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Professores

Título Código Dataordem decrescente Descrição
Antônio da Silva Pereira (1928-2015) _

O Padre Antônio da Silva Pereira, ex-professor do Departamento de Teologia, faleceu no dia 10 de maio de 2015. O sacerdote, que residia no Rio de Janeiro desde 1968, era natural da freguesia de Santa Bárbara, no concelho da Ribeira Grande, ilha de São Miguel, nos Açores, onde nasceu a 2 de janeiro de 1928.

Doutorado em Direito Canônico, o sacerdote veio para o Brasil depois de ter desempenhado vários cargos na diocese e no seminário de Angra do Heroísmo, como Professor, Diretor Espiritual, Chanceler da Cúria Diocesana e Pároco. Foi também Diretor Espiritual do Colégio Português em Roma (1963 a 1967). No Brasil, foi Professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, Professor do Instituto Superior de Teologia dos Franciscanos em Petrópolis (1971 a 1980); Capelão do Instituto Social, das Irmãs da Sociedade das Filhas do Coração de Maria e Professor do Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro.

Pe. Pereira dedicou 40 anos de sua carreira ao Departamento de Teologia da PUC-Rio, ao lado dos Padres Manuel Bouzon e Alfonso Garcia Rubio, conforme nos conta a Profa. Tereza Cavalcanti (TEO). O sacerdote era especialista em Direito Canônico, e marcou a abertura eclesial em relação à participação dos leigos nas decisões da Igreja, tema que trabalhou em diversos artigos. Ao lado do Pe. Jesus Hortal S.J., auxiliou vários bispos que a ele recorreram para questões de Direito Eclesial e Direito Matrimonial.

O Pe. Jesus Hortal Sànchez S.J. assim se pronunciou sobre o antigo companheiro:

Conheci o Pe. Pereira em Roma, quando ele era espiritual no Colégio Português e nós dois estávamos cursando o Doutorado em Direito Canônico, na Universidade Gregoriana. Reencontrei-o alguns anos depois, quando ele já estava na PUC-Rio e eu na PUC-RS. A partir de 1986, quando fui transferido para o Rio de Janeiro, convivemos no Departamento de Teologia. Fomos sócios-fundadores da Sociedade Brasileira de Canonistas, fui eleito Presidente e ele Vice-Presidente da entidade. Extraordinariamente meticuloso na preparação de suas aulas e artigos, talvez por essa meticulosidade seu volume de publicações tenha sido relativamente pequeno. Colaborou ativamente na REB (Revista Eclesiástica Brasileira).

Era muito apreciado pelos alunos, não só na PUC-Rio, mas também no Instituto de Direito Canônico do Rio de Janeiro. Seu caráter sempre foi marcado pela seriedade. Apaixonado pela verdade, repelia com veemência as posições discordantes. De saúde delicada, era um modelo de moderação na comida. Suas pesquisas, mais do que no campo do Direito Canônico, se desenvolveram no da Eclesiologia. Conhecia profundamente o Concílio Vaticano II e gostava de discutir sobre os documentos conciliares, especialmente a Lumen Gentium. Lembro-me de uma vez em que os alunos do Instituto promoveram uma discussão, entre ele e mim, sobre um tema polêmico, sabendo que as nossas posições eram discordantes. A sessão foi animada em extremo e, no fim, cada um continuou na sua e todos amigos. Trabalhador incansável, não suportava que o interrompessem nos seus estudos. Era um homem piedoso, extremamente observante de suas obrigações religiosas.

Pe. Pereira residia há alguns anos na Casa do Padre Cardeal Câmara. Há alguns meses encontrava-se doente, tendo falecido no Hospital Quinta D’Or aos 87 anos de idade.

(ex-professor do Departamento de Teologia) (+10 de maio de 2015) 

John Williamson (1937-2021) _

Aos 83 anos, faleceu o economista britânico John Williamson, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio entre 1979 e 1981. Williamson trabalhou no Departamento do Tesouro do Reino Unido, no FMI e no Banco Mundial, além de também ter lecionado nas universidades de Warwick, York, e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Princeton. Morou no Brasil, era fluente em português e foi casado com uma brasileira.

Em 1989, ele cunhou o termo Consenso de Washington para descrever as políticas de disciplina fiscal e liberalização de mercado, recomendadas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a América Latina.

Segundo nota divulgada pelo Instituto Peterson para Economia Internacional (PIIE, pela sigla em inglês), do qual era um dos fundadores, o seu

[...] trabalho pioneiro na economia do desenvolvimento, regimes cambiais, reforma monetária global e muitos outros assuntos influenciaram todo o campo da economia internacional. Ele foi um autor prolífico e um mentor estimado para muitas gerações de acadêmicos e legisladores, especialmente em seus 32 anos no PIIE.

O economista Edmar Bacha, que era amigo de Williamson desde que deram aulas na PUC-Rio, de 1979 a 1981, lembrou que, em 2014, ele esteve na Casa das Garças, dirigida por Bacha, para a homenagem ao ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan. Segundo Bacha, naquele evento, Williamson discutiu muito a crise na União Europeia e antecipou o Brexit. Os amigos lembram um outro lado do professor: como conservacionista e observador de pássaros, registrou mais de 4000 espécies em suas viagens pelo mundo.

Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia e colunista do New York Times, disse que Williamson foi “uma pessoa adorável, que fez uma grande contribuição para a economia internacional”. Lembrou que o colega participou da elaboração de um sistema cambial que ajudou os países em desenvolvimento a escapar das crises em seus balanços de pagamento.

A economista brasileira, Monica de Bolle, recordou ter conhecido Williamson no Brasil, “um país do qual ele gostava muito e que compreendia melhor que a maior parte dos economistas que conheço”, declarou.

Ronald Cintra Shellard (1948-2021) _

Ronald Shellard foi professor do Departamento de Física, de 1983 a 2010, e, por dois mandatos, presidente da ADPUC. Graduou-se em Física, em 1970, pela Universidade de São Paulo (USP) e concluiu o mestrado no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT/Unesp, 1973). Entre 1973 e 1974, aperfeiçoou-se em Física e Astronomia na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA) e concluiu o doutorado na mesma área (1978) na Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA). Dedicou-se à área de Física Experimental de altas energias e Física das Astropartículas.

Além de membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), desde 2016, Shellard era membro da Sociedade Brasileira de Física (SBF), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Sociedade Americana de Física (APS) e da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS). Era pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Fez parte da colaboração que operava o Observatório Pierre Auger, da colaboração Cherenkov Telescope Array (CTA) e foi um dos fundadores do Southern Wide Field Gamma-Ray Observatory (SWGO), antes Large Array Telescope for Tracking Energetic Sources (LATTES). Deixou muitas contribuições para a Física e Astronomia.

Shellard exerceu grande influência na formação da comunidade de pesquisadores na área de Física de Altas Energias. Foi orientador de diversos estudantes de mestrado e doutorado e tinha um compromisso permanente na formação de novos cientistas e na divulgação e popularização da ciência no país.

O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) registra que, para Shellard, "Este país precisa desesperadamente de ciência" e, mais do que isso, “Para fazer ciência não se pode ser muito conformado, tem que ter esse espírito de ‘fuçar’ as coisas”. Durante sua vida profissional, teve mais de 400 trabalhos publicados, 18 mil citações, além de sete livros publicados e/ou organizados.

