(21/07/1949-06/09/2023)
Professor do Departamento de Geografia da PUC-Rio entre 1978 e 1987, lecionou diversas disciplinas no campo da Geografia Humana e teve participação política atuante junto à associação de docentes da PUC-Rio (ADPUC), na qual desempenhou papel relevante em momentos decisivos do movimento docente. Ganhou projeção nacional ao ser um dos principais organizadores do IV Encontro Nacional de Geógrafos, realizado na PUC-Rio em julho de 1980, momento de consolidação de uma perspectiva teórica de natureza crítica que renovou a ciência geográfica brasileira. O prof. Carlos Walter faleceu em Florianópolis, onde era professor visitante da UFSC.
Os professores João Rua (GEO/PUC-Rio) e Rogério Haesbaert (UFF) assim descreveram o geógrafo e sua trajetória:
Carlos Walter Porto-Gonçalves (1949-2023): um geógrafo inquieto e desafiador, fundamental na renovação da Geografia brasileira
Carlos Walter tinha muito orgulho de sua origem operário no subúrbio carioca, onde nasceu em 1949. Enfrentou muitas dificuldades em sua infância e, graças a boas escolas públicas, conseguiu ingressar na universidade. Realizou sua formação acadêmica – graduação, mestrado e doutorado – na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduou-se, em 1972, e finalizou o mestrado, sob orientação de Milton Santos, em 1985. Seu doutorado, orientando pela geógrafa Lia Machado, foi completado em 1998. Realizou ainda pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2017.
Além da Universidade Federal Fluminense, onde foi professor de 1987 a 2023, tendo obtido a posição máxima da carreira, a de Professor Titular em 2017, foi professor nas universidades Católica de Petrópolis (1973-1976), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1978-1987), Universidade do Estado do Mato Grosso (1999-2004), Universidade Nacional de Córdoba, Argentina (2014-2022) e Universidade Federal de Santa Catarina (2022-2023).
No Departamento de Geografia da PUC-Rio, de 1978 até 1987, destacou-se, em primeiro lugar, como professor de diversas disciplinas no campo da Geografia Humana. Exerceu participação política atuante junto à Associação de Docentes AD-PUC, na qual desempenhou papel relevante em alguns momentos decisivos do movimento docente. Além disso, ganhou projeção nacional ao ser um dos principais organizadores do IV Encontro Nacional de Geógrafos, realizado na PUC-Rio em julho de 1980, momento de consolidação de uma perspectiva teórica de natureza crítica que renovou a ciência geográfica brasileira. Foi ainda um dos articuladores de um encontro nacional de Filosofia e Geografia realizado em 1983 nessa instituição, que reuniu alguns dos principais expoentes do pensamento crítico da Geografia.
É necessário relembrar o contexto autoritário em que ocorreu essa renovação da Geografia no qual a PUC-Rio representou um verdadeiro refúgio para todos aqueles que, em diferentes áreas do conhecimento, resistiam e reforçavam o desdobramento dessa posição crítica. Carlos Walter teve grande importância nesse movimento de resistência, ao mesmo tempo que, em 1984, publicava seu primeiro livro, Paixão da Terra, evidenciando o seu pioneirismo na perspectiva ambiental da Geografia brasileira, que se consolidou com a publicação de (Des)Caminhos do Meio Ambiente, em 1989.
Ainda na década de 1980, fortaleceu seu envolvimento com os movimentos sociais em nível nacional, sendo um dos responsáveis pela vinda à PUC-Rio do grande líder ambientalista e seringueiro Chico Mendes, em 1987. A questão da criação das reservas extrativistas seria o tema de sua tese de doutorado, depois publicada em livro, Geografando – nos varadouros do mundo: da territorialidade seringalista (o seringal) à territorialidade seringueira (a reserva extrativista) (2003). Carlos Walter se envolveria ainda com diversos outros movimentos, como o dos Povos do Cerrado, o Movimento dos Pequenos Agricultores, o MST e a CPT, a qual assessorou, incluindo articulação com o bispo Dom Pedro Casaldáliga,
Em suas obras, destaca-se o seu profundo conhecimento sobre a realidade amazônica e seu engajamento na luta dos Povos da Floresta. Entre outros trabalhos, salientam-se dois livros: Amazônia, Amazônias (2001) e Amazônia – Encruzilhada Civilizatória: tensões territoriais em curso (2017).
Carlos Walter foi um dos maiores difusores da Geografia brasileira na América Latina, ao mesmo tempo em que foi o precursor da abordagem descolonial na Geografia brasileira. Sua obra A Globalização da Natureza e a natureza da Globalização, publicada em 2006 e traduzida para o espanhol em 2008, recebeu o prestigioso prêmio Casa de las Américas, em Havana, Cuba.
Recebeu o Prêmio Chico Mendes na Categoria de Ciência e Tecnologia, pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2004. Pelo reconhecimento de sua importância na Geografia brasileira, recebeu o Prêmio Geógrafo de Destaque Manuel Coreia de Andrade, concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia (ANPEGE), em Porto Alegre, 2017. Por sua relevância no pensamento geográfico latino-americano, recebeu ainda o Prêmio Milton Santos de Mérito Geográfico, outorgado pelo XVII Encontro de Geógrafos da América Latina, em 2019, Quito, Equador.