vivência, o que, aliás, sempre estimulou, apesar do re-trabalho que certamente lhe dava todos os anos ao renovar a equipe coordenadora da Mostra PUC.

Grande admirador das Artes e da História, ele sabia tudo sobre as Grandes Guerras e os Grandes Imperadores, desde Alexandre o Grande, passando pelos Imperadores Romanos, seu xará César inclusive (Ave César!), até Napoleão Bonaparte. A admiração pela Arte da Guerra permitiu, por contradição, ironia, ou pura consciência, ser um grande estrategista para enfrentar a maior batalha dos dias de hoje: a Desigualdade Social. Mas ao contrário dos Grandes Imperadores, sua principal arma de batalha era o Amor. Através do Amor, era capaz de enfrentar a terrível violência que afronta o nosso País e, de maneira particular, a nossa Cidade do Rio de Janeiro. “Violência” certamente em sentido amplo: desde daquela gerada pelo tráfico de drogas nos morros, passando pela violência familiar, para chegar até a violência de oportunidade. “Oportunidade”. Taí uma palavra que o César muito apreciava. Ele certamente, neste instante, nos corrigiria: “Falta de Oportunidade, meu caro”.

A Falta de Oportunidade nos leva à Solidariedade, e aqui encontramos talvez o seu maior legado: a Consciência Social. Vivemos num mundo de muitos, dividido por poucos. A falta de acesso, a falta de oportunidade, a falta da falta, eram preocupações permanentes na vida do nosso Caro Amigo. Através da sua ONG SBS e do Projeto UNICOM promovia, no auge dos seus 1,60m, um agressivo programa de inclusão social. Reforço pedagógico, atendimento jurídico, atendimento psicológico, atendimento médico (geral, odontológico e geriátrico!), cursos profissionalizantes como Cozinhando o Futuro. O que a máquina do Estado teria a obrigação de fazer, o nosso Caro Amigo inventava a roda para oferecer de graça à população de baixa renda. Como repetia um de seus muitos pupilos: “nos pequenos frascos, encontramos os grandes perfumes”. Isto tudo instrumentalizado por uma forte veia política, que potencializava estas atividades, sem falar nas suas famosas, diversas e freqüentes campanhas de conscientização social: a Marcha pelo Trabalho, de Olho no Congresso, a Baia Nossa da Guanabara, a recente Campanha pelos desabrigados de Nova Friburgo, dentre tantas outras.

Ao fazer tudo isto, César semeava sonhos e esperança na juventude, e ensinava através de suas ações que nós não somos do tamanho da nossa altura, mas sim do tamanho da nossa imaginação, e daquilo que podemos enxergar, e fazia isso sendo ele próprio o exemplo.

No campo da relação entre a Vida e a Morte, encontramos mais uma grande lição. Sua inabalável fé cristã e elevada espiritualidade o permitiam lidar com muita naturalidade com este assunto. Durante seu curso de Ética Profissional, para os alunos de Direito, costuma separar uma aula por semestre para levar os alunos ao cemitério São João Batista: “na semana que vem, nossa aula será no cemitério São João Batista!”, dizia ele, para desespero da maioria. Evidentemente, muitos alunos não apareciam no dia. Diziam que era “maluquice”. Estavam preocupados em decorar as leis e os artigos dos códigos, ou então em chegar mais cedo nos seus sagrados estágios, nos mais renomados escritórios de advocacia. Mas uma parte dos alunos sempre comparecia ao cemitério, e não conhecemos um só que tenha se arrependido de ter ido. Alguns afirmam, aliás, que foi a aula mais marcante que tiveram durante a Faculdade de Direito. Na entrada do cemitério, ele dizia: “eu trouxe vocês aqui para vocês pensarem a relação entre a Vida, a Morte, e o Direito. Circulem pelo cemitério, e reflitam sobre esta relação, e daqui a pouco conversamos, nos encontramos aqui de volta em 30 minutos”. Na volta, os mais diferentes e interessantes relatos eram dados pelos alunos – desde depoimentos técnico-jurídicos a respeito de Sucessões e Direito de Família, até ricos relatos pessoais, engasgados muitas vezes pela correria do nosso dia-a-dia, e pela falta de espaço para tratar de questões tão essenciais como a “Vida e a Morte”.

E assim ele nos deixa, de forma prematura, desta vida terrestre. Alguns desavisados podem pensar “que pena, não tinha filhos, nem esposa, nem pais vivos, apenas uma irmã e primos”. Mas o engano é tamanho. Deixou herdeiros de todas as idades, de todas as cores, de todas as formas e formações. Herdeiros que hoje formam o seu Batalhão, e que continuarão sua Luta, com a sua poderosa arma do Amor, contra as injustiças e as desigualdades que assolam este Mundo, por vezes cruel, dos Homens na Terra.