Luiz Cesar Monnerat Tardin (1953 - 2011) _

O Prof. Luiz César Tardin (13/05/1953 - 05/03/2011) formou-se em Direito pela PUC-Rio em 1978 e obteve o título de mestre em Ciências Jurídicas também pela PUC-Rio em 1985. Em 2000 formou-se em Teologia na PUC-Rio. Além de professor de Cultura Religiosa, desempenhava várias funções na PUC-Rio, tais como as de Coordenador Central de Estágios, Coordenador Geral do Projeto Unicom, Coordenador do Núcleo UniTrabalho da PUC-Rio, Coordenador Geral da Revista Virtual da revista ERGON, Membro do conselho diretor do Centro Loyola de Fé e Cultura e Diretor Administrativo da Revista Atualidade Teológica. Era ainda o representante da PUC-Rio no Conselho da Cidade do município do Rio de Janeiro na Câmara Trabalho e Emprego.

Depoimentos de amigos e ex-alunos do Professor Tardin:

A falta que faz o Prof. Luiz Cesar Monnerat Tardin

Caros Colegas, Professoras e Professores da PUC,

Diante da missa de sétimo dia amanhã para o Prof. Luiz Cesar Monnerat Tardin, um amigo que eu prezava muito, quero acrescentar a minha voz à dos colegas que fizeram elogios dele. Já o conheci quando ele era estudante de graduação, já naquela época uma pessoa que tinha idéias novas e boas que colocava em prática.

Como professor, fez muitas contribuições à Universidade. Ao longo dos anos, levou muitos alunos à Amazônia para que se sensibilizassem da realidade do País, da necessidade de ajudar os pobres. Organizou a atuação da comunidade da PUC na Rocinha. Diante dos desastres recentes na região serrana, articulou uma ação de socorro aos flagelados feita pela comunidade da PUC. Inventou a Mostra PUC, que divulga a PUC mais que qualquer outro evento, ajudando os alunos de obter estágios e trazendo muitos jovens bons a estudar na PUC. Sempre promovia ações para conscientizar as pessoas sobre tarefas urgentes para a sociedade, tais como o tema da última Mostra PUC, a limpeza da Baía de Guanabara.

Pensando de Luiz Cesar, me lembro de uma frase famosa de meu compatriota Robert Kennedy (que a atribuiu ao dramaturgo George Bernard Shaw), frase essa que para mim retrata o grande valor da vida e da atuação do nosso querido professor: "Some people see things as they are and say why? I dream things that never were and say why not?"

Luiz Cesar constantemente pensava de novas maneiras que ele poderia atuar para enriquecer e melhorar as vidas de todas as pessoas ao seu redor.

A PUC vai sentir muito a ausência de suas contribuições, de suas iniciativas, de suas idéas inovadoras. Que ele, junto ao Pai que nos criou, possa pedir por nós e pela Universidade que tanto amou e tanto serviu.

Agradeçamos a Deus pela presença tão importante que ele exerceu por tantos anos entre nós. Que o exemplo dele nos leve a imitá-lo em nossa atuação.

Um abraço solidário,
Prof. Pe. Paul Schweitzer S.J., Departamento de Matemática da PUC-Rio

 

Meu Caro Amigo

Dizem que ninguém é insubstituível. Mas dizem também que toda regra tem a sua exceção. O Professor Luiz César era provavelmente uma exceção a essa regra, assim como a muitas outras. Nosso Caro Amigo, como era carinhosamente chamado por alguns de seus pupilos, atendia também por Professor Tardin, César, Cesinha, Tardin, Luiz César e Monsieur.

A sua tripla e sólida formação – em Teologia, Direito e Música – esconde, de certo modo, a sua verdadeira tripla e forte atuação: como Educador, Empreendedor e Humanista. Além disso, sabia viver, e gostava de viver; era um verdadeiro bon vivant. Mas não perdia jamais a referência do fazer o bem, a quem quer que fosse, e de cultivar incansavelmente os mais importantes valores da fé cristã e da bondade humana.

Através da Igreja, encontrou sua vocação de Educador, e a tomou como principal Missão nesta vida terrestre. A veia Empreendedora era latente e presente em toda parte: na sua Fazenda, sem dúvida, com suas vaquinhas e sua paixão pelo café; mas também e, sobretudo, na PUC e na ONG Sociedade Brasileira para a Solidariedade, a SBS. O lado Humanista era transversal, presente, portanto, em todas estas e outras atividades, pessoais ou institucionais.

A Mostra PUC talvez seja o maior exemplo do cruzamento destas três virtudes do Professor Luiz César. Em poucos anos, ele conseguiu tornar a idéia de uma simples Feira de Estágios no maior evento da PUC-Rio, com ofertas de estágio, evidentemente, mas também workshops, palestras, e eventos artísticos, culturais e sociais, para toda a juventude, além de um Prêmio de dimensão internacional, para custeio de projetos acadêmicos voltados para as questões sociais. E sempre fez questão de deixar alunos da graduação na linha de frente da organização do evento, como forma de aprendizado através da vivência, o que, aliás, sempre estimulou, apesar do re-trabalho que certamente lhe dava todos os anos ao renovar a equipe coordenadora da Mostra PUC.

Grande admirador das Artes e da História, ele sabia tudo sobre as Grandes Guerras e os Grandes Imperadores, desde Alexandre o Grande, passando pelos Imperadores Romanos, seu xará César inclusive (Ave César!), até Napoleão Bonaparte. A admiração pela Arte da Guerra permitiu, por contradição, ironia, ou pura consciência, ser um grande estrategista para enfrentar a maior batalha dos dias de hoje: a Desigualdade Social. Mas ao contrário dos Grandes Imperadores, sua principal arma de batalha era o Amor. Através do Amor, era capaz de enfrentar a terrível violência que afronta o nosso País e, de maneira particular, a nossa Cidade do Rio de Janeiro. “Violência” certamente em sentido amplo: desde daquela gerada pelo tráfico de drogas nos morros, passando pela violência familiar, para chegar até a violência de oportunidade. “Oportunidade”. Taí uma palavra que o César muito apreciava. Ele certamente, neste instante, nos corrigiria: “Falta de Oportunidade, meu caro”.

A Falta de Oportunidade nos leva à Solidariedade, e aqui encontramos talvez o seu maior legado: a Consciência Social. Vivemos num mundo de muitos, dividido por poucos. A falta de acesso, a falta de oportunidade, a falta da falta, eram preocupações permanentes na vida do nosso Caro Amigo. Através da sua ONG SBS e do Projeto UNICOM promovia, no auge dos seus 1,60m, um agressivo programa de inclusão social. Reforço pedagógico, atendimento jurídico, atendimento psicológico, atendimento médico (geral, odontológico e geriátrico!), cursos profissionalizantes como Cozinhando o Futuro. O que a máquina do Estado teria a obrigação de fazer, o nosso Caro Amigo inventava a roda para oferecer de graça à população de baixa renda. Como repetia um de seus muitos pupilos: “nos pequenos frascos, encontramos os grandes perfumes”. Isto tudo instrumentalizado por uma forte veia política, que potencializava estas atividades, sem falar nas suas famosas, diversas e freqüentes campanhas de conscientização social: a Marcha pelo Trabalho, de Olho no Congresso, a Baia Nossa da Guanabara, a recente Campanha pelos desabrigados de Nova Friburgo, dentre tantas outras.

Ao fazer tudo isto, César semeava sonhos e esperança na juventude, e ensinava através de suas ações que nós não somos do tamanho da nossa altura, mas sim do tamanho da nossa imaginação, e daquilo que podemos enxergar, e fazia isso sendo ele próprio o exemplo.

