Reitoria

      A pandemia veio sobre nós como um temporal inesperado, provocando estragos, alterando os nossos planejamentos, expondo algumas de nossas fragilidades institucionais e unindo a comunidade universitária na busca de soluções rápidas e eficientes. Em uma escala curta de tempo, fomos levados a repensar procedimentos, buscar saídas para os impasses, articular pessoas e recorrer à cultura de pertencimento existente na história da Universidade. Tudo o que era pensado para um semestre ou para todo o ano letivo, teve que ser repensado, articulado e solucionado em poucos dias, com objetivo de garantir a continuidade das atividades acadêmicas e administrativas. Embora enfrentando os desafios na mudança do modelo presencial para o remoto, com todas as implicações metodológicas e tecnológicas, a PUC-Rio conseguiu fazer esta transição sem muitos traumas, dando continuidade à programação acadêmica planejada e aprovada nas diferentes instâncias da Universidade. Mesmo convivendo com diversas racionalidades na Universidade, nossos distintos saberes tiveram que se adequar às mediações da racionalidade tecnológica, por diferentes acessos e aplicativos, sabendo que essas ferramentas são, nestes momentos, imprescindíveis para dar continuidade ao processo educativo e às sábias relações entre docentes e discentes. Entre as facilidades por parte de alguns, e dificuldades por outros, conseguimos responder positivamente ao método remoto, criando canais interdisciplinares e interdepartamentais mais rapidamente do que pela via presencial. Certamente, a ação protagonista dos vice-reitores, decanos, diretores, coordenadores centrais e setoriais, diretores de unidades acadêmicas complementares e responsáveis por setores acadêmicos e administrativos estratégicos da Universidade, foram relevantes e fundamentais para alavancar os processos, motivar e acompanhar as mudanças, avaliar o andamento das etapas, e garantir a continuidade do planejamento institucional.    

      Entre as várias questões que contribuíram para que a PUC-Rio pudesse adaptar-se aos novos e urgentes desafios, gostaríamos de sublinhar algumas mais relevantes. A primeira se refere à história de pertencimento vivida durante estes 80 anos de existência. Esta cultura de pertença tem sido fundamental nos momentos de desafios da Universidade, fato evidenciado de maneira muito forte nestes tempos de pandemia. A compreensão de que a instituição é um bem comum de toda a comunidade educativa se concretiza nos esforços pessoais e departamentais para enfrentar um novo modo de ser, mesmo diante dos limites e inseguranças, ad intra e ad extra. Compreensão, colaboração, diálogo, engajamento, inovação, determinação, adaptação, qualidade, valores, fé etc., são conceitos que fazem parte do ethos institucional de pertencimento. A segunda, diz respeito ao equilíbrio entre a excelência e a inclusão. A funcionalidade, a qualidade, a continuidade dos compromissos acadêmicos e a credibilidade, são critérios responsáveis pela fidelidade das classes pagantes, que têm nos ajudado a manter o equilíbrio econômico da instituição, mesmo com as inseguranças jurídicas e a situação vulnerável da cidade e do Estado do Rio de Janeiro. Por outro lado, a política de inclusão que permite manter um grande número de alunos bolsistas, tem sido uma marca de nosso compromisso social, em consonância com os princípios humanísticos, cristãos e comunitários de uma Universidade Católica. A manutenção dessa política de bolsas de inclusão educacional, mesmo com os necessários ajustes que estamos fazendo, é uma postura orientada na linha da doutrina social da Igreja, enfatizada pelo Papa Francisco. A terceira questão está relacionada com o aceleramento nos processos interdisciplinares e interdepartamentais, favorecidos pelos métodos remotos. Embora esta discussão venha ocupando espaço na Universidade nos últimos anos, é notório que, durante este tempo de pandemia, pela via remota, houve um amadurecimento extraordinário dessas abordagens, tanto no ensino como na pesquisa. O volume de reuniões, propostas e projetos interdisciplinares ajudou a unir ainda mais os diferentes centros e departamentos, num ritmo mais acelerado do que vinha sendo feito de forma presencial. Vamos esperar que tais iniciativas sejam concretizadas e vivenciadas no novo modo de ser híbrido, presencial e remoto, no futuro próximo. A quarta questão, associada ao espirito que move as pessoas que aqui trabalham, foi o crescimento da solidariedade com os mais vulneráveis na perspectiva social e econômica. As inúmeras campanhas promovidas pelos professores, alunos e funcionários, voltadas para as necessidades mais imediatas e emergenciais, têm sido uma marca humanitária reconhecida pela sociedade, independentemente da divulgação ou não nas redes sociais e nas grandes mídias. Merece um destaque especial a campanha de inclusão digital, que mobilizou muitos professores, funcionários e antigos alunos, possibilitando aos nossos alunos mais pobres o acesso à internet para acompanhar as aulas. Neste final de ano, coordenado pela pastoral universitária, a campanha para arrecadação de brinquedos para as crianças pobres que vivem em comunidade, é também um gesto solidário nesses tempos difíceis. Não podemos deixar de destacar os esforços da Associação dos Antigos Alunos que, juntamente com o conselho do Endowment da PUC-Rio, têm feito esforços para nos ajudar em projetos de interesse da Universidade. Numa leitura espiritual e religiosa, são gestos que humanizam e resgatam a imagem e semelhança de Deus em cada ser humano. São práticas solidárias que sobem aos céus e descem como graça sobre as pessoas e a Universidade.