Texto escrito por ex-alunos, e eternos pupilos, do Professor Tardin:

- Fernando Carvalho (Desenho Industrial)
- José Pedro Pradez (Engenharia)
- Leonardo Moreira (Informática)
- Marcos de Oliveira Gleich (Direito)
- Paulo Burnier da Silveira (Direito)
- Raphael Trindade (Direito)
- Ricardo Calheiros (Informática)

 

Lembrando Luiz Cesar Tardin

Conheci Luiz Cesar nos encontros do Movimento Universidade a Serviço do Povo-MUSP, iniciado pelo nosso saudoso Pe.Agostinho Castejon, nos anos 70, na PUC. Quando assumi a Coordenação Central de Estágios-CCESP, em dezembro de 1980, ele participava das atividades do MUSP, já incorporado à CCESP, para a melhoria da qualidade de vida em algumas comunidades de baixa renda. Acompanhava estagiários de direito, especialmente em Senador Camará e, mais tarde, em Acari.

Lembro-me das suas sugestões ousadas para as atividades internas da CCESP, que me assustavam, nos anos 80, mas que me levaram a indicá-lo para assumir esta Coordenação, quando dela me retirei para concluir minha Tese de Doutorado, em 1990. A originalidade, com que Luiz Cesar desenvolveu estas funções bem como o enriquecimento que elas trouxeram para a PUC nestes vinte anos, pode ser avaliada por todos nós que as acompanhamos e pelos alunos e ex-alunos que dela tem-se beneficiado. Como bem lembrou Pe. Paul, a concretude das atividades da CCESP, fez-se sentir, durante estes últimos anos, desde a Rocinha até toda a cidade do Rio de Janeiro e promoveram estágios de nossos alunos bem mais longe, na Amazônia. Isso aconteceu: quer em seu aspecto de atividade social em favor dos menos favorecidos junto com Jesuítas locais, quer para o reconhecimento da importância da ação de nossas forças armadas (especialmente do Exército, naqueles lugares de enorme importância nacional, mas distantes dos centros mais populosos), quer para o ingresso no mercado de trabalho, dos nossos jovens profissionais. A abrangência e variedade das ações puderam ser observadas pessoalmente por mim, desde a favela da Gávea, até o curso que fiz junto com alunos e professores da PUC-Rio, para a sobrevivência na Selva, em um dos muitos batalhões do Exército visitados, nos estados do Amazonas e Roraima, em 2003.

Também pude participar de perto, a seu convite, em 2010, das atividades por ele estimuladas, com o objetivo de ações múltiplas, para a melhoria física da nossa Baía da Guanabara. Como Raul Nunes, eu temia suas valentes incursões, neste caso, junto às escolas públicas das Secretarias Municipal e Estadual de Educação do Rio de Janeiro, importantes como campo de pesquisa para o Departamento de Educação da PUC-Rio. Confesso que, mesmo tendo constatado sempre que, no fim, tudo valeu a pena, o arrojo de Luiz Cesar, muitas vezes me assustava.

Enfim, dou Graças a Deus por Luiz Cesar ter vivido entre nós!

Abençoado seja o seu nome e perdoados os pecados que, porventura, tenha cometido na sua  ânsia de fazer o bem!

Hedy Silva Ramos de Vasconcellos
Professora Emérica do Departamento de Educação da PUC-Rio

 

Tardin – cidadão coragem

Prezados colegas,

Fui contemporâneo de graduação do Tardin, ele no Direito e eu na Física: ele no Movimento Pastoral e eu, no Estudantil; era o ano  de 1975. Desde esta época, o Tardin apresentava uma capacidade de liderança e dedicação a causas com temas abrangentes, e arriscados, como Justiça, Liberdade e Solidariedade. Para entender o jovem Tardin é preciso saber  que ele é de origem de um “clã” que tem um cardeal Tardini (assessor do papa João XXIII, Secretário de Estado e Presidente da Comissão Preparatória do Concílio Vaticano II) e uma militante de esquerda Elza Monnerat (do PC do B, integrante da guerrilha do Araguaia). Ele não falava sobre estas coisas, mas isto fazia parte de sua experiência de vida. Anos difíceis aqueles de nossa graduação... Mas, já nestes anos, o Tardin exibia a sua habilidade para tocar projetos sociais de natureza inclusiva, sem perder a visão política, mas também sem deixar que os mesmos fossem instrumentos de propaganda política de qualquer corrente interna ou externa à igreja católica. Ele era universal.

Para tentar ilustrar um pouco sobre o Tardin, cidadão coragem que muitos desconhecem, relato aqui dois momentos marcantes desta época envolvendo eu e o Tardin:

1.      Em 1976, participamos de um evento da FEUCAL (Federação de Estudantes Católicos da América Latina), que se realizou em Petrópolis: um estranho evento, com pouca divulgação, para o qual o Tardin insistiu em que eu participasse, mesmo não sendo católico praticante. Para me convencer a participar, ele afirmou, e repetiu isto muitas vezes, “que eu era mais católico do que muito católico”. Um grupo de alunos da PUC-Rio foi ao evento com o intuito de não deixar que envolvessem o nome da PUC-Rio em algo não fosse a expressão das idéias e compromissos de seu grupo Pastoral. Neste evento, encontramos um pequeno grupo de “estudantes” chilenos, argentinos e da católica de Campinas, cuja faixa etária era superior a dos demais, que faziam barulho e uma pregação vamos dizer assim conservadora e contra o que preconizava o Concílio Vaticano (seus discursos eram cheios de menções ao diabo e aos comunistas...). O grupo da PUC-Rio logo se destacou na contraposição às teses deste grupo e, em determinado momento, quando eu fazia uso da palavra, vieram para cima de mim com fúria, quase para o linchamento. Foi a intervenção do Tardin e demais companheiros que impediram a consumação do mesmo. Saímos dali protegidos por alguns amigos, mas satisfeitos por termos sido em parte vitoriosos. De volta ao Rio, vemos nos jornais o retrato falado dos sequestradores do bispo dom Adriano Hypólito. Estes retratos nos indicavam claramente que aquele grupo que estava neste evento tinha participado do sequestro de dom Adriano. O que fazer??? Lembro aqui que eram dias difíceis, isto aconteceu no final de 1976. Através do Tardin, fizemos chegar à CNBB e à OAB a informação sobre os  personagens do sequestro de dom Adriano. Não soube até hoje, e portanto nunca saberei, se a insistência do Tardin para que eu participasse do encontro teria sido reforçada por alguma “inside information” sobre o encontro da FEUCAL ou se foi apenas pela amizade e confiança que existia entre nós.

2.      Em 1977, estava em organização um Encontro Nacional de Estudantes, seria o primeiro após a extinção da UNE. Classificávamos este encontro como um movimento necessário no sentido de testar os limites do regime militar e de seu processo de abertura. Não controlávamos esta iniciativa, mas não podíamos ignorá-la. Estávamos preocupados com os desdobramentos possíveis de sua realização. Só para relembrar, naquele ano, um ano após o sequestro de dom Adriano, por determinação do Comandante do 1° Exército, foi cancelada uma conferência sobre Direitos Humanos, para constituição de uma Comissão de Justiça e Paz na Diocese de Nova Iguaçu (finalmente criada em 1978). Se uma iniciativa de uma diocese para tratar de direitos humanos havia sido proibida, o que poderíamos esperar de um encontro nacional de estudantes? Certamente algo pior... Um dos pontos da pauta do encontro era a criação da UNE, ponto este que éramos contra (os diretórios do CTC, então com a gestão da chapa da Unidade). Éramos contra naquele momento, pois não existiam diretórios nas universidades. Diante disto, esta era mais uma das razões pela qual não podíamos deixar de participar. Antes de partir para Belo Horizonte, nos reunimos com o Vice-Reitor Comunitário onde expomos nossas posições e preocupações. Avisamos a que horas partiríamos da Vila dos Diretórios da PUC-Rio para chegarmos a Belo Horizonte no início da manhã. Tarde da noite, no horário de nossa partida, a Vila cheia de estudantes, aparece para se despedir de nós, e manifestar preocupação com nossa viagem e com o evento, o Tardin e o Vice-Reitor Comunitário, o Pe. Mendes. Claro que o congresso não se realizou, fomos presos na estrada. Não só nós, mas todos os jovens que viajavam desacompanhados em ônibus, avião ou carro, foram retirados destes veículos e levados para a cadeia, muitos nem sabendo da existência do tal Encontro... Quando o primeiro de nós conseguiu sair da cadeia, avisou ao Tardin e este ao Vice-Reitor Comunitário, Pe. Mendes. Ao retornarmos de Belo Horizonte, soubemos que o Pe. Mendes, irmão do general Ivan de Souza Mendes, na época chefe do SNI, havia falado com seu irmão e recebido a notícia de que a situação estava sobre controle. A situação sobre controle significou que ninguém “foi desaparecido”. De fato a única consequência foi o enquadramento de alguns na lei de Segurança Nacional, processo este que acabou sendo arquivado com o avanço da “abertura”. Tardin, como sempre, por sua característica, acompanhou tudo sem aparecer muito e ainda ajudou a orientar os que foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

Depois, já nos anos 80, no período pós anistia, Tardin participava de projetos associados à Comissão de Justiça e Paz e de Pastorais Penais. Em suas várias atividades sociais em comunidades tais como Dona Marta, Rocinha, Acari, Senador Camará, dentre outras, teve de conviver com a organização dos bicheiros e dos traficantes. No período do governo Brizola e sua “política de direitos humanos para a favela”, a polícia, já deformada pelo arbítrio do regime militar, foi muitas vezes utilizada como braço político de alguns. Esta polícia ao subir na favela, prendia pequenos traficantes, batia e depois avisava que isto não iria parar a menos que eles se tornassem “cabos eleitorais”. Em muitas subidas da polícia, o Tardin foi  acionado por membros da comunidade para comparecer à delegacia e tentar garantir que o preso não mais apanhasse. O incrível é que isto funcionava, e o Tardin teve que fazer isto muitas vezes. Mas, como sempre, ele pouco falava sobre isto.

