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Falecimento do professor e economista Eduardo Marco Modiano

07/12/2017

O professor Eduardo Modiano nasceu em 20/07/1952. Foi aluno do curso de Engenharia da PUC-Rio entre 1970 e 1973, e professor do Departamento de Economia entre 1979 e 1984.

Obituário publicado no jornal O Globo em 08/12/2017 (Disponível em oglobo.globo.com/economia/morre-ex-presidente-do-bndes-eduardo-modiano-22162702):

Morre o ex-presidente do BNDES Eduardo Modiano

Ele comandou o banco nos anos 90 e iniciou processo de privatização de estatais

O ex-presidente do BNDES Eduardo Modiano morreu nesta quarta-feira no Rio, aos 65 anos, em decorrência de um câncer. Economista e engenheiro de formação, ele presidiu o banco entre 1990 e 1992, durante o governo de Fernando Collor de Mello, e integrou a comissão diretora do Programa Nacional de Desestatização, que iniciou o processo de privatização das empresas estatais no país.

Ele foi um dos principais formuladores do Plano Collor e parte da equipe da ministra Zélia Cardoso de Melo, que comandou o confisco das poupanças do país em um esforço para combater a inflação. Com o impeachment de Collor, pediu demissão do BNDES.

Antes de sua participação no governo, fez parte de discussões sobre os planos econômicos do governo de José Sarney, tanto Plano Cruzado quanto do Plano Bresser. Ele foi o responsável direto pelo desenvolvimento da Unidade de Referência de Preços (URP), uma ferramenta que permitia que o acúmulo inflacionário não fosse repassado rapidamente para os preços e salários, o que impedia a rápida propagação da inflação. Mas a ideia original foi alterada e ele não gostou: “A URP é minha, mas o arrocho salarial é do Bresser”.

Modiano ocupou diversos cargos em instituições financeiras, como no banco Itamarati e no banco Crefisul, e também foi consultor do banco Fonte-Cindam. Deixou a instituição quando o presidente, Luiz Antônio Gonçalves, foi acusado de crime contra o sistema financeiro por firmar empréstimos mútuos entre empresas nas quais o próprio Fonte Cindam tinha participação. Modiano foi excluído do processo promovido pela Comissão de Valores Mobiliário (CVM).

O ex-presidente do BNDES, que era sócio e proprietário no Grupo Modiano, deixa a mãe, Liliane Esther Modiano, a esposa, Andrea Saletto, e as filhas Daniela, Alessandra, Fabiana e Julia Modiano. O enterro de Modiano foi realizado nesta quinta-feira no Cemitério Israelita do Caju.

Em nota, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, destacou o pioneirismo de Modiano:

“Eduardo Modiano foi um presidente pioneiro. Assumiu a direção do banco num momento de grande desafio: implantar a desestatização. A estrutura talentosa do BNDES deu apoio e em 1991 o primeiro leilão aconteceu. Quanto aprendizado!! Tempos difíceis mas inspiradores. Modiano encarou o desafio. Hoje nós honramos sua memória”.

Ver também o obituário publicado na Folha de São Paulo e a nota do BNDES.

Matéria de Miriam Leitão publicada no Jornal O Globo, 07/12/2017 (disponível em blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/modiano-ousadia-e-tecnica-na-privatizacao.html)

Modiano: a ousadia e a técnica na privatização

No desenvolvimento das ideias que levaram aos planos de estabilização, estava Eduardo Modiano. Na execução do Cruzado, Modiano foi chamado pelos colegas da PUC que, em segredo preparavam o plano, para ir urgente à Brasília. Teve participação importante. Na arrancada do processo de privatização, a parte mais difícil por quebrar os tabus do estatismo brasileiro, Eduardo Modiano foi essencial. O economista faleceu ontem e a cerimômia fúnebre está sendo hoje no Cemitério Comunal Israelita do Caju.

Filho de um empresário de café, ele preferiu se dedicar inicialmente à vida acadêmica. Fez três graduações: engenharia de processos, administração e economia, e doutorado pelo MIT. Sua mente brilhante e criativa tornava-se mais eficiente pelo treinamento que a engenharia lhe dera. Sua intimidade com números o fez, por exemplo, iniciar o cálculo do PIB trimestral antes que o IBGE o fizesse.

As tardes das sextas-feiras no começo dos anos 1980 na PUC eram dedicadas aos debates dos estabilizadores, os economistas que procuravam um novo caminho para enfrentar a longa, persistente e cada vez mais ameaçadora inflação brasileira. Havia a trilha do controle da moeda, recessiva e inútil para o caso brasileiro de inflação indexada. Havia a trilha da convivência com a inflação e os equivocados acordos de preços. O Brasil precisava de algo inovador. Foi assim que surgiram as ideias, na PUC, que levaram aos planos, que erraram no começo, aprenderam com os erros e desaguaram no Plano Real. Modiano foi fundamental no debate que desenvolveu a teoria. Depois ajudou a implementar o Plano Cruzado.

Sua maior contribuição ao país, no entanto, ocorreu no BNDES, que presidiu de 1990-1992. Trabalhou no governo Collor, iniciou o desmonte do Estado que se agigantara ao ponto de sufocar o país, vendeu empresas estatais deficitárias enfrentando forte oposição. Apesar de ter executado essa tarefa, inédita até então, num governo que caiu por corrupção, jamais houve qualquer dúvida desta ordem nos processos que ele comandou.

A siderurgia brasileira era toda estatizada, as empresas davam enormes prejuízos. Além de mal geridas elas vendiam aço a preços subsidiados para empresas brasileiras e multinacionais no Brasil. Haviam se transformado numa forma de o Estado transferir riqueza para as grandes empresas privadas, deixando o prejuízo com os contribuintes. Modiano decidiu enfrentar esse problema de frente, começando a venda exatamente pela que tinha a melhor imagem e melhor desempenho: a Usiminas.

Antes de vender as empresas siderúrgicas, as participações nas petroquímicas entre outras estatais, Modiano no BNDES desenvolveu a metodologia de avaliação e venda de empresas estatais que acabou sendo usada em todas as privatizações que se seguiram. O processo de modernização do Brasil, uma tarefa ainda incompleta, deve muito à competência e a ousadia de Eduardo Modiano.

Ele deixa a mãe, Liliane, a mulher Andrea e as filhas Daniela, Alessandra, Fabiana e Júlia.

 

 

Eduardo Modiano. Fonte: https://br.financas.yahoo.com/noticias/eduardo-modiano-ex-presidente-bndes-230400374.html
Eduardo Modiano. Fonte: https://br.financas.yahoo.com/noticias/eduardo-modiano-ex-presidente-bndes-230400374.html