No campo da relação entre a Vida e a Morte, encontramos mais uma grande lição. Sua inabalável fé cristã e elevada espiritualidade o permitiam lidar com muita naturalidade com este assunto. Durante seu curso de Ética Profissional, para os alunos de Direito, costuma separar uma aula por semestre para levar os alunos ao cemitério São João Batista: “na semana que vem, nossa aula será no cemitério São João Batista!”, dizia ele, para desespero da maioria. Evidentemente, muitos alunos não apareciam no dia. Diziam que era “maluquice”. Estavam preocupados em decorar as leis e os artigos dos códigos, ou então em chegar mais cedo nos seus sagrados estágios, nos mais renomados escritórios de advocacia. Mas uma parte dos alunos sempre comparecia ao cemitério, e não conhecemos um só que tenha se arrependido de ter ido. Alguns afirmam, aliás, que foi a aula mais marcante que tiveram durante a Faculdade de Direito. Na entrada do cemitério, ele dizia: “eu trouxe vocês aqui para vocês pensarem a relação entre a Vida, a Morte, e o Direito. Circulem pelo cemitério, e reflitam sobre esta relação, e daqui a pouco conversamos, nos encontramos aqui de volta em 30 minutos”. Na volta, os mais diferentes e interessantes relatos eram dados pelos alunos – desde depoimentos técnico-jurídicos a respeito de Sucessões e Direito de Família, até ricos relatos pessoais, engasgados muitas vezes pela correria do nosso dia-a-dia, e pela falta de espaço para tratar de questões tão essenciais como a “Vida e a Morte”.

E assim ele nos deixa, de forma prematura, desta vida terrestre. Alguns desavisados podem pensar “que pena, não tinha filhos, nem esposa, nem pais vivos, apenas uma irmã e primos”. Mas o engano é tamanho. Deixou herdeiros de todas as idades, de todas as cores, de todas as formas e formações. Herdeiros que hoje formam o seu Batalhão, e que continuarão sua Luta, com a sua poderosa arma do Amor, contra as injustiças e as desigualdades que assolam este Mundo, por vezes cruel, dos Homens na Terra.

Texto escrito por ex-alunos, e eternos pupilos, do Professor Tardin:

- Fernando Carvalho (Desenho Industrial)
- José Pedro Pradez (Engenharia)
- Leonardo Moreira (Informática)
- Marcos de Oliveira Gleich (Direito)
- Paulo Burnier da Silveira (Direito)
- Raphael Trindade (Direito)
- Ricardo Calheiros (Informática)

 

Lembrando Luiz Cesar Tardin

Conheci Luiz Cesar nos encontros do Movimento Universidade a Serviço do Povo-MUSP, iniciado pelo nosso saudoso Pe.Agostinho Castejon, nos anos 70, na PUC. Quando assumi a Coordenação Central de Estágios-CCESP, em dezembro de 1980, ele participava das atividades do MUSP, já incorporado à CCESP, para a melhoria da qualidade de vida em algumas comunidades de baixa renda. Acompanhava estagiários de direito, especialmente em Senador Camará e, mais tarde, em Acari.

Lembro-me das suas sugestões ousadas para as atividades internas da CCESP, que me assustavam, nos anos 80, mas que me levaram a indicá-lo para assumir esta Coordenação, quando dela me retirei para concluir minha Tese de Doutorado, em 1990. A originalidade, com que Luiz Cesar desenvolveu estas funções bem como o enriquecimento que elas trouxeram para a PUC nestes vinte anos, pode ser avaliada por todos nós que as acompanhamos e pelos alunos e ex-alunos que dela tem-se beneficiado. Como bem lembrou Pe. Paul, a concretude das atividades da CCESP, fez-se sentir, durante estes últimos anos, desde a Rocinha até toda a cidade do Rio de Janeiro e promoveram estágios de nossos alunos bem mais longe, na Amazônia. Isso aconteceu: quer em seu aspecto de atividade social em favor dos menos favorecidos junto com Jesuítas locais, quer para o reconhecimento da importância da ação de nossas forças armadas (especialmente do Exército, naqueles lugares de enorme importância nacional, mas distantes dos centros mais populosos), quer para o ingresso no mercado de trabalho, dos nossos jovens profissionais. A abrangência e variedade das ações puderam ser observadas pessoalmente por mim, desde a favela da Gávea, até o curso que fiz junto com alunos e professores da PUC-Rio, para a sobrevivência na Selva, em um dos muitos batalhões do Exército visitados, nos estados do Amazonas e Roraima, em 2003.

Também pude participar de perto, a seu convite, em 2010, das atividades por ele estimuladas, com o objetivo de ações múltiplas, para a melhoria física da nossa Baía da Guanabara. Como Raul Nunes, eu temia suas valentes incursões, neste caso, junto às escolas públicas das Secretarias Municipal e Estadual de Educação do Rio de Janeiro, importantes como campo de pesquisa para o Departamento de Educação da PUC-Rio. Confesso que, mesmo tendo constatado sempre que, no fim, tudo valeu a pena, o arrojo de Luiz Cesar, muitas vezes me assustava.

Enfim, dou Graças a Deus por Luiz Cesar ter vivido entre nós!

Abençoado seja o seu nome e perdoados os pecados que, porventura, tenha cometido na sua  ânsia de fazer o bem!

Hedy Silva Ramos de Vasconcellos
Professora Emérica do Departamento de Educação da PUC-Rio

 

Tardin – cidadão coragem

Prezados colegas,

Fui contemporâneo de graduação do Tardin, ele no Direito e eu na Física: ele no Movimento Pastoral e eu, no Estudantil; era o ano  de 1975. Desde esta época, o Tardin apresentava uma capacidade de liderança e dedicação a causas com temas abrangentes, e arriscados, como Justiça, Liberdade e Solidariedade. Para entender o jovem Tardin é preciso saber  que ele é de origem de um “clã” que tem um cardeal Tardini (assessor do papa João XXIII, Secretário de Estado e Presidente da Comissão Preparatória do Concílio Vaticano II) e uma militante de esquerda Elza Monnerat (do PC do B, integrante da guerrilha do Araguaia). Ele não falava sobre estas coisas, mas isto fazia parte de sua experiência de vida. Anos difíceis aqueles de nossa graduação... Mas, já nestes anos, o Tardin exibia a sua habilidade para tocar projetos sociais de natureza inclusiva, sem perder a visão política, mas também sem deixar que os mesmos fossem instrumentos de propaganda política de qualquer corrente interna ou externa à igreja católica. Ele era universal.

Para tentar ilustrar um pouco sobre o Tardin, cidadão coragem que muitos desconhecem, relato aqui dois momentos marcantes desta época envolvendo eu e o Tardin:

1.      Em 1976, participamos de um evento da FEUCAL (Federação de Estudantes Católicos da América Latina), que se realizou em Petrópolis: um estranho evento, com pouca divulgação, para o qual o Tardin insistiu em que eu participasse, mesmo não sendo católico praticante. Para me convencer a participar, ele afirmou, e repetiu isto muitas vezes, “que eu era mais católico do que muito católico”. Um grupo de alunos da PUC-Rio foi ao evento com o intuito de não deixar que envolvessem o nome da PUC-Rio em algo não fosse a expressão das idéias e compromissos de seu grupo Pastoral. Neste evento, encontramos um pequeno grupo de “estudantes” chilenos, argentinos e da católica de Campinas, cuja faixa etária era superior a dos demais, que faziam barulho e uma pregação vamos dizer assim conservadora e contra o que preconizava o Concílio Vaticano (seus discursos eram cheios de menções ao diabo e aos comunistas...). O grupo da PUC-Rio logo se destacou na contraposição às teses deste grupo e, em determinado momento, quando eu fazia uso da palavra, vieram para cima de mim com fúria, quase para o linchamento. Foi a intervenção do Tardin e demais companheiros que impediram a consumação do mesmo. Saímos dali protegidos por alguns amigos, mas satisfeitos por termos sido em parte vitoriosos. De volta ao Rio, vemos nos jornais o retrato falado dos sequestradores do bispo dom Adriano Hypólito. Estes retratos nos indicavam claramente que aquele grupo que estava neste evento tinha participado do sequestro de dom Adriano. O que fazer??? Lembro aqui que eram dias difíceis, isto aconteceu no final de 1976. Através do Tardin, fizemos chegar à CNBB e à OAB a informação sobre os  personagens do sequestro de dom Adriano. Não soube até hoje, e portanto nunca saberei, se a insistência do Tardin para que eu participasse do encontro teria sido reforçada por alguma “inside information” sobre o encontro da FEUCAL ou se foi apenas pela amizade e confiança que existia entre nós.