Mais recentemente, já neste século, a convite do Tardin e por nomeação do Pe. Hortal, participei de uma comissão da PUC-Rio, cedida para a CNBB, com a missão de realizar um estudo sobre a viabilidade de se criar uma Instituição de Ensino Superior Católica na Amazônia. Neste período de realização do trabalho da comissão, tive a oportunidade de testemunhar o excelente trabalho que o Tardin realizava, principalmente em Manaus, junto à Diocese de lá, não somente em trabalhos sociais, mas também na área do direito junto à Pastoral Penal e à Comissão de Direitos Humanos. O Tardin, através do UniCom, ajudava a apoiar o trabalho legal destes grupos, organizando os processos dos presos e propiciando apoio àqueles que já haviam cumprido a sua pena, mas ainda se
encontravam presos, ou aos que estavam com seus processos parados por falta de apoio jurídico. Neste trabalho de estudo e prospecção sobre a viabilidade de constituição de uma IES Católica na Amazônia, pude perceber o enorme respeito dos bispos de Porto Velho, Manaus e Belém pelo Tardin, e também pela PUC-Rio. Pude perceber como a PUC-Rio era maior do que eu tinha noção e o quanto o Tardin era responsável por isto.

Talvez nem todos na PUC-Rio endossassem algumas de suas iniciativas, mas entendo que isto é uma questão menor relacionada com aqueles que não procuravam conhecer a dimensão e profundidade de seu trabalho. Não tenho dúvidas em afirmar que a universidade perdeu um grande empreendedor das causas da justiça, liberdade e solidariedade. Meu sentimento é de que a PUC-Rio ficou menor.

Finalmente, extremamente consternado com esta perda súbita, só consigo  pensar em como ele fará falta e em agradecer sua existência e de ter podido desfrutar de sua amizade.

Raul A. Nunes
Professor do Depto. de Engenharia de Materiais - PUC-Rio

 

 

Luiz Carlos Scavarda do Carmo (?-2021) _

O prof. Scavarda esteve com a PUC-Rio desde quando iniciou sua graduação em Telecomunicações, seguida pelo mestrado e pelo doutorado em Física. Tornou-se professor do Departamento e nele atuou até recentemente. Foi decano do CTC, entre 1993 e 1999, e Vice-Reitor Administrativo por mais de uma década. Trouxe para o CTC o foco no ensino de Engenharia. Na década de 1990, foi um dos mentores do programa REENGE - Reengenharia da Educação em Engenharia, que teve forte impacto sobre os currículos de Engenharia no Brasil. Reconhecido nacional e internacionalmente, Scavarda foi Membro da Academia Nacional de Engenharia e da Academia Pan-Americana de Engenharia. Foi membro do conselho superior da FAPERJ, do Comitê Gestor da CNI e do Conselho de Tecnologia da FIERJ. Interessado na difusão da Ciência e na aproximação entre a Universidade e as escolas, criou o PIUES  Programa de Integração Universidade-Escola, nos anos 1990.

Segundo o prof. José Ricardo Bergmann, Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos:

Como Decano do Centro Técnico Científico, Scavarda enfrentou importantes desafios como a reestruturação do Centro, a renovação do Ensino da Engenharia - que trouxe importantes contribuições como as disciplinas hands-on, destinadas à solução de problemas reais - e a implantação de um programa inovador de empreendedorismo, temas em que teve destacada atuação, obtendo reconhecimento nacional e internacional.

Nota do Prof. Sidnei Paciornik, decano do Centro Técnico Científico:

Tive o prazer de ser seu orientado desde a Iniciação Científica, a partir de 1979, até o final do doutorado, em 1988. Muito mais do que um orientador acadêmico, Scavarda se tornou um grande amigo. Criativo, profundamente culto, conviver com ele sempre foi uma aula, um banho de conhecimento e de alegria.

Scavarda combinava, como poucos, competência técnica com dotes artísticos, sendo um grande amante da música. Pessoa carinhosa, simpática, ao lado de sua amada esposa Anita criou uma família especial, amorosa e íntegra. Fará enorme falta em nossos corações.

Leandro Augusto Marques Coelho Konder (1936-2014) _

O Professor Leandro Konder formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e também na UFRJ obteve o título de doutor em Filosofia, em 1984. Chegou a atuar como advogado criminalista e também trabalhista, carreira interrompida pelo golpe militar de 1964. A saída forçada do país o levou a viver na Alemanha, onde trabalhou na Universidade de Bonn, e na França. Apenas em 1978 retornou ao Brasil. Foi professor do Departamento de História da UFF, de 1984 a 1997, e, desde 1985, lecionou no Departamento de Educação da PUC-Rio.

Com 21 livros publicados, deixou vasta produção também como conferencista, articulista, ensaísta e ficcionista. Um dos maiores estudiosos do marxismo no país, publicou inúmeras obras em Filosofia, Sociologia, História e Educação. Autor de dois romances, A morte de Rimbaud e Bartolomeu, em 2008 publicou Memórias de um intelectual comunista. O Prof. Daniel Aarão Reis, do Departamento de História da UFF, afirmou que “A inteligência do Leandro está em seus livros e artigos publicados, poderemos sempre visitá-la.”.

