O Núcleo de Memória se une a familiares, amigos e alunos no pesar pelo falecimento do Prof. Hilton Ferreira Japiassu, aos 81 anos, em decorrência de um infarto. Ele era maranhense mas viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se formou em Filosofia pela PUC-Rio em 1969, e posteriormente também foi professor, assim como da UFRJ.
A missa de sétimo dia será às 10h, no dia 03/05/2015, na Igreja Nossa Senhora dos Rosários, na Rua General Ribeiro da Costa, 164, no Leme.
Mensagem da Profa. Sonia Kramer, do Departamento de Educação:
"Conheci Hilton Japiassu através do Prof. José Silvério Baia Horta que foi durante anos professor do Departamento de Educação na PUC-Rio. Japi - como todos o chamavam – me ensinou que não há possibilidade para a ciência humana se ela não se pensa a si mesma, não se coloca em questão, se desumaniza.
"Li inúmeros de seus livros, que sempre me surpreendiam pela lucidez, pela erudição e principalmente pela cumplicidade com o homem e pela indignação com a desistência de pensar, a burocratização do conhecimento que se torna cada vez mais instrumental. A Dimensão Machista da Ciência, Pedagogia da Incerteza, Nascimento e Morte das Ciências Humanas, Introdução ao Pensamento Epistemológico, Psicanálise: ciência ou contraciência?, As paixões da ciência, Nem tudo é relativo: a questão da verdade, e tantos outros me ajudaram a compreender a importância de perguntar, de pensar, de se indignar.
"Pelos seus textos cheguei a Foucault, Bachelard, Lacan, Ricouer. Seu dicionário – escrito com o Prof. Danilo Marcondes – sempre me ajudou a me mover nos caminhos da filosofia. Nas suas disciplinas – que cursei em 1988 e 1989 na UFRJ, de onde ele se tornou professor quando saiu da PUC-Rio – aprendi a inquietação e a dúvida, assim como o riso e a sabedoria. Seus ensinamentos me permitiram desconstruir o que havia aprendido nos anos de Graduação em Psicologia e, mais tarde, em Educação.
"Japi – como ele gostava de dizer – ajudou a me criar, com seus textos, seus conselhos e com seu exemplo, dividindo-se entre a vida intelectual, a ação política e o trabalho religioso na comunidade do Chapéu Mangueira, com sua postura, com sua presença, com sua força.
"Foram 37 anos de aprendizado e de uma amizade linda, permanente, persistente, ele sempre crítico, cuidando para que cada um de nós que o cercávamos se mantivesse digno, pensante, coerente. Ele foi parte da minha Banca de Doutorado em 1992 e de tudo o que aprendi, desde então, destaco dois pontos muito repetidos por Japi, e conhecidos pelos meus próprios alunos: (1) a ousadia como método; (2) a natureza da filosofia que não serve para nada, pois nunca pode ser servil. Este segundo ponto, por conta própria o ampliei em muitas aulas e escritos, afirmando que a arte não serve pois não pode ser servil, a educação não deveria servir, pois não deveria ser servil.
"Recebi de muitos alunos e ex-alunos lindas mensagens esta semana, me abraçando por esta perda. E me peguei pensando ao longo da semana, nos meus três queridos que se foram para a eternidade nesses três anos. Szyja Kramer, meu pai, judeu chassídico, sobrevivente de Auschwitz, que se foi há quase três anos; Leandro Konder, meu professor e orientador, filósofo marxista, que partiu há poucos meses e Hilton Japiassu, epistemólogo, professor, frade dominicano, que acaba de partir. Sou tão grata aos três, aparentemente tão diferentes, e que tanto me deram, ensinando-me amizade, dignidade, simplicidade, alegria e sua sabedoria.
"Queria contar dele para os que não o puderam conhecer. Os que o conheceram sabem que há muito mais a ser partilhado."
Mensagem da Profa. Tereza Cavalcanti, do Departamento de Teologia:
"Conheci o Prof. Japiassu nos tempos em que trabalhou no Departamento de Filosofia. Em sua preocupação com o diálogo interdisciplinar, fez amizade com muitos da Teologia e da Cultura Religiosa. Foi um mestre do Pensamento em quem a erudição não tirou a simplicidade e a simpatia.
"Faço minhas as palavras de Leonardo Boff:
'A singularidade do Prof. Japiassu foi entreter um diálogo profundo com as várias ciências humanas com a intenção de compreender mais radicalmente o ser humano. Seu tema era mais que a interdisciplinariedade. Era a transdisciplinariedade, quer dizer, o que existe para além das próprias ciências e como todas elas devem convergir na compreensão do que seja a realidade, a sociedade, o mundo e a vida e o ser que estão sempre para além de qualquer saber.'"