      A sensação que temos, mesmo com o cansaço que todos nós sentimos depois de um ano tão singular e difícil que vivemos, é que fizemos o que foi possível, dando o máximo de nós para preservar os valores de uma instituição que faz parte de nossa história. Os esforços, desgastes e sacrifícios, pessoais e coletivos, foram fundamentais para dar continuidade à história de uma Universidade que faz a diferença no ensino e na pesquisa de qualidade no Brasil e no Rio de Janeiro. Nossa eterna e fraterna gratidão a todos vocês que estão nos ajudando nesta travessia difícil e desafiadora. O sucesso das formaturas, vestibulares, matrículas, seminários PIBIC/PIBITI, lives, equipes dos diversos projetos de pesquisas e empreendedorismo e inovação, bancas de monografias, dissertações, teses etc., todos realizados de forma remota, se deve aos incansáveis esforços e competência das equipes responsáveis por estes setores nas respectivas vice-reitorias. Sabemos dos sacrifícios com as inúmeras horas com reuniões, preparações, negociações, discussões e ajustes nesta nova forma tecnológica de realizar estas atividades on-line. Não podemos também deixar de agradecer todo trabalho feito com mentes inteligentes, corações solidários e fé determinada. Vocês fizeram a diferença neste ano dos 80 anos da PUC-Rio. Aprendemos muito, trabalhamos demais, mas saímos mais fortalecidos, o que é uma característica de marcas institucionais fortes, como é o caso da nossa Universidade.

      Certamente, todos os nossos acertos e sucessos nos ajudarão a pensar e planejar a PUC-Rio do futuro, mesmo dentro de horizontes nebulosos e inseguros que o país atravessa, em que a educação caminha às apalpadelas, sem uma orientação segura do rumo que devemos seguir.

       Peçamos a Deus que nos dê luzes e sabedoria para enfrentar os desafios que teremos no ano de 2021, com a consciência que a nossa confessionalidade católica e comunitária terá que buscar caminhos de convergência entre o ensino presencial e remoto, obrigando-nos a rever processos para manter a sustentabilidade acadêmica e econômica, inovar com criatividade e manter um ensino e pesquisa de qualidade.

       Muito obrigado a todos e todas!