Foi o “doce filósofo marxista de olhos azuis, sempre afetuoso”, como a ele se refere a Professora Maria Clara Bingemer (TEO) em artigo para o Jornal do Brasil, o “comunista gentil”, como o qualifica o amigo Francisco Daudt, em emocionada despedida na Folha de São Paulo.

A Profa. Sonia Kramer, do Departamento de Educação, registrou seu sentimento em mensagem compartilhada na rede da PUC-Rio:

Convivi com o Leandro desde 1988, quando fui sua aluna e orientanda de doutorado, e, desde então, nos tornamos grandes amigos. Leandro me ensinou a simplicidade, a sabedoria, a escuta, a pergunta, a presença, a elegância, o humor. E agora a saudade.

(Departamento de Educação) (+12 de novembro de 2014)

Lara Nogueira da Silva Leal (1973-2019) _

(26 de janeiro de 2019)

Lara Nogueira da Silva Leal, desenvolveu sua carreira acadêmica na PUC-Rio, onde graduou-se em História, em 1996, e tornou-se mestre e doutora em Letras (2005 e 2009). Era pós-doutoranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade e, nessa condição, compartilhava com seu orientador, o prof. Alexandre Montaury Baptista Coutinho, um curso no Departamento de Letras.

Lara morreu muito jovem, aos 45 anos. Era casada com o Prof. Marcelo Tadeu Baumann Burgos, do Departamento de Ciências Sociais. Seu filho mais velho, Tobias, é aluno do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio e seu filho caçula, Heitor, é aluno do Colégio Teresiano, colégio de aplicação da PUC-Rio.

Deixa na PUC-Rio muitas saudades entre seus colegas, amigos e professores.

Laércio Dias de Moura S.J. (1918 - 2012) _

O Padre Laércio faleceu no dia 18/04/2012, na Casa de Saúde da Companhia de Jesus em Belo Horizonte. Pe. Laércio foi Reitor da PUC-Rio de 1962 a 1970 e de 1982 a 1995.

Uma visita ao site dos 70 anos da PUC-Rio permite saber mais sobre ele e sobre o muito que fez para que hoje possamos ser o que somos.

O Núcleo de Memória da PUC-Rio tem eu seu acervo dois vídeos da comemoração, no ano de 1995, dos 50 anos de Companhia de Jesus do Pe. Laércio. Essa comemoração ocorreu no dia 01/02/1995.  

Rever esses vídeos agora é uma das maneiras de agradecer pelo muito que o Pe. Laércio fez pela PUC-Rio. É também uma forma de reviver um pouco daqueles tempos ao rever alguns de nós quase duas décadas mais jovens.  E, principalmente, é uma maneira de fazer ainda mais viva a lembrança do Pe. Laércio, e a de tantos outros que aparecem na filmagem e já não estão entre nós.

Para ver o Pe. Laércio contar, com seu humor mineiro característico, um pouco da vida dele, clique neste link (aproximadamente 10 minutos).

Para ver o vídeo da festa de comemoração, na antiga residência dos padres jesuítas da PUC-Rio, onde hoje é o Edifício Pe. Leonel Franca, clique neste link (aproximadamente 17 minutos).

As filmagens foram feitas por Antônio Albuquerque, por tantos anos fotógrafo da PUC-Rio e hoje membro da equipe do Núcleo de Memória.

Clique aqui para ver o obituário publicado no jornal O Globo de 25/04/2012.

Homilia do Prof. Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J., Reitor da PUC-Rio, na missa de 7º dia celebrada na Igreja do Sagrado Coração em memória do Pe. Laércio Dias de Moura S.J., ex-Reitor da PUC-Rio, no dia 25 de abril de 2012:

A Inesquecível Memória de um Grande Reitor

Depois de galgar os degraus da terrenalidade da existência, deixando rastros de seu amor e dedicação ao sacerdócio e à missão de 21 anos como reitor da PUC-Rio, partiu aos 93 anos de idade, em direção à eternidade, o nosso querido, estimado e inesquecível Pe. Laércio Dias de Moura SJ.

Plasmado pelas suas origens mineiras que lhe deram as habilidades para lidar politicamente com situações adversas, encontrando sempre saídas inteligentes e diplomáticas, agregando mais tarde a sua formação profissional em direito que lhe permitiu conhecer os meandros e os fundamentos do espírito das leis, Pe. Laércio teve o mérito de consagrar a sua vida à Companhia de Jesus, embebendo-a de uma formação humanística capaz de compreender as inquietações do ser humano e os desafios da sociedade. Reunir o ser mineiro, o ser advogado e o ser jesuíta, é um privilégio de poucos, sobretudo quando esta tríade é voltada para o desejo desinteressado de amar, servir e fazer o bem.

