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12/04/1964 – No dia em que assumiu a Arquidiocese de Olinda e Recife


Sempre de braços abertos para todos, em sua casa nos fundos da Igreja de Nossa Senhora da Assunção das Fronteiras

 

[continuação] Texto da Professora Maria Clara Lucchetti Bingemer, Decana do CTCH (Centro de Teologia e Ciências Humanas) da PUC-Rio.

Dom Helder Camara: Um Pastor para o Século XXI (parte 3)

Desde Recife, sua sede episcopal a partir de 1964, foi responsável por um dos mais bem sucedidos focos de resistência ao regime militar. A repressão o golpeou duramente, proibindo qualquer meio de comunicação de citar sequer seu nome. Recebeu inúmeras ameaças de morte, tendo a casa metralhada e a vida constantemente exposta ao risco. Em 1969 foi assassinado depois de bárbaras torturas seu auxiliar direto na arquidiocese e responsável pela Pastoral da Juventude o Padre Henrique Pereira Neto causando-lhe dor profunda.

Entretanto, a repercussão internacional de seu carisma e atuação era cada vez maior. O apóstolo incansável da não violência ativa discursava pelo mundo inteiro pregando o inseparável binômio justiça e paz. A partir de 1970, por quatro anos consecutivos, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, sendo a indicação obstaculizada pelo governo brasileiro. Mas outros prêmios, muitos, lhe foram dados. Doutorados honoris causa, nos EUA, Bélgica, Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá e Estados Unidos, além do Brasil. Recebeu título de cidadão honorário de 28 cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau, na Suíça, e Rocamadour, na França. Além disso, o Prêmio Martin Luther King, nos EUA, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, procuraram reparar a injustiça pelo fato de o premio Nobel da Paz nunca lhe haver sido dado.

Assim prosseguiu até 1985, quando se tornou Arcebispo Emérito de Olinda e Recife. Foi substituído no Arcebispado, aos 76 anos, por limite de idade. Permaneceu em Recife, residindo humildemente nos fundos da Igreja de Nossa Senhora das Fronteiras da Estância de Henrique Dias.

As noites do Recife foram testemunha das vigílias feitas pelo arcebispo emérito olhando as estrelas e dialogando com o Criador. Dali saíram suas mais lindas poesias, textos de reflexão, cartas, onde a entrega nas mãos de seu Senhor podia ser sentida a cada letra. Eram escritos sobre a paz, sobre a presença de Deus e também e inseparavelmente sobre os pobres, a justiça, a importância dos cristãos estarem engajados nas grandes lutas da humanidade.

O chamado “Arcebispo Vermelho”, na verdade Profeta da Paz, permanece vivo. Aqueles que tentaram silenciá-lo e neutralizar sua profética atuação – quem se lembra sequer de seus nomes? Helder Pessoa Camara, no entanto, continua inspirando vidas e movendo corações. Sua vida é verdadeiro dom de Deus feito à sociedade e à Igreja brasileiras e universais. Dom do qual até hoje colhemos os frutos. O Evangelho ensina que se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão. Parece neste caso, não ter sido necessário. Neste ano de celebração de seu centenário a voz de Dom Helder continua falando, não através de pedras, mas da carne e do sangue, do corpo e da alma, da fé e do compromisso daqueles e daquelas que a ouviram e graças a ela se puseram mais radicalmente no seguimento de Jesus Cristo e na construção de seu Reino.

Maria Clara Lucchetti Bingemer
Decana do CTCH, PUC-Rio

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