2.      Em 1977, estava em organização um Encontro Nacional de Estudantes, seria o primeiro após a extinção da UNE. Classificávamos este encontro como um movimento necessário no sentido de testar os limites do regime militar e de seu processo de abertura. Não controlávamos esta iniciativa, mas não podíamos ignorá-la. Estávamos preocupados com os desdobramentos possíveis de sua realização. Só para relembrar, naquele ano, um ano após o sequestro de dom Adriano, por determinação do Comandante do 1° Exército, foi cancelada uma conferência sobre Direitos Humanos, para constituição de uma Comissão de Justiça e Paz na Diocese de Nova Iguaçu (finalmente criada em 1978). Se uma iniciativa de uma diocese para tratar de direitos humanos havia sido proibida, o que poderíamos esperar de um encontro nacional de estudantes? Certamente algo pior... Um dos pontos da pauta do encontro era a criação da UNE, ponto este que éramos contra (os diretórios do CTC, então com a gestão da chapa da Unidade). Éramos contra naquele momento, pois não existiam diretórios nas universidades. Diante disto, esta era mais uma das razões pela qual não podíamos deixar de participar. Antes de partir para Belo Horizonte, nos reunimos com o Vice-Reitor Comunitário onde expomos nossas posições e preocupações. Avisamos a que horas partiríamos da Vila dos Diretórios da PUC-Rio para chegarmos a Belo Horizonte no início da manhã. Tarde da noite, no horário de nossa partida, a Vila cheia de estudantes, aparece para se despedir de nós, e manifestar preocupação com nossa viagem e com o evento, o Tardin e o Vice-Reitor Comunitário, o Pe. Mendes. Claro que o congresso não se realizou, fomos presos na estrada. Não só nós, mas todos os jovens que viajavam desacompanhados em ônibus, avião ou carro, foram retirados destes veículos e levados para a cadeia, muitos nem sabendo da existência do tal Encontro... Quando o primeiro de nós conseguiu sair da cadeia, avisou ao Tardin e este ao Vice-Reitor Comunitário, Pe. Mendes. Ao retornarmos de Belo Horizonte, soubemos que o Pe. Mendes, irmão do general Ivan de Souza Mendes, na época chefe do SNI, havia falado com seu irmão e recebido a notícia de que a situação estava sobre controle. A situação sobre controle significou que ninguém “foi desaparecido”. De fato a única consequência foi o enquadramento de alguns na lei de Segurança Nacional, processo este que acabou sendo arquivado com o avanço da “abertura”. Tardin, como sempre, por sua característica, acompanhou tudo sem aparecer muito e ainda ajudou a orientar os que foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

Depois, já nos anos 80, no período pós anistia, Tardin participava de projetos associados à Comissão de Justiça e Paz e de Pastorais Penais. Em suas várias atividades sociais em comunidades tais como Dona Marta, Rocinha, Acari, Senador Camará, dentre outras, teve de conviver com a organização dos bicheiros e dos traficantes. No período do governo Brizola e sua “política de direitos humanos para a favela”, a polícia, já deformada pelo arbítrio do regime militar, foi muitas vezes utilizada como braço político de alguns. Esta polícia ao subir na favela, prendia pequenos traficantes, batia e depois avisava que isto não iria parar a menos que eles se tornassem “cabos eleitorais”. Em muitas subidas da polícia, o Tardin foi  acionado por membros da comunidade para comparecer à delegacia e tentar garantir que o preso não mais apanhasse. O incrível é que isto funcionava, e o Tardin teve que fazer isto muitas vezes. Mas, como sempre, ele pouco falava sobre isto.

Mais recentemente, já neste século, a convite do Tardin e por nomeação do Pe. Hortal, participei de uma comissão da PUC-Rio, cedida para a CNBB, com a missão de realizar um estudo sobre a viabilidade de se criar uma Instituição de Ensino Superior Católica na Amazônia. Neste período de realização do trabalho da comissão, tive a oportunidade de testemunhar o excelente trabalho que o Tardin realizava, principalmente em Manaus, junto à Diocese de lá, não somente em trabalhos sociais, mas também na área do direito junto à Pastoral Penal e à Comissão de Direitos Humanos. O Tardin, através do UniCom, ajudava a apoiar o trabalho legal destes grupos, organizando os processos dos presos e propiciando apoio àqueles que já haviam cumprido a sua pena, mas ainda se
encontravam presos, ou aos que estavam com seus processos parados por falta de apoio jurídico. Neste trabalho de estudo e prospecção sobre a viabilidade de constituição de uma IES Católica na Amazônia, pude perceber o enorme respeito dos bispos de Porto Velho, Manaus e Belém pelo Tardin, e também pela PUC-Rio. Pude perceber como a PUC-Rio era maior do que eu tinha noção e o quanto o Tardin era responsável por isto.

Talvez nem todos na PUC-Rio endossassem algumas de suas iniciativas, mas entendo que isto é uma questão menor relacionada com aqueles que não procuravam conhecer a dimensão e profundidade de seu trabalho. Não tenho dúvidas em afirmar que a universidade perdeu um grande empreendedor das causas da justiça, liberdade e solidariedade. Meu sentimento é de que a PUC-Rio ficou menor.

Finalmente, extremamente consternado com esta perda súbita, só consigo  pensar em como ele fará falta e em agradecer sua existência e de ter podido desfrutar de sua amizade.

Raul A. Nunes
Professor do Depto. de Engenharia de Materiais - PUC-Rio

 

 

Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho (?-2019) _

(07 de maio de 2019)

Vinculada ao Curso de Especialização em História da Arte e da Arquitetura no Brasil (CCE/Departamento de História), do qual foi coordenadora e professora por mais de 20 anos, a profa. Anna Maria Carvalho era licenciada em Letras Português-Francês pela PUC-Rio (1975). Mestre em Artes Visuais-História e Crítica de Arte pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - EBA/UFRJ (1988) e doutorada em História da Arte pela Faculdade de Letras de Coimbra.

Colaboradora do CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, de Portugal, no Brasil, atuou em pesquisas  e publicou várias obras sobre a Memória da Arte Franciscana na cidade do Rio de Janeiro; Conventos Franciscanos do Nordeste Brasileiro; Arte no Brasil, da Colônia ao Reino-Unido - Coleção do Museu Nacional de Belas Artes; A Paisagem Carioca; A Pintura Retratística na Coleção Eva Klabin Rapaport; Arte e Arquitetura dos Jesuítas no Rio de Janeiro Colonial e Mestre Valentim.

Carlos Raja Gabaglia Moreira Penna (? - 2011) _

Carlos Raja Gabaglia Moreira Penna era professor do quadro complementar do Departamento de Engenharia Civil e ministrava a disciplina Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. É de sua autoria o livro O Estado do Planeta. Sociedade de consumo e degradação ambiental (1999). Foi ainda diretor técnico do Instituto Brasil PNUMA (Comitê das Nações Unidas para o Meio Ambiente), diretor da Associação de Amigos do Jardim Botânico, conselheiro de várias ONGs de conservação ambiental e sócio-gerente da Hólos Consultoria Ambiental.

Carlos Secchin, fotógrafo que participou com ele em vários trabalhos, escreveu sobre o professor Carlos: “Não havia limite para seu interesse sobre todas as formas de vida e sua preocupação com o nosso futuro próximo e sombrio, baseado, segundo ele, num sistema econômico montado sobre um crescimento crescente, ilimitado e insustentável.”

