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Falecimento do prof. Carlos Nobre Cruz (COM)

15/10/2019

Texto publicado no site do Departamento de Comunicação Social

Carlos Nobre lega inspirações para a cidadania

Professor e pesquisador, sem jamais descuidar da alma e do ofício de repórter, Carlos Nobre animava-se em colaborar com o carnaval da Grande Rio para o próximo ano. O enredo Tata Londirá: o canto do caboclo no quilombo de Caxias, sobre o pai de santo Joãozinho da Gomeia (1914-1971), o Rei do Candomblé, inspira-se em estudos do jornalista dedicado à defesa dos direitos humanos, da justiça social e da cultura afrodescendente. Nesta terça (15), duas paradas cardiorrespiratórias, derivadas de complicações com a diabetes, impediram que Nobre, aos 66 anos, visse uma parcela importante da sua vida materializar-se na mistura de cores da Sapucaí. Mas suas reportagens, livros e lições compartilhadas na sala de aula ecoam na memória e nas batalhas contra o preconceito racial.

Carlos Nobre fez da vocação humanista e da luta contra o preconceito uma partitura. Uma partitura profissional e, sobretudo, de vida. Expressava-a tanto nas redações pelas quais passou, como no Jornal do Brasil e em O Dia, quanto na carreira acadêmica. Na PUC-Rio, ele lecionava Técnicas de Reportagem e Jornalismo e Racismo, do Depatamento de Comunicação Social. Era também pesquisador associado ao Núcleo Interdisciplinar de Memória Afrodescendente (Nirema).

Integrante da Associação Brasileira de Imprensa, na qual fazia parte da Comissão da Diversidade, ele orgulhava-se, com a discrição peculiar, de converter suas produções jornalístucas em vetores para a igualdade social e a valorização da cultura de matriz africana. Em várias reportagens, denunciou abusos contra negros e pobres em áreas periféricas do Rio. Carlinhos, como era chamado por colegas do JB, tornou-se um dos mais abnegados repórteres da cobertura policial nos anos 1970/80. 

Mestre em Ciências Penais, pela Universidade Cândido Mendes, ele estendeu à vida acadêmica o mergulho em temas como cidadania, igualdade e humanismo. Percorriam suas aulas, palestras, publicações.

Nesse trilho temático, Nobre viraria um especialista sobre o Rei do Candomblé. Programava para novembro, mês da Consciência Negra, o lançamento do Guia Afetivo sobre Joãozinho da Gomeia, a segunda biografia por ele dedicada a Gomeia. A primeira, GomeiaJoão: a arte de tecer o invisível, de 2017, fundamenta o enredo da Grande Rio para próximo desfile. Talvez Nobre intuísse que seus empenhos jornalísticos e acadêmicos ganhariam, cedo ou tarde, a eternidade do carnaval.

Matéria publicada no site GGN: "A morte de Carlos Nobre Cruz escancara nossa pobreza", por Sidney Rezende.

Nota de pesar da Fundação Palmares.

Matéria publicada no site da Associação Brasileira de Imprensa: "Carlos Nobre: o Rio perde parte da cultura negra".

 

 

Fonte: Comunicar
Fonte: Comunicar