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Falecimento do Prof. Gláucio Ary Dillon Soares (CIS)

14/06/2021

Nota do Departamento de Ciências Sociais:

O Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio vem por meio desta lamentar o falecimento de Gláucio Ary Dillon Soares (1934-2021), um dos maiores cientistas sociais do Brasil. Gláucio foi aluno deste Departamento nos anos 1950, quando se aproximou da Sociologia e da Ciência Política, disciplinas emergentes na ocasião, e que ajudou a consolidar e a institucionalizar. Por sugestão do Padre Fernando Ávila, que fundara o curso de Sociologia e Política na PUC-Rio em 1954, foi fazer pós-graduação no exterior.  Posteriormente, foi professor da PUC-Rio, quando já era doutor com vasta produção, especialmente na área de metodologia. Aqui, Gláucio formou um conjunto de alunas e alunos que se destacaram na academia. Foi o primeiro a introduzir dados quantitativos nas ciências sociais, sempre com refinada postura analítica. Além da metodologia, pesquisou e escreveu sobre partidos, eleições, ditadura militar, violência entre outros temas. Era um apaixonado pela vida e ao fim da vida um homem de fé dentro de um espírito cristão que abraça a ciência, uma marca da PUC-Rio. Gláucio atuava como pesquisador do IESP/UERJ, tendo sido Presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) entre 2000 e 2004, e desde 2008 Secretário Geral da Associação Latino-Americana de Ciência Política (ALACIP).

Neste momento de tristeza, gostaríamos de deixar público nosso orgulho de que ele tenha feito parte da história de nosso Departamento.

Nota do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ:

IESP-UERJ lamenta a perda de Gláucio Ary Dillon Soares

Com o falecimento de Gláucio Ary Dillon Soares as ciências sociais perdem um de seus grandes nomes. Não apenas no Brasil, Gláucio se destacou no conjunto da América Latina, assim como nos Estados Unidos, onde lecionou por anos na Universidade da Flórida. Atuou nas três principais frentes que definem a obra de um cientista – na pesquisa, no ensino e na construção institucional. Fundou a moderna análise social e política brasileira ao iniciar sua formação na interface do direito com a sociologia. Muito jovem, já colaborava com Orlando Carvalho na saudosa Revista Brasileira de Estudos Políticos, veículo no qual publica artigos clássicos sobre o sistema político brasileiro do período 1946-64, tais como o problema das alianças e coligações e as bases sociais do voto lacerdista e trabalhista. Sobre o tema, lança, em 1973, Sociedade e Política no Brasil, verdadeira inflexão no estudo das relações entre estrutura social e comportamento político. Na obra, utilizou dados agregados à exaustão, acoplados à teoria e métodos econométricos sofisticados à época. Avançou pelos métodos qualitativos para examinar a questão militar no país e os desafios à transição. Mais recentemente, publicou bibliografia volumosa sobre criminalidade e violência, com ênfase no comportamento da polícia. Trata-se de uma das mais numerosas, variadas e qualificadas contribuições de um cientista social brasileiro.

Como mestre, formou diversas gerações, colegas que hoje atuam de maneira decisiva, sobretudo, nos programas de pós-graduação em sociologia e ciência política no Brasil. Desde cedo, já incentivava estudantes a se despirem do provincianismo e irem estudar no exterior. Coordenou pela FLACSO, ainda na década dos 60, programa de concessão de bolsas para o treinamento em pesquisa no Chile. Ajudou a fundar o primeiro programa de mestrado em ciência política no país, na UFMG. Após seu retorno da Flórida, ministrou cursos e orientou no Instituto de Ciência Política da UnB e, finalmente, no antigo IUPERJ, que depois viria a se tornar o Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), onde encerra a carreira, como professor do Departamento de Estudos Sociais. Gláucio, além disso, teve passagem por diversas Universidades do mundo como professor visitante, sempre deixando sua marca de mestre generoso, entusiasta incansável das novas gerações.

Como construtor de instituições, Gláucio presidiu a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) em momento decisivo, de institucionalização e consolidação e, logo após, fundou e secretariou a Associação Latino-Americana de Ciência Política (ALACIP). Em suma, seu falecimento deixa um enorme vazio em todos nós. Lutando há muitos anos contra um câncer agressivo, é finalmente atingido pelo flagelo da COVID-19. A comunidade do IESP-UERJ teve o privilégio de contar com sua presença quando decidiu permanecer no Rio de Janeiro. Em fins do século passado, Gláucio procura a diretoria do antigo IUPERJ para compartilhar seu desejo de dar seguimento ao seu ciclo de atuação acadêmica nesta instituição, por ele considerada como o lócus ideal de interlocução científica. Desejo prontamente atendido. A tristeza é certamente grande, mas reconforta saber que Gláucio permanecerá entre nós, em todos os momentos, através das instituições, das e dos estudantes e de sua imensa e brilhante obra.

Nota da Sociedade Brasileira de Sociologia:

Gláucio Ary Dillon Soares (1934-20121) era aluno de Direito nos anos 1950 quando entrou na PUC-Rio para estudar russo e lá encontrou a Sociologia e a Ciência Política. A partir dali as duas disciplinas, até  então enquadradas na área do Direito, não seriam mais as mesmas no Brasil. Andarilho do conhecimento e da pesquisa andou por várias universidades no exterior, as princi
pais nos Estados Unidos e no Chile.
 
Teve a sensibilidade de aprender o que havia de ponta nas instituições por onde andou e de perceber o processo de mudança que ocorria nas Ciências Sociais mundo afora. Entendeu a autonomia das disciplinas para efeitos metodológicos e investiu como ninguém do seu tempo em metodologia de pesquisa. Inovou ao estudar partidos e sua contraface classista (Sociedade e Politica no Brasil) e introduziu a pesquisa eleitoral como preditor do resultado das urnas.
 
Foi um professor querido nas várias instituições por onde andou no Brasil: PUC-Rio, FGV, IUPERJ, IESP-UERJ e UnB de onde teve que sair fugido do país. Sempre exigiu que seus alunos olhassem adiante do tempo quebrando as barreiras do comodismo. Dedicou-se também com afinco a estudos sobre a ditadura militar, área em que sua produção foi também grandiosa e dali partiu para se preocupar com a vida em outras dimensões.
 
Atuou em assessorias para segurança no trânsito (evitar mortes), entender como vivem os doentes de câncer (ajudar a viver) e celebrar a vida aos que querem desistir de viver (suicidas potenciais).
 
Homem ímpar nas ciências sociais brasileiras, em especial no campo metodológico, e um humanista raro no meio da aridez de nosso campo intelectual. 

O prof. Gláucio deu uma entrevista ao Programa de História Oral da Fundação Getúlio Vargas, no projeto Memória das Ciências Sociais no Brasil.

A Revista Pesquisa Fapesp publicou em dezembro de 2019 uma entrevista com o prof. Gláucio.


 

Fonte: facebook do Departamento de Ciências Sociais.
Fonte: facebook do Departamento de Ciências Sociais.