Nota de pesar da Reitoria em homenagem ao Professor Luiz Werneck Vianna:
Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2024.
É com grande pesar que a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) recebe a notícia do falecimento do reconhecido sociólogo Luiz Werneck Vianna, ocorrido hoje.
Luiz Werneck Vianna foi um intelectual de grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo. Seu legado se estende nas orientações de muitas gerações, estudos e reflexões sobre a sociedade brasileira, onde deixou uma marca indelével na história do pensamento social no Brasil.
Durante sua trajetória, contribuiu de forma significativa para o avanço do conhecimento científico e para o debate público, sempre pautado pela ética, pela integridade e pelo compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sempre foi muito generoso, com seus colegas professores e alunos, tanto no sentido intelectual quanto no sentido pessoal.
Em nossa Universidade, Professor Werneck contribuiu para a consolidação do nosso Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e rapidamente se tornou uma referência em nosso Departamento de Ciências Sociais e para toda a Universidade, onde continuou lecionando até o ano passado.
Expressamos nossas condolências à família, aos amigos e aos colegas de Luiz Werneck Vianna, e manifestamos nosso reconhecimento e gratidão por sua inestimável contribuição ao saber e à cultura.
Que seu legado continue inspirando gerações futuras e que sua memória seja honrada com o compromisso contínuo pela busca do conhecimento e pela transformação social.
Pe. Anderson Antonio Pedroso S.J. - Reitor da PUC-Rio
Nota do Departamento de Ciências Sociais, em 21/02/2024:
O Departamento de Ciências Sociais, com profundo pesar, comunica que o Professor Luiz Werneck Vianna faleceu nesta tarde. Em breve, a família irá informar sobre os ritos fúnebres, para que possamos abraçar sua família, e sua legião de amigos e discípulos, que este grande homem e mestre de muitas gerações fez e formou em sua longa e singular trajetória como Sociólogo e intelectual público. Morre um Grande Pensador Brasileiro!
Seguem data e horário do velório: Crematório da Penitência, 23/02/2024, Início do velório às 10 horas, sala 08.
Mensagem de Dom Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist., Grão-Chanceler da PUC-Rio e Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro:
Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2024
Revmo. Pe. Anderson Antonio Pedroso
Reitor da PUC-Rio
Recebi com pesar a notícia sobre o falecimento do Prof. Luiz Werneck Vianna, que nos deixa um significativo legado no campo acadêmico, contribuindo para a excelência da nossa Universidade no âmbito das Ciências Sociais e para o desenvolvimento do Brasil no compromisso com a justiça social. Apresento-lhe minhas condolências, que peço transmitir aos familiares, amigos e colegas dele na PUC-Rio. Unido a todos, elevo a Deus minhas preces pelo descanso eterno do Prof. Luiz Werneck e o consolo e a paz daqueles que guardam sua memória. Dedico a todos minha bênção fraterna e solidária.
Mensagem da Profa. Margarida de Souza Neves:
Escrevo para dividir com vocês a dor de uma perda. O pensamento social brasileiro perdeu um de seus grandes nomes contemporâneos. A universidade brasileira perdeu um pensador que formou gerações. A PUC-Rio perdeu um colaborador muito relevante, ex-professor do Departamento de História e professor do Departamento de Ciências Sociais. A arena pública e o debate de ideias perderam um de seus protagonistas mais brilhantes. A esquerda brasileira perdeu um quadro lúcido, corajoso, ético e crítico. Nós todos perdemos um colega insubstituível. E eu perdi um amigo querido.
Nesses tempos difíceis que vivemos, as perdas, sempre dolorosas, se tornaram dilacerantes. Precisamos dos que nos fazem acreditar na força da vida e nos ajudam a ter esperança. O Werneck, certamente, pertence a essa estirpe. E vai fazer muita falta.
Aos Departamentos de História e de Ciências Sociais, à toda a PUC-Rio, à multidão de seus ex-alunos, aos seus companheiros de lutas pela justiça e pela democracia, a seus muitos amigos e, muito especialmente, à sua família, meu abraço solidário.
Texto escrito pelo prof. Luiz Eduardo Soares, publicado no site A Terra é redonda (https://aterraeredonda.com.br/luiz-jorge-werneck-vianna-1938-2024/):
Nota em homenagem ao sociólogo carioca recém-falecido
Amigos e amigas, perdemos, ontem, 21 de fevereiro, um gigante: Luiz Jorge Werneck Vianna, aos 86 anos. Uma vida inteira dedicada a pensar o Brasil e a mudar esse país tão desigual e violento. Foi ele que me recebeu no partido comunista brasileiro nos anos 1970, na clandestinidade. Foi ele quem me ensinou a analisar a conjuntura, distinguir tática e estratégia, reler Karl Marx e Antonio Gramsci com os olhos postos no presente, sem dogmatismos.
Sua coragem, sua independência, seu espírito crítico, sua devoção à causa coletiva – sonhando um socialismo renovado, aberto e brasileiro – foram e são exemplos para a minha geração e as seguintes. Em tudo que fazia punha toda a sua paixão. Era lucidez, inteligência, compromisso e paixão.
Um erudito discreto, mas transgressor, uma usina exuberante de afeto e generosidade, às vezes disfarçada pela aspereza dos rompantes. Não conheço ninguém mais ético no desempenho de sua função acadêmica, ninguém mais avesso a cálculos carreiristas e a acomodações pusilânimes, ninguém mais íntegro.
Tive o privilégio extraordinário de ser seu aluno, amigo e companheiro, e de aprender com ele, mesmo quando divergíamos. Nos últimos tempos, quando problemas de saúde o limitavam, ele se mantinha otimista, absolutamente confiante em um futuro radicalmente democrático e socialista, apesar de tudo. Luiz Jorge Werneck Werneck parte, nos deixa desolados e muito mais pobres, mas, como talvez dissesse: parte cheio de esperança no trabalho da história.
