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Falecimento da professora Cleonice Berardinelli

31/01/2023

A profa. Emérita Cleonice Serôa da Motta Berardinelli (LET) faleceu no dia 31/01/2023, aos 106 anos. Ela estava afastada do magistério há alguns anos.

Dona Cléo era imortal da Academia Brasileira de Letras, e foi professora na UFRJ desde 1944 e na PUC-Rio desde 1963.

Mensagem do Reitor da PUC-Rio, prof. pe. Anderson Antonio Pedroso S.J.:

Com profundo pesar, a PUC-Rio recebe a notícia do falecimento da Professora Emérita Cleonice Serôa da Motta Berardinelli.

A Professora Bernardinelli, grande referência nos estudos em Literatura Portuguesa, pertencia à Academia Brasileira de Letras e formou gerações de professores e pesquisadores no Brasil e no exterior. O brilhantismo com que conduziu sua atividade como docente e pesquisadora nos impulsiona na busca por excelência e humanidade.

Seu legado será levado adiante e sua memória na PUC-Rio é e será sempre evocada pela sua dedicação, amor à literatura e à docência, bem como por sua vasta obra.

Nossos sinceros agradecimentos aos familiares e amigos. Que o exemplo da querida Professora Cleonice nos inspire a levar adiante a nossa missão na Universidade.

Nota do Departamento de Letras da PUC-Rio:

O Departamento de Letras comunica, com pesar, o falecimento da Professora Emérita Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, aos 106 anos. 

Dona Cléo, como era carinhosamente tratada, formou várias gerações de professores e pesquisadores, com as quais atuou na consolidação dos estudos de literatura portuguesa no Brasil. 

Deixa-nos uma vasta obra: livros, antologias, ensaios e estudos críticos que continuarão a ser referência na Área.

O seu reconhecimento nacional e internacional reflete o brilho com que atuou na docência, na pesquisa e na divulgação de importantes autores e obras literárias portuguesas e brasileiras.

Fará muita falta.

Esperamos que seus familiares, colaboradores, colegas, ex-alunas e ex-alunos possam encontrar consolo na memória da paixão com que exercia o seu ofício.

O velório será hoje, dia 1 de fevereiro, das 11h às 15h, no Petit Trianon, na sede da Academia Brasileira de Letras.

Prof. Alexandre Montaury Baptista Coutinho, Diretor do Departamento

Mensagem da profa. Margarida de Souza Neves (Núcleo de Memória da PUC-Rio) ao prof. Alexandre Montaury:

Hoje é dia de tristeza para todos nós que tivemos o privilégio de conviver com Dona Cleonice e de aprender com ela não só do muito que sabia, mas do que ensinava com o que era e continua a ser nas lembranças de cada um de nós e na memória dessa Universidade.  Sempre tão linda.  Sempre tão jovem.  Sempre tão sábia.

Hoje é dia de saudade.  Dia de Sa-u-da-de.  Com as quatro sílabas bem marcadas, por causa da métrica, como ela ensinou à Bethânia na gravação da Prece de Fernando Pessoa para o DVD O vento lá fora.

Hoje é dia de ouvir uma e outra vez a voz firme e doce de Dona Cléo ler, como só ela sabia ler, a Prece de Pessoa:

Senhor, a noite veio e a alma é vil.

Tanta foi a tormenta e a vontade!

Restam-nos hoje, no silêncio hostil,

o mar universal e a sa-u-da-de.

Hoje é dia de gratidão porque Dona Cléo teve vida longa.  Porque ela nos mostrou como navegar pelo mar universal da beleza e da poesia. E porque temos a sorte. de ter a vida dela em nossas vidas.

Por favor, diga a todos os professores, funcionários e alunos do Departamento de Letras, aos que cuidaram dela e à família que me uno a eles na tristeza, na sa-u-da-de e na gratidão.

Nota da Academia Brasileira de Letras:

Acadêmica e escritora Cleonice Berardinelli morreu na terça-feira (31), aos 106 anos, no Hospital Samaritano, vítima de insuficiência respiratória. Cleonice foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 2009, sucedendo Antônio Olinto, e era considerada uma das maiores especialistas do mundo em literatura portuguesa, sobretudo na obra de Fernando Pessoa. Ela era a sexta ocupante da cadeira nº 8 e a Acadêmica mais longeva da Instituição. O velório será hoje, dia 1 de fevereiro, das 11h às 15h, no Petit Trianon, na ABL. A cremação será na quinta-feira, dia 2 de fevereiro, com cerimônia somente para família. Também será realizada uma Sessão da Saudade na Academia em homenagem à autora.