Veja aqui a homenagem do Instituto ((o))eco.

Ana Waleska Pollo Campos Mendonça (?-2017) _

(22 de maio de 2017)

Especialista em História da Educação no Brasil, a Profa. Ana Waleska Pollo Campos de Mendonça fez seus estudos de graduação (1967), o mestrado em Educação, com foco em Planejamento Educacional (1974) e o doutorado em Educação Brasileira (1993) pela PUC-Rio. O pós-doutorado, em História da Educação, foi feito na Universidade de Lisboa, concluído em 2004.

Professora Titular do Departamento de Educação da nossa Universidade, atuava nos cursos de graduação e pós-graduação, desenvolvia pesquisas na área de História da Educação, com ênfase nas linhas de História das Ideias e Instituições Educacionais e História da Profissão Docente. Integrou também as duas primeiras diretorias da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE).

Segundo o Prof. Ralph Ings Bannell, Diretor do Departamento de Educação da PUC-Rio:

Ana Waleska era, sem dúvida, um dos membros mais importantes do corpo docente do Departamento de Educação dessa Universidade, bem como uma figura ímpar para além do departamento.

Ela foi uma das primeiras alunas do Curso de Pedagogia do Departamento e uma das fundadoras do Programa de Pós-Graduação. Também exerceu, ao longo da sua trajetória acadêmica, vários cargos administrativos no departamento e fora dele, no âmbito da Reitoria.

Waleska se tornou uma das mais destacadas pesquisadoras da história da educação no Brasil, formando gerações de novos pesquisadores e produzindo uma bibliografia invejável e de enorme importância. Além disso, ajudou a fundar a Sociedade Brasileira de História da Educação e influenciou colegas pelo Brasil a fora e em outros países com suas intervenções em congressos, seminários e colóquios. Como docente era admirada e respeitada por todos.

Waleska não era somente uma brilhante pesquisadora da história; ela era também protagonista da história da educação brasileira. Seu compromisso político em prol da democracia se mostrou ao longo da vida dela e em todos os fóruns nos quais ela teve presença. Nas reuniões no Departamento, frequentemente nos ensinou as implicações políticas das nossas decisões e nos lembrou do passado para entender melhor o presente. Aliás, Waleska sempre foi uma presença marcante em todos os espaços que ocupou.

 

 

Carlos Dório Gonçalves Soares (1936 - 2013) _

O Prof. Carlos Dório morreu em consequência de complicações de uma pneumonia aos 77 anos.

Carlos Dório era natural de Vitória, no Espírito Santo, e atuou por muitos anos no Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Foi um dos professores responsáveis pela consolidação do Departamento e foi também coordenador do curso de Graduação. É autor do livro Delinquência juvenil na Guanabara, publicado em 1973. Foi também do quadro docente da UFRJ, nomeado como professor assistente em 30 de outubro de 1969.

O Departamento de Comunicação registrou a morte do Professor, já aposentado, através da Rádio PUC, registro esse que está disponível no Portal PUC-Rio Digital. Na entrevista feita com alguns professores que o conheceram, fica patente a importância de Carlos Dório em mais de 40 anos de colaboração com o Departamento de Comunicação. A Professora Angeluccia Bernardes Habert sublinhou seu caráter ao mesmo tempo tranquilo e firme e sua colaboração constante na administração do Departamento, onde soube inspirar confiança a alunos, funcionários e professores. Para ela a principal característica de Dório era a generosidade. A Professora Claudia Brutt Guimarães, que foi sua aluna, lembrou que o professor levou seus alunos de graduação para estagiar na Companhia Telefônica Brasileira, onde desenvolvia uma pesquisa sobre o uso dos orelhões (telefones públicos) pelos cariocas.

Seus colegas e alunos assinalam unanimemente a alegria como marca da personalidade de Carlos Dório, que caracterizam como um grande conversador e um homem que sabia viver.

Therezinha Arnaut (-2022) _

Terezinha Arnaut (-14/09/2022) foi uma das pioneiras da chamada segunda geração do Serviço Social, isto é, aquela formada entre os anos de 1950 e 1965. Graduou-se na Escola de Serviço Social do Instituto Social, hoje Departamento de Serviço Social e dedicou a sua vida acadêmico-científica a contribuir na formação de novos profissionais e a participar no esforço coletivo de resposta aos desafios teórico-práticos da disciplina.

Foi supervisora de campo de estágio, professora da graduação e da pós-graduação, além dos cargos administrativos assumidos, tal como o de diretora do Departamento, numa trajetória que cobriu os anos entre 1965 até 1999.

Atenta ao contexto histórico, conjugando prática e ensino, participou de eventos relevantes do Serviço Social representando a Universidade, assim como organizou seminários e cursos sobre temas desafiadores e inovadores para a reflexão interna e de pesquisa dos docentes e discentes. Em 1989, o seminário Envelhecimento: um Desafio dos dias de hoje, organizado em parceria com a Associação Nacional de Geriatria - Seção Rio de Janeiro e o Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais, e, em 1992, o Projeto Novidade, que abriu a Universidade para pessoas com mais de 60 anos frequentarem um curso com aulas expositivas e outras práticas pedagógicas envolvendo exposições sobre Filosofia, Psicologia, Sociologia, Ética e problemas sociais, entre outros assuntos, são exemplos desse trabalho.

Na mesma direção - integrar ensino, pesquisa e extensão - iniciativas foram realizadas na área da matéria sobre família, na graduação e pós-graduação, sobressaindo-se o seminário Família, ontem, hoje, amanhã, em 1990, cuja documentação serviu de base a estudos variados e novos projetos. No campo da inserção na comunidade de capacitação e assessoria na área social, é bom salientar sua passagem como presidente do Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS), organização representante do Conselho Internacional de Bem-estar Social (ICWS).

Mas o olhar do passado, no existir do presente, deixa saudades da professora que tinha a capacidade de falar e ouvir, mover-se no mundo no seu tempo histórico com crítica, criatividade e solidariedade. 

Texto com a colaboração da profa. Ilda Lopes (VRAC)

Sérgio Luiz Bonato (?-2015) _

O Prof. Bonato era graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1979) e Mestre em Educação pela Uerj (1998). Atuava como professor pesquisador na área de educação comunitária e na Graduação no curso de Comunicação Social. Desde 2003, Bonato atuava no Núcleo de Comunicação Comunitária do Projeto Comunicar e organizava cursos e oficinas para agentes da Pastoral da Comunicação e moradores de favelas do Rio. Era também pesquisador pela Capes/UAB na área de Educação e Comunicação a Distância na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), em projeto desenvolvido em conjunto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, Faperj.

Professor da PUC-Rio desde 1992, Bonato faleceu no dia 29 de maio. Filósofo e mestre em Educação, o professor foi um dos idealizadores do Fundo Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio (Fesp), em 1997, para prestar auxílios de transporte e alimentação a alunos com bolsas comunitárias. Em 1996, foi um dos idealizadores da FEVUC - Feira de Valores da Universidade Católica.

A secretária Maria de Belém, da Pastoral Universitária Anchieta, enfatizou o engajamento de Bonato em trabalhos sociais e a importância da contribuição dele à Universidade por meio do Fesp:

Sérgio deixou para a universidade o Fundo Emergencial de Solidariedade, projeto que foi criado para alunos bolsistas sem renda para transporte e alimentação. No início, o projeto alcançava somente 30 pessoas, mas, com o passar do tempo, Sérgio sensibilizou a Universidade e, hoje, mais de 800 alunos estão inscritos. Desde 1997, ano inicial do projeto, muitas pessoas foram alcançadas. Sérgio era uma pessoa muito humilde. Todos que chegavam a ele com problemas e preocupações podiam contar com sua ajuda. Ele sempre arranjava uma maneira de minimizar ou até mesmo de chegar à solução de um problema.