Todas as homenagens que prestemos à sua memória serão insuficientes para retribuir o que lhe devemos. Ele nos deixa como herança, à qual temos o dever de não renunciar, sua comovente fé laica nas classes populares e no potencial criador da política, aliada ao pensamento crítico. Querido Werneck, o enorme contingente de seus alunos, colegas, camaradas e amigos, enquanto tivermos força, estaremos na luta e, de pé, ouvindo seu nome, diremos, juntos: presente!
Texto do prof. Marco Aurélio Nogueira, publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo:
Com o falecimento do sociólogo Luiz Werneck Vianna, ocorrido no último dia 21 de fevereiro, perderam as ciências sociais brasileiras um de seus mais importantes pesquisadores, autor de obras seminais e um incansável trabalhador intelectual, figura pública de rara envergadura.
Eu o conheci em meados dos anos 1970, nos ambientes frequentados por socialistas, comunistas e liberais democráticos, que formavam a esquerda do então MDB. Luiz Werneck Vianna acabara de defender sua tese de doutoramento (Liberalismo e sindicato no Brasil, 1976) e me lembro da generosidade com que recepcionou a resenha crítica que fiz do livro, no jornal Folha de S. Paulo.
Nas reuniões políticas que então transcorriam, sua mente se destacava pela argúcia e pela firmeza de convicções. Não abria mão do marxismo e não ocultava seus vínculos com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas não era um dogmático e recepcionava com respeito e admiração as mais diversas matrizes de pensamento. Demarcava um espaço dedicado a encontrar pontos de equilíbrio e consenso, sem os quais, dizia, seria impossível construir uma oposição produtiva à ditadura e uma democracia sustentável. Já então, formulava a tese de que era indispensável olhar o mundo a partir dos atores que nele se moviam.
“Os fatos não passam de fatos e só vêm a integrar o campo da política na medida em que são organizados e interpretados por quem é ator em política”, escreveu Luiz Werneck Vianna numa passagem luminosa. “Pois a constituição de uma interpretação não é arbitrária e a concatenação dos fatos políticos depende de como o ator se inscreve na formação econômico-social concreta.”
Ao longo do tempo, Luiz Werneck Vianna faria dessa tese a base das formulações sobre a sociedade brasileira, suas transformações e suas possibilidades, determinadas por um dramático processo de “revolução passiva”, conceito que ele absorveu criticamente de Antonio Gramsci e com o qual procurou compreender a complexa e difícil emergência de atores com força reformadora que, no Brasil contemporâneo, não conseguiam escapar dos mecanismos de cooptação postos em prática pelo Estado.
A cooptação, para Luiz Werneck Vianna, travava e bloqueava, mas não impedia que avanços moleculares acontecessem: o Estado não agia sozinho, como um ente autônomo, mas era modelado pelos interesses sociais, que de certo modo o privatizavam. O Brasil se modernizaria em compromisso com o atraso histórico. Revoluções ocorreram em condições de “modernização conservadora”, quer dizer, sem “rupturas radicais” com o status quo, ou seja, de maneira processual. Bom exemplo disso está no livro A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (1997).
Luiz Werneck Vianna foi um acadêmico diferenciado. Pesquisou e estudou muito, transitando entre a teoria, a leitura dos grandes clássicos, o direito e a sociologia. Seu foco primordial, no entanto, era a política, que abordava a partir de um realismo crítico bem elaborado e de uma incansável preocupação de compreender o quadro social em sua integridade. Werneck foi um apaixonado pelo trabalho que realizava. Tinha seus princípios e suas convicções, mas não deixava de assimilar o que pensavam e escreviam os intelectuais que caminhavam em outras direções.
Não era um conciliador, mas sim um pensador aberto ao mundo das ideias e inconformado com a situação política e social do Brasil. Suas inquietações ganhavam corpo a partir de um diálogo criativo com as questões públicas mais importantes de cada conjuntura, sempre atento às possibilidades que se ofereciam a um movimento democrático que se posicionasse de modo amplo e plural.
Por isso, quando, em 2010, a Universidade Federal de Juiz de Fora publicou um livro com artigos que discutiam sua obra e sua trajetória, os organizadores (Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto) foram felizes em dar ao livro o título de Uma sociologia indignada, expressão que cabia como uma luva na persona e na produção de Luiz Werneck Vianna, “um intelectual admirável não apenas pela sua obra acadêmica e pela sua relevante inscrição na esfera pública, mas por uma enorme generosidade e respeito com seus colegas de profissão e seus alunos”.
A obra de Werneck Vianna foi decisiva para que compreendêssemos melhor a história brasileira, estabelecendo um modo de pensar a sociedade, o Estado, a política e a democracia. Para ele, a política era criação de Estados, de vida coletiva e de domesticação democrática do poder, não se reduzia a momentos eleitorais, nem muito menos podia ser tratada como “produzida de cima para baixo, subestimando a capacidade da sociedade de se auto organizar sem a indução benevolente de um governo compadecido”.
Homenageá-lo hoje é manter viva a memória de um combativo, erudito, generoso e indignado intelectual, que olhou um país desigual, injusto e violento como o Brasil com lucidez e esperança, apostando na força da sociedade civil e no potencial desbravador da política. Foi um privilégio poder ter sido seu amigo e aprender com seu pensamento. Devemos muito a ele.
Nota de pesar da ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais.
Matéria do O Globo sobre o prof. Luiz Werneck Vianna.
Matéria da Carta Capital sobre o falecimento do prof. Luiz Werneck Vianna.