Cleonice era licenciada em Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1938), doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1959) e livre-docente de Literatura Portuguesa por concurso pela Faculdade Nacional de Filosofia (1959). Foi professora emérita da UFRJ e da PUC- Rio e também deu aulas na Universidade Católica de Petrópolis, Instituto Rio Branco e foi professora convidada pelas Universidades da Califórnia, campus Santa Barbara (1985) e de Lisboa (1987 e 1989).

É autora de obras como "Antologia do Teatro de Gil Vicente" (1971), "Fernando Pessoa. Obras em prosa" (1975) e "Sonetos de Camões" (1980). A Acadêmica foi homenageada no cinema em documentários como "O vento lá fora", em que ela e Maria Bethânia leem Fernando Pessoa diante de uma plateia de convidados, e "Cleo", em que apresenta poemas recitados de cor. Em 2014, quando tinha 98 anos, recebeu o Prêmio Faz Diferença na categoria Prosa das mãos dos Acadêmicos Zuenir Ventura e do atual presidente da ABL, Merval Pereira.

A Acadêmica

Cleonice Serôa da Motta Berardinelli nasceu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1916, filha de Emídio Serôa da Motta e Rosina Coutinho Serôa da Motta. Como seu pai era oficial do Exército, morou em inúmeras cidades do Brasil, devido às sucessivas transferências, tendo residido por mais tempo no Rio e em São Paulo.

No Rio fez, no Instituto Nacional de Música, todos os cursos teóricos, nos quais se diplomou, sob a orientação do Maestro Oscar Lorenzo Fernandez, que também era seu professor de piano. Em São Paulo terminou o curso secundário e fez, na USP, o curso de Letras Neolatinas, onde teve como professor de Literatura Portuguesa o eminente mestre Fidelino de Figueiredo, que, ao fim do ano, a convidou para ser sua assistente. Contudo, uma nova transferência de seu pai, desta vez para o Rio, a levou a conhecer o então professor da mesma disciplina na Universidade do Brasil, Thiers Martins Moreira, que lhe fez o mesmo convite, definindo, então, o seu caminho.

No Brasil e no Exterior, proferiu diversas conferências e palestras em mesas-redondas. Recebeu, ao longo de sua trajetória, diversas distinções e homenagens, como Cleonice Clara em sua geração, livro de homenagem organizado por professores de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que contém ensaios de especialistas brasileiros e estrangeiros.

Nota da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra:

Cleonice Berardinelli: inegável decana dos Estudos Portugueses no mundo.

A FLUC manifesta o profundo pesar pelo falecimento da Professora Cleonice Berardinelli, esta terça-feira, 31 de janeiro, tinha 106 anos. “Ela faz parte da aristocracia do espírito, essa que sim é necessária para a evolução da sociedade” disse José Saramago sobre a primeira brasileira a escrever uma tese sobre Fernando Pessoa.

Cleonice Berardinelli exerceu o magistério por mais de meio século em universidades brasileiras, portuguesas e norte-americanas, era considerada a maior especialista em literatura portuguesa no Brasil.

Em maio de 2013, sob proposta da Faculdade de Letras, Cleonice Berardinelli foi distinguida com o Doutoramento Honoris Causa da Universidade de Coimbra, numa cerimónia na Sala dos Capelos - tinha 96 anos e era a primeira brasileira a receber o mais importante grau académico da instituição: “Significa muito. E para mim começa em D. Dinis. Foi ele quem fundou a Universidade [de Coimbra] e ele era o maior poeta trovadoresco em Língua Portuguesa. Uma figura que me parece muito positiva. E eu estar aqui significa, em primeiro lugar, aproximar-me mais de D. Dinis, e depois é conviver com alguns antigos amigos que cativei aqui”, disse em seu discurso de agradecimento e ainda declamou um trecho do poema de Fernando Pessoa a D. Dinis, que para ela "representa melhor o que estou vivendo hoje":

“Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que,
como um trigo De Império, ondulam sem se poder ver”.

Ver aqui a matéria do Jornal da PUC.

Ver aqui a matéria do jornal O Globo.

Ver aqui a matéria da Folha de São Paulo.

Veja aqui uma galeria de fotos da profa. Cleonice na PUC-Rio.

A profa. Cleonice Berardinelli em dezembro de 2014, no lançamento do DVD "O vento lá fora", que produziu junto com Maria Bethânia. Fotógrafo Antônio Albuquerque.
A profa. Cleonice Berardinelli em dezembro de 2014, no lançamento do DVD "O vento lá fora", que produziu junto com Maria Bethânia. Fotógrafo Antônio Albuquerque.