Foi Presidente da Federação das Associações de Moradores do estado do Rio de Janeiro (Famerj) e dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT). Além de fundador da Central de Movimentos Populares (CMP), participou do movimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) dentro da Igreja Católica, e do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, tendo trabalhado em diversas ONGs com educação popular. Bonato teve grande atuação nos anos 1980 e 1990 em São João de Meriti e por toda a Baixada Fluminense.

O Prof. Augusto Sampaio, Vice-Reitor Comunitário da PUC-Rio, ressaltou o exemplo que Bonato representava para os jovens estudantes confrontados com a competitividade do mercado de trabalho:

Jovens são treinados para competir, e a solidariedade deixou de ser um componente importante no mundo. Hoje é tudo concorrência, competição e egoísmo. As pessoas são olhadas pelo cargo que ocupam, pelo restaurante que vão. O Bonato representava o oposto: solidariedade, cooperação.

(Departamento de Comunicação Social) (+29 de maio de 2015)

Antônio Ferreira Paim (1927-2021) _

Morreu, aos 94 anos, o filósofo e historiador baiano Antônio Ferreira Paim, considerado um dos expoentes do pensamento liberal brasileiro. Paim estudou Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde depois se tornou professor. Lecionou na PUC-Rio, nos anos 1970, e coordenou, no Departamento de Filosofia, o mestrado em Filosofia e Pensamento Brasileiro.

Autor premiado do Livro de Estudos Brasileiros (1968) e do clássico História das Ideias Filosóficas no Brasil, pelo qual foi vencedor do Prêmio Jabuti, em 1985, dedicou-se ao estudo do pensamento filosófico brasileiro e do pensamento político. Foi autor de História do liberalismo brasileiro (1998) e A querela do estatismo (1994), no qual aborda o patrimonialismo na realidade brasileira. Também tem títulos publicados na área da Filosofia da Educação e da Moral brasileira, como Momentos decisivos da história do Brasil. Foi um dos fundadores e presidente de honra da Academia Brasileira de Filosofia.

No campo da política, elaborou projetos preparatórios para a Constituição de 1988. Em sua juventude, Paim foi filiado ao Partido Comunista do Brasil, motivo que qual chegou a ser preso. Estudou teoria leninista na Universidade Estatal de Moscou. O rompimento veio com a divulgação dos crimes de Stálin, em 1956. “Não dava para ficar no partido depois daquilo. Da minha geração, ninguém ficou", contou Paim em entrevista de 2019. Isso não impedia que ele fosse reconhecido por representantes da esquerda no Brasil e dialogasse com eles. Aldo Rebelo, ex-ministro dos governos do PT e ex-deputado federal pelo PCdoB, também prestou sua homenagem e lembrou de uma entrevista que fez com Paim, também em 2019. "O Brasil perdeu hoje o grande intelectual e historiador das ideias Antônio Paim", escreveu.

Alceu Gonçalves de Pinho Filho (?-2020) _

O Prof. Alceu entrou para a PUC-Rio em 1965, a convite do Pe. Roser S.J., diretor do Instituto de Física. Foi Coordenador Central de Pós-Graduação (1973-1974) e decano do Centro Técnico Científico (1975-1981).

Tomou posse como membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em 1973, e foi membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp). Participou da primeira diretoria da Sociedade Brasileira de Física (SBF), em 1966-1967, tendo sido seu presidente em dois mandatos (1971/1973/1975). Faleceu aos 86 anos.

O prof. Fernando Lázaro Freire Júnior (FIS) nos lembra um pouco de sua história em texto publicado no site da Academia Brasileira de Ciências:

O início acadêmico de Alceu Gonçalves de Pinho Filho em física se deu no começo dos anos 50 ao terminar o seu curso secundário e conhecer Ugo Camerini, físico italiano emigrado, que havia trabalhado com Cesar Lattes na Universidade de Bristol. Tal encontro aconteceu graças a alguns grandes acontecimentos que motivaram e propiciaram a interação de jovens estudantes com pesquisadores bem conhecidos, como a descoberta do méson pi por Cesar Lattes, colaboradores em 1947 e a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949.

Alceu graduou-se em 1956 em engenharia civil pela Escola Nacional de Engenharia, Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Permaneceu no CBPF até 1960, quando partiu para a Universidade de Paris (Orsay). Doutorou-se em 1963, sendo orientado pelo renomado físico nuclear Jean Teillac; no ano seguinte, fez pós-doutorado no Centro de Estudos Nucleares de Saclay.

Na PUC-Rio, desde 1965, além da incumbência de gerenciar a instalação de um acelerador de íons de porte médio (tipo Van de Graaff, com 4 MV no terminal) – o maior do país naquele momento –, foi responsável pela construção de um prédio especial (dez andares, com estrutura específica para segurança radiológica) para abrigar o acelerador, oficinas, pesquisadores e pessoal técnico administrativo.

A atuação do Prof. Alceu nos 23 anos que esteve na PUC-Rio foi enorme e marcante. Consolidou o Grupo de Física Nuclear, até então voltado apenas para radiações do meio ambiente. Investiu na formação de um Grupo de Física de Partículas Elementares, convidando em 1968 os profs. Erasmo Ferreira e Nicim Zagury para aglutinar o Grupo. Defensor extremado da importância da excelência nas universidades, participou da Reforma Universitária, de 1966, que transformou o Instituto para departamento. Foi coordenador de pós-graduação até 1971, quando passou a ser diretor do Departamento de Física.

Pesquisador experimental habilidoso e possuidor de forte base teórica, o Prof. Alceu foi coautor de mais de 50 publicações em física nuclear e física atômica. Seus orientados o têm em alta estima pelo rigor científico dos seus trabalhos. Dirigiu as aplicações do acelerador de íons da PUC-Rio para física atômica de camadas internas, assumindo posição de vanguarda mundial ao que viria ocorrer na maioria dos laboratórios similares.

Em 1989, transferiu-se para o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), como professor titular. Aposentou-se em 2000, tendo sido diretor-executivo da Fundação Universitária para o Vestibular da USP (Fuvest/USP) por alguns anos.

A física brasileira, e em particular, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, muito devem ao Professor Alceu.

Manoel Luiz Salgado Guimarães (1952 - 2010) _

O Departamento de História da PUC-Rio une-se a toda a comunidade de historiadores brasileiros na dor pela perda do professor Manoel Luiz Salgado Guimarães.

Querido por todos os que foram seus colegas e alunos, o Professor Manoel Luiz Salgado Guimarães começou o curso de graduação em História na PUC-Rio; graduou-se na UFF (1977); era mestre em filosofia pela PUC-Rio – orientando do professor Eduardo Jardim de Moraes – (1982); era doutor em história pela Freie Universität de Berlin (1987); e era professor do Departamento de História da UFRJ e do Departamento de História da UERJ.

Todos os Departamentos de História do Rio de Janeiro, os Centros de Pesquisa em História do Rio de Janeiro, a Direção da Associação Nacional de História (ANPUH), que Manoel presidiu entre 2007 e 2009, a Regional da ANPUH-Rio de Janeiro, seus colegas, alunos e ex-alunos, seus amigos e sua família convidam para a Missa de 7º dia que será celebrada pelo Professor Manoel Luiz Salgado Guimarães no dia 4 de maio, terça feira, às 12:30 horas na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Campus da PUC-Rio, na rua Marquês de São Vicente 225 (Gávea), no Rio de Janeiro.