Na sua vida longeva de Reitor da PUC-Rio, depois de ocupar o cargo de Secretário Geral e Vice Reitor, Pe. Laércio experimentou concretamente as moções de consolação e desolação que estão nosExercícios Espirituais de Santo Inácio. Consolação no primeiro mandato de 8 anos como reitor (1962-1970), quando as circunstâncias externas,  o seu entusiasmo juvenil e o apoio da sociedade possibilitaram a criação de várias mediações que ainda hoje estão presentes em nossa instituição, como a reforma universitária que uniu os departamentos em centros; a criação das vice-reitorias; a reforma dos estatutos para adequá-los à Lei de Diretrizes e Bases; a criação da DAR, do RDC, do CETUC e dos primeiros cursos de pós-graduação; a inauguração dos edifícios Kennedy e Frings etc. Por outro lado, no seu segundo mandato de 11 anos como reitor (1982-1995) as desolações apareceram, condicionadas sobretudo pelas circunstâncias externas. Nesse período enfrentou agitações sociais e problemas econômicos que certamente não foram fáceis de serem administrados. Como nos períodos de desolação temos que buscar os mananciais acumulados no tempo da consolação, Pe. Laércio manteve o entusiasmo, a força interior e as habilidades humanas ao manter o espírito criativo e inovador. Embora enfrentando os problemas do dia-dia, continuou renovando e criando estruturas acadêmicas que até hoje prestam um serviço relevante à nossa Universidade, como a Fundação Padre Leonel Franca, o TecGraf, o Projeto Comunicar, o Neam, o Noap, o Centro Loyola, entre outros.

Embora mergulhado nas preocupações e buscas de soluções dos problemas da PUC-Rio, Pe. Laércio foi também um homem que encarnou o espírito do lema inscrito em nosso brasão institucional `Allis grave nil`, pois possuía asas para voar mais alto nos desafios da sociedade. Seu mérito e reconhecimento é notório nos inúmeros conselhos em que participou, como o Conselho dos Reitores do Brasil, os Conselhos Federal e Estadual de Educação, o Conselho do Plano Estratégico do Rio de Janeiro etc.

No entanto, os méritos do Pe. Laércio não consistem apenas na sua figura como reitor, mas também em sua vida como religioso e em seu pensamento humanístico. Nos seus livros, A dignidade da pessoa e os direitos humanos, A educação católica no Brasil e Construindo a cidadania, Pe. Laércio deixa claras as suas ideias sobre a ética do bem comum; sobre a importância da criação do Clube do Cidadão onde, no convívio cotidiano, as pessoas possam discutir e refletir sobre os problemas da sociedade moderna; sobre a importância da Declaração dos Direitos Humanos no século XX, sobre a integração da terceira idade na Universidade e a crítica que ele faz sobre a concepção das escolas como meras transmissoras das ciências e não como despertadoras das virtualidades humanas, além da falta de uma visão mais interdisciplinar que vai além do processo de disciplinas desconectadas. Certamente esta última visão profética foi inspiradora para os avanços que hoje temos da interdisciplinaridade na PUC-Rio.

Finalmente gostaríamos de sublinhar também a figura religiosa do Pe.Laércio, que sempre foi estimada e exaltada na Igreja e na Companhia de Jesus. Enumero apenas os seguintes traços:

1. Homem de oração e discernimento, fiel aos princípios e valores da fé, imbuído de um amor profundo por Cristo, pela Igreja e pela Companhia de Jesus.

2. Homem de disponibilidade, aberto para a missão e dotado de um desejo profundo de fazer o bem, na busca permanente do conhecimento da verdade suprema.

3. Homem interiormente maduro que soube abrir caminhos para outros e distanciar-se da missão na Universidade aos 76 anos, quando percebeu as fronteiras dos limites biológicos, recolhendo-se na vida comunitária para se dedicar à reflexão e a uma vida mais intensa de oração e meditação.

4. Homem que procurou viver até o final da existência a sublime arte de saber envelhecer, com aceitação, serenidade, sem murmurações e reclamações.

Por tudo isso, peçamos ao Senhor que lhe conceda o merecido descanso eterno numa das moradas dignas que certamente são reservadas para aqueles que foram fieis aos princípios e valores do Reino de Deus. Que diante de Deus o Pe. Laércio possa continuar intercedendo pela PUC-Rio, esta obra apostólica que ele tanto amou e dedicou durante a sua vida.

Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ
Reitor da PUC-Rio
25 de abril de 2012

Alguns amigos da PUC-Rio compartilharam as mensagens publicadas a seguir.

"Lamento comunicar que ontem, 18 de abril, de manhã, faleceu na Casa de Saúde da Companhia de Jesus em Belo Horizonte o Pe. Laércio Dias de Moura, S.J., que foi Reitor da PUC-Rio de 1962 a 1970 e de 1982 a 1995. No próximo dia 23 de abril faria 94 anos. Que descanse em paz e que Deus o acolha na sua glória!"
Pe. Francisco Ivern Simó, S.J.
Reitor em exercício

"Fiquei muito triste com o falecimento do pe. Laércio, com quem tive o prazer de conviver. Tinha por ele uma grande estima e admiração. Doutor em Direito Internacional Público, que teve como orientador o francês Charles Rousseau, sua tese abordava a possibilidade/necessidade de um tribunal de direitos humanos, que somente viria a concretizar-se muitos anos depois. Também foi um dos poucos brasileiros que apresentou tese após o tradicional curso na Academia de Direito Internacional da Haia. Era um homem doce e elegante no trato com as pessoas e extremamente culto. Grande Reitor!
"Costumava brincar dizendo que ele era portador de três grandes virtudes: mineiro, advogado e jesuíta. Ele retrucava dizendo que isso era quase a divina trindade...
"Sua vida e sua obra garantem a glória na vida eterna."
Prof. Gustavo Sénéchal de Goffredo
Assessor Jurídico da Reitoria e professor do Departamento de Direito da PUC-Rio

