O Núcleo de Memória da PUC-Rio recebeu, com pesar, a notícia da morte de Thierry Linard de Guertechin S.J., ocorrida em São Paulo na madrugada do domingo, dia 30 de Janeiro de 2022.
Thierry era belga, fez na Bélgica sua formação como demógrafo e doutor em demografia, e também como jesuíta. Em 1975 veio para o Brasil. Foi professor de demografia no, então, Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio de 1975 até os anos 1990. Foi também professor do IBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento) e, por anos, morou e atuou na Rocinha, como assessor de movimentos sociais e como pároco. Quando o IBRADES foi transferido para a Brasília em 1998 o Pe. Thierry também transferiu-se para lá, onde trabalhou e dirigiu esse Instituto, participou ativamente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, e coordenou atividades do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida. Foi também assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Diretor do Centro Cultural dos jesuítas em Brasília.
Os que convivemos com ele na PUC-Rio, lembraremos a presença serena de Thierry no campus, sempre com seu cachimbo aceso no canto da boca quando passava pelos pilotis depois das aulas e reuniões no Departamento. Na Rocinha, onde viveu e atuou, será sempre lembrado com carinho e reconhecimento. E em Brasília, onde vivia e trabalhava ultimamente, certamente fará muita falta.
Em nome da equipe do Núcleo de Memória da PUC-Rio,
Margarida de Souza Neves
Nota publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):
Faleceu o padre Thierry Linard, assessor especial da CNBB para as análises de conjuntura
Faleceu na madrugada deste domingo, 30 de janeiro, o padre jesuíta Thierry Linard de Guertechin, missionário jesuíta que atuou como assessor especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) responsável por contribuir na construção das Análises de Conjuntura. Ele se encontrava em tratamento de saúde em São Paulo (SP).
De acordo com a Companhia de Jesus, congregação da qual era missionário, o corpo será sepultado em Brasília (DF). Nesta segunda-feira, haverá missa de corpo presente no Centro Cultural de Brasília (SGAN Qd 601 Mód. D – Asa Norte), às 19h. Preside a Eucaristia o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa.
Amanhã, dia 1/2, às 7h, o superior e coordenador do Núcleo Apostólico Brasília-Goiânia dos Jesuítas, padre Antônio Tabosa, preside outra missa de corpo presente. As celebrações serão transmitidas pelo Youtube, no canal Oração Diária.
O sepultamento será no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, amanhã, mas sem confirmação de horário.
Biografia
Nascido no dia 7 de abril de 1944, em Bruxelas (Bélgica), Padre Thierry entrou na Companhia de Jesus em setembro de 1962. Toda a sua formação foi feita na Bélgica e lá foi ordenado, em 28 de junho de 1975, pelo cardeal Joseph Suenens, arcebispo de Bruxelas-Malines.
Missionário no Brasil
Um ano antes de sua ordenação, nutria o desejo de atuar como missionário na Índia, mas fora desaconselhado pelo padre geral da congregação, por conta das dificuldades de conseguir visto para o país. Os padres brasileiros que conheceu no curso de Teologia o estimularam a vir ao Brasil dedicar-se à missão.
Assim, meses após a ordenação, em 13 de novembro de 1975, Thierry viaja ao Brasil. No Rio de Janeiro, trabalhou por 20 anos, com atuação na PUC-Rio como professor e na favela da Rocinha, onde se instalou.
Academia e instituições
Além da formação em Filosofia e Teologia, tinha mestrado em Demografia, pela Universidade Católica de Lovaina e em Geografia na Universidade de Liège, Bélgica. Foi professor na PUC-Rio de 1975 a 1996, no departamento de Sociologia e Ciências Políticas.
Atuou no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBRADES/Centro João XXXIII), do qual foi diretor. Na Rocinha, manteve um trabalho pastoral e forte ligação com a comunidade. Ali, deu início à Ação Social Padre Anchieta (ASPA), onde foi assessor e diretor espiritual.
Entre os temas abordados em suas publicações, destaca-se economia do desenvolvimento, população, migração internacional, formação social e política. Entre as contribuições para a reflexão dos bispos, padre Thierry ofereceu o Mapa das Religiões, publicação sobre a pertença religiosa no Brasil a partir dos censos do IBGE.
Em 1998, com a mudança do Ibrades para a Brasília (DF), padre Thierry mudou-se para a Capital Federal, onde, além de trabalhar no instituto (onde foi diretor, de 2000 a 2004), tornou-se membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese e da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à CNBB.