                                                  DESAFIOS PARA 2021

ACADÊMICOS

Manter um planejamento acadêmico que contemple os modelos presenciais e remotos com qualidade e adaptabilidade. No primeiro semestre, caso tenhamos as condições externas de saúde favoráveis, possibilitar que os calouros possam ter atividades presenciais no campus, como também as aulas laboratoriais. Todas as atividades presenciais terão que ser muito bem planejadas, para que possamos agir segundo os padrões de segurança. Uma maior diversificação no modelo remoto será necessária para melhor atender os nossos professores e alunos. Academicamente, a pós-graduação deve ficar atenta à avaliação da CAPES em 2021. Algumas propostas inovadoras que estão sendo formuladas pelos decanatos terão que ser discutidas em outras instâncias, dentro de metas de curto, médio e longo prazo. Uma reinvenção para o novo, feita com sabedoria e competência, ajuda a Universidade a responder às novas demandas da sociedade.

ADMINISTRATIVOS

Faz-se necessário rever algumas estruturas internas da Universidade, para garantir a sustentabilidade econômica, lembrando que muitas atividades podem ser feitas com eficiência e com quadros mais reduzidos. É fundamental terminar a digitalização dos processos administrativos, garantindo agilidade, economia e maior transparência. A crise nos leva a rever alguns tradicionais subsídios, mantendo apenas o que é essencial e factível economicamente. Teremos que fazer um reestudo na forma de distribuição dos recursos em decorrência dos repasses dos custos indiretos. Continuaremos com uma política econômica de austeridade, com objetivo de garantir as atividades fins da Universidade. Quanto aos projetos de pesquisas, pedimos que mantenham os cuidados devidos para evitar no futuro problemas jurídicos e financeiros maiores para a PUC-Rio. A manutenção da sustentabilidade dos projetos deve estar sempre diante de nossos olhos. Os projetos nos ajudam a sermos uma Universidade de pesquisa que projeta a nossa instituição no mundo público e privado.

DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL 

Procurar manter, cultivar e aprimorar o poder e relevância das diversas tecnologias existentes na PUC-Rio, abrindo-se para novas matrizes de desenvolvimento, é algo fundamental para o progresso científico do país. A nossa tradição de pesquisa nesta área tem um lugar reconhecido nacional e internacionalmente, razão pela qual temos que mantê-la e apoia-la. A interdepartamentalidade na pesquisa, deve ser incentivada e ampliada, superando os isolacionismos dos grupos e departamentos. Negociações estão sendo feitas em nível do governo estadual para dar continuidade às obras da estação do metrô Gávea. O prédio da Biologia deve ser concluído e inaugurado até o final do primeiro semestre de 2021. O sonho de termos um auditório ainda continua vivo. Estamos estudando uma proposta que seja economicamente menos custosa e mais ágil, pois o ideal é que iniciemos as obras até o final de 2021.

COMUNITÁRIOS

Temos que planejar um retorno gradativo de alguns serviços no campus universitário em 2021, com o objetivo de atender algumas necessidades básicas. Alguns serviços, como a alimentação, não poderão funcionar com outrora enquanto durar a pandemia, pois os espaços físicos não são adequados às normas sanitárias de distanciamento. Estamos estudando uma maneira de melhorar algumas áreas de convivência, como o bosque, criando novos espaços e reduzindo áreas de estacionamento no entorno da área verde. Uma nova tenda para aulas e eventos, e a ampliação de mesas e bancos no local é algo que pretendemos iniciar durante o período do recesso escolar. Muitas estruturas remotas, embora complexas, mostraram-se eficientes e mais econômicas para a Universidade, revelando que deverão continuar ainda durante o ano de 2021. Exemplo: formaturas, eventos celebrativos, festivais, vestibulares, matriculas etc. Como uma instituição católica e comunitária, temos que estar atentos e apoiar as dimensões sociais e solidárias que fazem parte da nossa história, mesmo com algumas mudanças que estão sendo feitas em razão da crise e a diminuição dos recursos. A sensibilidade social é um rosto de nossa PUC-Rio, unindo diferenças e ampliando a cultura de pertencimento.

Prof. Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J.
Reitor da PUC-Rio