Renato Cordeiro Gomes (1943-2019) _

(05 de setembro de 2019)

O prof. Renato Cordeiro Gomes possuía graduação com Bacharelado e Licenciatura em Letras pela UFRJ (1967), graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela mesma UFRJ (1965), mestrado (1985) e doutorado (1993) em Letras pela PUC-Rio (1993).

Era professor do Departamento de Letras, consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, da FAPERJ e da CAPES. Foi coordenador da área de Linguística, Letras e Artes, e de Comunicação da FAPERJ (2000 a 2005) e membro do Comitê Assessor de Letras e Linguística do CNPq (2006 a 2009).

Atuava na área de Letras, em Literatura Brasileira e Literatura Comparada, e na área de Comunicação. Desenvolvia as linhas de pesquisa Representação na Literatura e na Cultura das Mídias, Literatura e Experiência Urbana e Cultura de Massa e Representações Sociais. Suas pesquisas tinham como foco a representação da cidade moderna e suas derivações pós-modernas; o Rio de Janeiro; João do Rio; identidade cultural; cultura das mídias e literatura brasileira contemporânea. Nascido no Rio de Janeiro, foi professor da PUC-Rio por 46 anos.

Um dos seus principais livros, Todas as cidades, a cidade, reflete suas observações como flaneur, como o era João do Rio, sobre quem se especializou. A cidade, o cinema e a Literatura eram suas paixões. O professor Renato Cordeiro Gomes faleceu no Rio de Janeiro, aos 76 anos.

Carlos Gustavo Scheffer Migliora (? - 2011) _

O Prof. Gustavo era doutor em eletrofísica pelo Polytechnic Institute of New York e fez parte do Grupo de Radiopropagação do CETUC entre 1975 e 2006. Desenvolvia suas pesquisas na área de Antenas e Propagação, foi professor de graduação e de pós-graduação em engenharia elétrica e orientou diversos alunos de mestrado e doutorado no CETUC, além de participar dos programas pioneiros de pesquisa desenvolvidos em parceria com a Telebrás.

Para o Prof. Silva Mello, Gustavo “será lembrado pela diversidade de seus interesses, por ter sido um grande conhecedor de jazz, por seu companheirismo e por seu humor cáustico.”

Carlos Alberto Gomes dos Santos (?-2017) _

(14 de julho de 2017)

Com mestrado (1978) e doutorado (1995) em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o Prof. Carlos Alberto Gomes dos Santos concentrou sua pesquisa em Filosofia da Ciência e era professor aposentado do Departamento de Filosofia, onde começou a lecionar em 1971. Foi diretor geral do departamento, coordenador de graduação, participante ativo de várias comissões acadêmicas e integrou por muitos anos o Conselho Diretor do Colégio Santo Inácio. Dedicou-se desde sempre a questões ligadas ao ensino de filosofia e à formação básica.

Segundo o Prof. Edgar Lyra, coordenador de graduação do Departamento de Filosofia:

Carlos Alberto foi um exemplo de pessoa afável, generosa e capaz de convívio com a diferença. [...]

Em nome do Departamento de Filosofia da PUC-Rio e de todos os que guardam na memória algo de suas lições deixo aqui o meu mais sincero e profundo agradecimento.

 

 

Ricardo Oiticica (? - 2013) _

O Professor Ricardo Oiticica, diretor do Instituto Interdisciplinar de Leitura – IILER - da PUC-Rio, morreu subitamente no dia 20 de outubro, pouco mais de um mês depois de ter assumido essa função. Era graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1984), mestre (1988) e doutor (1997) em Letras pela PUC-Rio. Foi pesquisador da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio e professor adjunto do Centro Universitário da Cidade. Foi Leitor da Université Stendall, em Grenoble (França), editor do jornal Verve e pesquisador da Fundação Biblioteca Nacional.

Mensagem do Reitor da PUC-Rio:

"A PUC-Rio manifesta seu sentimento de pesar pelo falecimento do nosso querido Professor Ricardo Oiticica, atual diretor do Instituto IILER, ocorrido na madrugada do dia 20 de outubro. A Universidade estende todo o apoio e solidariedade à sua família, além das orações para que o Senhor Deus o receba na pátria definitiva e eterna. A ele, nossa profunda gratidão pelo que fez em prol de nossa Universidade."

Prof. Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J.
Reitor da PUC-Rio

Herch Moysés Nussenzveig (1933-2022) _

O prof. Nussenzveig (16/01/1933-05/11/2022) atuou no Departamento de Física da PUC-Rio entre 1983 e 1994.

Graduou-se no IFUSP, Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Na mesma instituição, doutorou-se, em 1957, sob a orientação do Prof. Guido Beck, e iniciou sua brilhante carreira de professor. Na primeira metade da década de 60 frequentou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e fez diversos pós-doutorados em universidades europeias de prestígio. De 1965 a 1975, fixou-se na Universidade de Rochester, onde tornou-se Professor Titular; nessa época, acolheu alguns alunos da PUC-Rio que tiveram que deixar o país. De volta ao IFUSP, foi seu diretor, de 1978 a 1982. Em 1983, mudou-se para o Rio, onde foi contratado como Professor Titular pelo Departamento de Física da PUC-Rio. A partir de 1994, passou a integrar o Instituto de Física da UFRJ.

Além de ser um pesquisador excepcional, detentor de vários prêmios e títulos internacionais, o Prof. Moysés Nussenzveig contribuiu enormemente para a formalização de uma estrutura científica no Brasil. Nesse particular, participou de instituições como a Academia Brasileira de Ciências, CNPq, IMPA, PRONEX, entre outras, em cargos como coordenador de programas, membro de Conselhos Deliberativos, membro de Comissão de Avalição e Conselho de Fundação.

Como professor, ficou conhecido em todo o país por sua singular didática. Sua excepcional coletânea Curso de Física Básica, ainda hoje é utilizada na formação básica de Físicos e Engenheiros.

A trajetória de Nussenzveig refletiu as vicissitudes históricas que marcaram o desenvolvimento da Física Brasileira na segunda metade do século XX. Quando entrou para o curso, em 1951, a Física estava no auge de seu prestígio, dado seu papel crucial no desenvolvimento de armas e energia nuclear, e a jovem comunidade brasileira de físicos, que já havia alcançado prestígio internacional, soube utilizar esse prestígio para criar e ampliar instituições voltadas para o desenvolvimento de pesquisa em Física. O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas foi talvez o resultado mais notável desse processo e foi lá que Nussenzveig iniciou sua carreira como professor e pesquisador, em 1956.

Quando Nussenzveig terminou sua graduação, em 1954, o Brasil ainda não tinha um sistema de pós-graduação institucionalizado, mas a USP contava em seu quadro de professores com a presença do físico alemão Guido Beck, que havia emigrado para a América Latina antes da segunda guerra mundial, escapando do nazismo. Beck foi um dos muitos estrangeiros que ajudou a formar as primeiras gerações de físicos brasileiros. Comprometido com a formação de novos pesquisadores, Beck reconheceu o talento de Nussenzveig e se prontificou a orientá-lo em uma tese sobre um problema de Ótica, campo no qual Nussenzveig ganharia reconhecimento internacional e ao qual dedicaria a maior parte de sua carreira. Além disso, Beck cuidou para que, após defender sua tese de doutorado, em 1957, Nussenzveig complementasse sua formação em estágios de pós-doutorado na Europa. Entre 1958 e 1960, ele passou pelas universidades de Eindhoven e Utrecht, na Holanda, pelo Instituto Nacional de Tecnologia de Zurique, na Suíça, e pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

Nussenzveig retornou ao CBPF no começo da década de 1960 com a experiência acumulada na interação com alguns dos grandes físicos da época para dar início à sua própria linha de investigação. Entretanto, a crise econômica que assolou o Brasil no começo daquela década tornou demasiadamente árdua a tarefa de fazer pesquisa no país. Juntamente com sua esposa, Micheline, também professora do CBPF, decidiu emigrar para os EUA onde conseguiu o emprego de professor visitante da Universidade de Nova Iorque. O casal Nussenzveig juntou-se aos muitos cientistas brasileiros que, nos primeiros anos da década de 1960, por razões econômicas, se viram impelidos a deixar o país em busca de melhores condições para a pesquisa, o que gerou um fenômeno conhecido como ‘evasão de cérebro’. Mas o que para eles seria uma estadia curta, até que a situação econômica do Brasil melhorasse, com o golpe civil-militar de 1964, agora por motivações políticas, acabou se estendendo por mais de uma década.