Foi diretor do Centro Cultural de Brasília de 2005 a 2011. Chegou acompanhar a Comunidade de Vida Cristã (CVX) e ter ministérios na periferia. Mais recentemente, foi coordenador do projeto Diálogos em Construção do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (Olma).
Neste período em Brasília, contribuiu no serviço de assessor especial e perito para as Análises de Conjuntura, além de assessorar em todo o país dioceses, comissões, pastorais e organismos da Igreja.
Nota publicada no Jornal Fala Roça:
Morre o padre Thierry Linard, jesuíta ligado a ações sociais na Rocinha
Espremida entre moradias e comércios no Largo do Boiadeiro, a capela Nossa Senhora Aparecida guarda histórias. Uma delas, lembrada por moradores católicos, é de um homem branco, estrangeiro, com sotaque belga e mangas arregaçadas. Era o padre Thierry Linard de Guertechin que ajudou a “virar a laje” com a ajuda de fiéis na década de 80.
O missionário jesuíta nasceu em 1944, em Bruxelas, na Bélgica. Entrou para a igreja católica em 1962. Padre Thierry Linard inicialmente queria ir para a Índia em missão, mas foi incentivado a vir para o Brasil por padres brasileiros que conheceu no curso de teologia em sua cidade natal. Desembarcou no Brasil em 1975 onde escolheu o Rio de Janeiro para trabalhar como professor na PUC-Rio. Lecionou de 1975 a 1996, no departamento de Sociologia e Ciências Políticas.
Pela proximidade com a faculdade, passou a frequentar a Rocinha e se apaixonou. Ele acreditava que para acabar de vez com o assistencialismo, que não resolve o problema da favela, os moradores deveriam organizar a vida social.
Numa entrevista ao jornal Tribuna da Imprensa, em 1984, avaliou a potencialidade dos moradores. “Um grupo organizado se faz ouvir sem precisar estar ligado a partidos políticos. A força do grupo leva à obtenção dos objetivos”, disse ele ao criticar o conformismo.
Para Linard, o conformismo gera o imobilismo dos moradores que preferiam deixar os problemas para as autoridades resolverem. Através das inúmeras atividades que os centros comunitários passaram a desenvolver, provocou os moradores a pensar sobre os problemas mais imediatos de suas vidas, transformando o conformismo em luta, sem esperar os favores caírem dos céus.
Na Rocinha, enfrentou inúmeros desafios com os jesuítas porque seus superiores, a quem devia obediência, não viam com bons olhos o trabalho na favela. Comprou uma casa na antiga Rua 4, e assim como os moradores da localidade viu sua residência dar espaço para a famosa Rua Nova após as obras do PAC 1, em 2010. A casa lhe servia de moradia, mas também abrigava encontros das pastorais da capela na década de 90 e início dos anos 2000.
Nos anos 80, participou dos mutirões de limpeza, canalização das valas e construção de moradias dignas, além de reivindicar melhores condições de vida para os moradores. O trabalho pastoral foi estendido à Ação Social Padre Anchieta (ASPA), onde foi assessor e diretor espiritual, participando ativamente mesmo à distância através de chamadas de vídeos.
Colaborou durante anos com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como assessor especial e integrou o grupo de peritos que produz a Análise de Conjuntura mensal para a entidade. Em Brasília, ficou 20 anos, e esteve à frente do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades) e no Centro Cultural de Brasília, uma instituição dos padres jesuítas. Também trabalhou no Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida.
Mesmo após esses anos vivendo no Brasil, o padre não perdeu seu sotaque, e falar o português foi uma de suas maiores dificuldades. “O que me consola é que as pessoas são muito amáveis e dizem que o meu sotaque é charmoso”, dizia o religioso.
Muito querido por todos, o religioso colecionou amigos na Rocinha. Ao longo dos anos ele batizou inúmeras crianças. Nos últimos meses, Maria Coelho, secretária da capela Nossa Senhora Aparecida, passou a catalogar os batizados feitos pelo padre de 1981 até 2020. Entre 1981 e 1985, 1101 batismos passaram pelas mãos de Linard.
Thierry Linard faleceu na madrugada de domingo (30/1), aos 77 anos, na Casa de Saúde e Bem-Estar Nossa Senhora da Estrada, em São Paulo. Desde 2008, ele tinha diagnóstico de gânglios infectados na garganta. Foi submetido a vários procedimentos médicos. No ano passado, a situação se agravou e ele precisou afastar-se de suas atividades. Seu corpo será trasladado para Brasília, onde será sepultado no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul nesta segunda-feira (31/1).