"O Departamento de Direito, através dos seus professores, funcionários e alunos, declara-se enlutado pelo falecimento do querido pe. Laércio Dias de Moura, antigo Reitor da PUC-Rio e Professor do Departamento de Direito, apresentando seus sentimentos de condolência para a família entristecida e para a Companhia de Jesus que perde um excelente e notável integrante, conhecido pela lhaneza no trato pessoal e eficiência na administração."
Prof. Francisco de Guimaraens
Diretor do Departamento de Direito da PUC-Rio

"Prezados colegas
"Hoje às 18h daremos Graças a Deus pela vida do nosso Padre Laércio Dias de Moura, aquele que foi Reitor da PUC-Rio durante o maior número de anos, até nossos dias. Tendo trabalhado junto a ele durante vários anos quero falar-lhes, especialmente aos mais jovens, sobre sua ação entre nós.
"Figura modelar, como Doutor em Direito e como Jesuíta, administrador de visão clara quanto ao ambiente universitário que propiciaria alcançarmos a Meta de Excelência que vem sendo a constante na gestão da Companhia de Jesus, a quem foi entregue a direção da primeira Universidade Católica criada no Brasil, Padre Laércio ousou instalar na PUC-Rio a Reforma Universitária que serviu de inspiração para a Lei brasileira de 1988, em sua primeira gestão.
"Na segunda vez que exerceu a Reitoria, enfrentou com doçura e firmeza a grave crise socioeconômica da PUC, com a retirada do financiamento do CTC por um órgão federal, fato que partiu o corpo docente da nossa Universidade, afetando-a como um todo. Em meio a essa crise, nomeou uma Vice-Reitora para Assuntos Universitários que exerceu o cargo entre 1984 e 1988, tendo sido a única mulher a participar regularmente das Reuniões de Reitoria, até hoje, e que recebeu dele total apoio em medidas extremas que precisou tomar.
"Embora homem das leis, Pe. Laércio acreditava nas mudanças pessoais que levam a grandes alterações políticas, daí seu último sonho ter sido a multiplicação de Clubes do Cidadão, especialmente junto a comunidades que necessitavam de grandes mudanças políticas para a melhoria de suas condições de vida.
"Deus permita, que, junto a Ele, nosso Padre Reitor, possa continuar, sempre nos inspirando com o seu exemplo.
"Fraternalmente,"
Prof. Hedy Silva Ramos de Vasconcellos
Professora Emérita do Departamento de Educação da PUC-Rio

"É com grande pesar que não poderei prestar esta última homenagem ao querido Reitor,  Padre Laércio Dias de Moura, por ter um compromisso  com o projeto MTENC-FINEP  que foi  marcado no ano passado em João Pessoa, Paraíba. Como gostaria de comparecer!
"Seu excelente trabalho como Reitor e administrador na PUC-Rio foi observado nas oportunidades que participei como membro eleito no Conselho Universitário.
"Além de tudo, ele foi um dos primeiros no Brasil que sempre apoiava e acreditava nas pesquisas sobre Bambu, Solo, e fibras vegetais (MTENC) e me pediu que preparasse o projeto da Igreja da PUC-Rio feito com MTENC, o que cheguei a fazer. Mas as crises na PUC-Rio não nos deixaram realizar este projeto além de outros que foram planejados.
"Meus sentimentos de condolência pela perda de pessoa tão virtuosa e querida, a sua família, amigos e colegas e à Companhia de Jesus."
Prof. Khosrow Ghavami
Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio

Klaus Paul Ernest Wagener (1930 - 2012) _

O Prof. Wagener foi, por longos anos, um dos artífices do Departamento de Química. Dele escreveu o Prof. Pércio Augusto Mardini Farias, seu colega de Departamento:

“Faleceu [...] o pesquisador Biofísico Alemão-Brasileiro, Professor Dr. Klaus Paul Ernest Wagener. O professor Klaus Wagener titulou-se em Física e Físico-Química pela Universidade de Goettingen na Alemanha. Foi pesquisador e chefe do laboratório de Química de Isotopos no Hahn-Meitner Institut em Berlim. Em 1968 tornou-se Diretor do Instituto de Físico Química do Centro de Pesquisas Nucleares (KFA) em Juelich e em 1969 Professor Titular de Biofísica da Universidade Tecnológica de Aachen. Em 1971 fez parte da missão diplomática alemã que visitou o Brasil. Posteriormente se transferiu para o Brasil e por 16 anos até 1999 quando se aposentou foi professor pesquisador do Departamento de Química da PUC-Rio.