Tornou-se professor visitante do Instituto de Estudos Avançados de Princeton e, em 1965, mudou-se para a Universidade de Rochester, sede de um dos mais famosos e mais importantes institutos de Ótica do mundo, onde tornou-se professor titular.

Em Rochester, Nussenzveig acompanhou de primeira mão a revolução na Física promovida pela invenção do laser, crucial para o surgimento de novos campos de pesquisa, como a Ótica Quântica e a Ótica Não Linear. Nussenzveig foi também ator importante na criação e consolidação desses campos. Primeiro, porque ministrou os primeiros cursos de Ótica Quântica na América do Sul; na PUC-Rio, em 1968, e na Escola Latino-Americana de Física, em La Plata, Argentina, em 1970. E depois, porque as notas de aulas daqueles cursos deram origem ao livro Introduction to Quantum Optics (1973), um dos primeiros livros didáticos que ajudaram na formação de pesquisadores nesses novos campos, como o foram Nicim Zagury e Sérgio Resende em suas pesquisas pioneiras em Ótica Quântica.

Em termos políticos, Nussenzveig foi parte de uma rede de solidariedade que se formou nos Estados Unidos em prol dos cientistas e estudantes perseguidos pelo regime militar brasileiro. Um de seus atos de grande impacto na história subsequente foi acolher na Universidade de Rochester um talentoso estudante que havia sido expulso da PUC por meio do Decreto 477 do governo de Arthur Costa e Silva, em 1969 -- que, entre outras coisas, resultou na expulsão de estudantes considerados subversivos das universidades brasileiras. O Agente 477, como o estudante ficou conhecido, era o físico Luiz Davidovich, que concluiu seu doutorado em 1975 sob a orientação de Nussenzveig e se tornaria uma liderança internacional em Ótica Quântica e uma grande liderança institucional da ciência brasileira, inclusive presidindo a Academia Brasileira de Ciências.

Nussenzveig retornou ao Brasil em 1975 e, desde então, foi professor pesquisador no Instituto de Física da USP (1975-1983), do departamento de Física da PUC-Rio (1983-1994) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-2022). Nesse período, ele continuou sua pesquisa em Ótica e deu início a uma nova linha de pesquisa em Biofísica, publicando e formando pesquisadores em ambas as áreas. Retornando ao Brasil em um período de expansão do sistema universitário, Nussenzveig dedicou-se também à melhoria do ensino de Física para a graduação e escreveu a coleção Física Básica, vencedora do Prêmio Jabuti, em 1999, e uma das principais referências dos cursos de Física básica nas universidades brasileiras. Ele contribuiu ainda para a divulgação científica e ensino básico por meio de projetos como a criação de kits científicos para atrair jovens do ensino médio para carreiras em ciência.

Membro atuante de várias instituições científicas, Nussenzveig contribuiu para estabelecer diálogo e cooperação entre físicos da América Latina e teve papel importante no Acordo de Não Proliferação de Armas Nucleares entre Brasil e Argentina. Por sua atuação multifacetada como pesquisador, professor, gestor e divulgador da ciência, ao longo de sua carreira Nussenzveig acumulou uma grande lista de distinções como a eleição como fellow da American Physical Society, da Optical Society of America e da Academia Mundial de Ciências TWAS, e prêmios como o Max Born, da Optical Society of America e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Além de tudo, Nussenzveig foi um grande defensor da ciência e da democracia brasileira até seus últimos dias.

Andrea de Castro Coelho Cintra (1941-2015) _

A Professora Andrea Cintra, falecida em 31 de julho, estava aposentada desde 2006, após 40 anos de trabalho e dedicação ao Departamento de Psicologia da PUC-Rio como supervisora clínica, na área de criança, e professora da disciplina Psicoterapia Infantil. Em 1989, defendeu, no Departamento, a dissertação de Mestrado intituladaFantasia de doença e fantasia de cura: um estudo sobre a adolescência de classe popular, orientada pela Profa. Terezinha Féres-Carneiro.

A Profa. Flavia Sollero (PSI) lembrou traços da sua companheira de trabalho:

A Profa. Andrea Coelho Cintra foi minha “supervisora de emergência” várias vezes. Quando, no início da carreira, eu não sabia o que fazer, pedia socorro a ela, que jamais comentou sobre isso, com aquela elegância e aquele bom humor que lhe eram característicos! Não podemos nos esquecer de pessoas tão generosas como ela! Andrea foi uma grande supervisora de estágio, criativa, com tiradas de um bom humor surpreendente. E generosa colega de trabalho no SPA do Departamento de Psicologia.

A Profa. Maria Inês Garcia de Freitas Bittencourt (PSI) realçou, em depoimento, as qualidades de equilíbrio e simplicidade da Profa. Andrea, sua impecável postura ética e sua dedicação ao trabalho:

Foi uma professora exemplar, que conquistava os alunos com sua sabedoria, e uma colega queridíssima por todos os que conviveram com ela.

A ex-aluna Sonia Ferreira Vianna assim descreveu Andrea Cintra:

Andrea [...] foi minha professora na PUC-Rio em 1966, quando eu estava no 4º ano da faculdade. Nesta ocasião, dava aula de Técnica de Exames Psicológicos, mais especificamente testes de personalidade (teste de Rorschach), TAF (Thematic Apperception Test), CAT (Children Apperception Test) e muitos outros. Era uma professora dedicada e com grande capacidade de avaliação diagnóstica e de síntese. Ensinou-me com muita didática e clareza a fazer um diagnóstico diferencial entre psicose, neurose, psicopatia, sociopatia, etc. Isto me deu uma base sólida e segurança para a minha vida profissional.

(ex-professora do Departamento de Psicologia) (+31 de julho de 2015) 

Ângela do Rego Monteiro (1943-2021) _

Ângela Maria do Rego Monteiro, professora da PUC-Rio entre 2002 e 2016, faleceu aos 78 anos.  Formou-se em Jornalismo, na PUC-Rio, em 1963. Começou a carreira no Jornal do Brasil, a convite do jornalista e professor da PUC-Rio Alberto Dines. Passou pelo suplemento feminino de O Globo e, aos 21 anos, participou da fundação do caderno Ela, do qual foi editora. Na Bloch Editores, foi editora de moda durante oito anos. Ângela lembrou essa época como das melhores de sua vida – ia à Europa duas vezes por ano e “era muito paparicada”, pois a revista Manchete tinha prestígio no exterior.

Voltou ao Globo para trabalhar na coluna de Ricardo Boechat, em uma parceria que durou 20 anos. Sobre essa fase, Ângela coescreveu o livro Toca o barco: histórias de Ricardo Boechat contadas por quem conviveu e trabalhou com ele. Continuou na coluna de Ancelmo Góis, que substituiu Boechat. Ancelmo promoveu-a à editora.

Após a aposentadoria, voltou à PUC-Rio, como professora do Departamento de Comunicação Social.

Diversos depoimentos ao Portal dos Jornalistas lembram as histórias que ela contava, ao mesmo tempo palpitantes e pedagógicas. “Não dava vontade de sair de perto”, sintetiza o professor Célio Campos.

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