Nota da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil:
REPAM-Brasil e CEA manifestam solidariedade pela páscoa do Padre Thierry Linard
A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil e a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia/CEA manifestam, em nota, solidariedade à toda a Igreja de Brasília-DF pela páscoa do Padre Thierry Linard.
O sacerdote jesuíta faleceu neste domingo, 30 de janeiro, em São Paulo. Desde 2008, ele tinha diagnóstico de gânglios infectados na garganta. No ano passado, a situação se agravou e ele precisou afastar-se de suas atividades, sendo transferido para a Casa de Saúde e Bem-Estar Nossa Senhora da Estrada, em São Paulo.
Celebração
De acordo com o Centro Cultural de Brasília, administrado pela Companhia de Jesus, congregação da qual era missionário, o corpo será trasladado para Brasília, onde será sepultado. Em função do deslocamento, a chegada do corpo acontecerá por volta das 17h desta segunda-feira (31/01).
Às 19h acontecerá a Missa de corpo presente presidida pelo Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa. Após a celebração, e durante toda a noite, acontecerá o velório no Centro Cultural de Brasília. Às 7h da manhã de terça-feira (01/02), acontecerá uma segunda Missa presidida pelo Padre Antônio Tabosa, SJ Superior do Núcleo Apostólico dos Jesuítas.
Nota do Conselho Federal de Economia:
É com grande pesar que o Conselho Federal de Economia tomou conhecimento do falecimento do padre Thierry Linard de Guertechin, ocorrido neste domingo, 30 de janeiro.
Com posicionamentos importantes e de bastante relevância para criação de melhores condições de vida para uma população esquecida e marginalizada, suas contribuições serão sempre lembradas na luta por um país mais justo e inclusivo. Seus ensinamentos continuarão a nortear as ações na nossa trajetória em prol dos menos favorecidos.
Assim, ao lado de fiéis, amigos, familiares e companheiros de luta, lamentamos a grande perda do padre Thierry Linard de Guertechin.
Econ. Antonio Corrêa de Lacerda, Presidente do Cofecon
Nota publicada no site Ignatiana, da Província dos Jesuítas do Brasil:
É com profundo pesar que a Província dos Jesuítas do Brasil informa o falecimento do Pe. Thierry Linard de Guertechin, SJ, na madrugada deste domingo (30). Ele se encontrava em tratamento de saúde em São Paulo (SP).
Nascido no dia 7 de abril de 1944, em Bruxelas (Bélgica), Pe. Thierry entrou na Companhia de Jesus em setembro de 1962. Toda a sua formação foi feita na Bélgica e lá foi ordenado, em 28 de junho de 1975, pelo Cardeal Joseph Suenens, Arcebispo de Bruxelas-Malines. No mesmo ano, em 13 de novembro, ele viajou ao Brasil como missionário. Em 2000, foi transcrito para a antiga Província Brasil Centro-Leste (BRC).
Formou-se em Demografia e lecionou essa disciplina na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), entre 1975 e 1979, exclusivamente. Depois, dividia as aulas na PUC-Rio com os cursos no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBRADES/Centro João XXXIII), as assessorias e o trabalho pastoral na Rocinha). Nesta comunidade pobre, o Pe Thierry adquiriu uma casa e nela fez uma experiência de inserção. Esta casa, hoje, é administrada pela Ação Social P. Anchieta (ASPA), entidade que tinha o jesuíta como Assessor e Diretor Espiritual.
Em 1998, com a mudança do IBRADES para a Brasília (DF), Pe. Thierry mudou-se para a Capital Federal, onde, além de trabalhar no instituto (onde foi diretor de 2000 a 2004), tornou-se membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese e da Comissão Nacional de Justiça e Paz, e coordenador do Diálogos em Construção (OLMA-Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida). Foi assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) até 2016 e Diretor do Centro Cultural de Brasília de 2005 a 2011. Chegou acompanhar a Comunidade de Vida Cristã (CVX) e ter ministérios na periferia.
Desde 2008, ele tinha diagnóstico de gânglios infectados na garganta. Já sido submetido por vários procedimentos médicos. No ano passado, a situação se agravou e ele precisou afastar-se de suas atividades, sendo transferido para a Casa de Saúde e Bem-Estar Nossa Senhora da Estrada, em São Paulo (SP). Faleceu neste domingo, às 1h da madrugada. Seu corpo será trasladado para Brasília, onde será sepultado. Em função do translado, ainda não temos definido os horários de velório, missa e sepultamento. Quando definidos, informaremos a todos.
A Província do Brasil se solidariza com os familiares do Pe. Thierry, jesuítas e amigos.