“O Dr. Klaus foi um grande colaborador, apreciador e amigo do Pe. Leopoldo Hainberger S.J., fundador do Departamento de Química da PUC-Rio. O Dr. Klaus foi um dos primeiros orientadores do programa de Doutorado da pós-graduação do Departamento de Química da PUC-Rio. Foi o orientador do Dr. Henrique Antonio de Salles Andrade, com uma tese de doutorado sobre a poluição e seus efeitos na Lagoa Rodrigo de Freitas do Rio de Janeiro. Na época um importante jornal carioca publicou estes resultados com o comentário ‘Uma solução para a Lagoa Rodrigo de Freitas, sem aterro’. Esta tese é considerada uma das primeiras do Departamento de Química e também do Centro Técnico Científico da PUC-Rio.

“O Dr. Klaus foi também o orientador de vários químicos analíticos que se projetaram nacionalmente e internacionalmente, entre eles, o Prof. Dr. Adilson José Curtius e a Profa. Dra. Angela de Luca Rebello Wagener, atual Diretora do Departamento de Química, e sua esposa. O casal Klaus e Angela, ambos, professores Titulares do Departamento de Química, contribuíram fortemente para o desenvolvimento e a consolidação em alto nível da Química Analítica do Meio Ambiente no Brasil. Uma das patentes do Dr. Klaus, foi à criação de um ‘Sistema de agitação de fluxo vertical e baixo consumo de energia aplicada em fotobiorreatores para produção industrial de micro algas’.

“O Dr. Klaus sempre dizia que um bom pesquisador precisa de muita imaginação, fantasias e muita cultura, e assim procurava incentivar os novos doutores com temas da Termodinâmica na Físico-Química como ‘O Curso do Tempo é Reversível?’. Um tema onde o Curso Histórico da Ciência tinha um papel central. Infelizmente a Comunidade Científica e a Sociedade Alemã e Brasileira perde um grande Cientista, mas o seu legado de conhecimento já se encontra nas novas gerações de Cientistas Brasileiros.”

Jürgen Walter Bernd Heye (1939 – 2011) _

Graduado em Tradução pela Dometschetschule Zürich (1963) e doutor em Linguística pela Georgetown University (1970), o Prof. Heye fez parte do quadro principal do Departamento de Letras desde 1972. Linguista de reconhecimento nacional e internacional formou gerações de mestres e doutores. Na PUC-Rio orientou 53 dissertações de mestrado e 8 teses de doutorado. Seus trabalhos de pesquisa têm ênfase em questões relativas ao Multilinguismo e Línguas de/em Contato. Sua produção acadêmica abarca, sobretudo, os seguintes temas: sociolinguística, bilinguismo, bilingualidade, línguas em contato, política e planificação linguística, diglossia e fonética.

Foi um grande colaborador da PUC-Rio, tanto por sua produção acadêmica e docência quanto por sua participação na administração do Departamento de Letras e do CTCH assim como nos órgãos colegiados da Universidade que, com sua morte, perde um excelente professor, pesquisador reconhecido por seus pares e um grande amigo.

Será sempre lembrado por todos na Universidade como um homem de coração tão grande quanto sua incontestável inteligência.

Junito de Souza Brandão (1924 - 1995) _

As virtudes do Professor Junito Brandão

Crônica publicada no Jornal da PUC em 26/11/2012, Edição 264.

Na mitologia grega as virtudes dos heróis são definidas por conceitos que, entre outros significados, expressam qualidades, sabedoria, fraternidade e moral. A palavra aretê é a virtude da força e da coragem, logos é um conceito que remete à razão, linguagem e justa medida, e métis é uma forma de inteligência e sabedoria.

Nas salas de aula da PUC-Rio um professor destacou-se por suas virtudes, sabedoria e a justa medida para ensinar, desenvolver pesquisas e dedicar-se à publicação dos seus estudos sobre a cultura clássica. Nas palavras de Miriam Sutter, sua ex-aluna e atual professora da Universidade, Junito Brandão era um “amigo sábio e generoso”.

Junito de Souza Brandão (1924-1995) concluiu em 1948 o bacharelado em Letras Clássicas nas Faculdades Católicas e em seguida cursou Arqueologia, Epigrafia e História da Grécia na Universidade de Atenas. Lecionou na Faculdade de Filosofia e posteriormente no Departamento de Letras. Membro da Academia Brasileira de Filologia, publicou dicionários etimológicos, obras didáticas e livros sobre a cultura clássica. Sua biblioteca particular foi doada para a PUC-Rio e integra o acervo da Biblioteca Central.

No livro “Teatro Grego: origem e evolução”, publicado em 1980, Junito Brandão assinala que o teatro na Grécia “embriagou-se do belo para celebrar o homem”. Em 2006 a PUC-Rio inaugurou em sua homenagem no bosque do campus da Gávea o Espaço Cultural Professor Junito Brandão, um anfiteatro palco de encontros, debates e eventos multiculturais. De shows a peças de teatro, de oficinas a local para o diálogo, por cumprir funções análogas às do teatro grego, esse anfiteatro é lugar privilegiado da contemplação e da experiência, e lembra, através da palavra, “a presença de uma ausência”.

Eduardo Gonçalves
Pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio.

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