Reitoria

UM ANO SINGULAR NA SOCIEDADE E NA UNIVERSIDADE

      Parafraseando o Papa Francisco, não existe coisa mais sábia do que poder olhar o passado com gratidão, o presente com realismo e o futuro com esperança. Penso que talvez possamos aplicar essa frase ao contexto em que vivemos em nível nacional e local. Olhando o passado mais recente, reconhecemos que tivemos muitas conquistas em nosso país e na Universidade. Mesmo com as contradições, os desacertos e os desencantos políticos, não podemos negar que o nosso país ficou mais inclusivo, diminuiu-se o tamanho dos muros que separavam as classes sociais, visibilizou-se um pouco mais os clamores das minorias e proporcionou-se que alguns sonhos fossem mais prolongados, sobretudo com a ascensão de classes sociais de menor poder aquisitivo. Na Universidade não foi diferente, pois experimentamos na PUC-Rio muitas conquistas, a diversidade de raças e de opções cresceram, o campus ficou mais colorido na perspectiva antropológica e ecológica, os coletivos ampliaram, conseguimos manter o equilíbrio econômico, ampliamos nossas conquistas acadêmicas e não abrimos mão de nossos princípios e valores inspiradores.

      Encarando o presente com realismo, tivemos mudanças políticas em nosso país, acordos e desacordos na troca de poderes e nos processos eleitorais; aumento dos radicalismos; dificuldades na construção de consenso; aumento da violência; falência de alguns modelos políticos e econômicos; crises que ameaçam a perda de direitos conquistados; ampliação e sucesso das operações contra a corrupção, com prisões de lideranças corruptas no mundo político e empresarial; perigo de retrocessos de algumas conquistas ambientais e sociais; aumento da indignação contra aqueles que, ao saquearem o dinheiro público, privaram muitos, dessa forma, dos recursos que poderiam ser investidos em demandas sociais, sobretudo na saúde e na educação. Aumentam os gestos de protestos de muitos jovens que, ao ocuparem alguns espaços geográficos onde existem mais liberdade e segurança, mudam o visual de nossa paisagem sem quebrar a rotina criativa da vida acadêmica, obrigando-nos a refletir sobre o que está por trás dos sonhos, das ousadias e dos desejos solidários de uma sociedade mais justa, mais inclusiva, mais dialogal e mais respeitosa com os direitos dos mais pobres. Na PUC-Rio, o presente tem sido vivido com realismo, pois não somos uma ilha isolada e nem tampouco montanha distante do vale, mas, ao contrário, somos parte deste continente de comunicação permanente entre o presencial e o virtual, onde ecoam as glórias, os problemas e as perplexidades da sociedade local e nacional. Procuramos manter a austeridade na gestão, com um olhar mais aguçado nas fragilidades econômicas, com o objetivo de assegurar os compromissos acadêmicos, administrativos e trabalhistas, com a consciência de que a nossa margem de manobra é economicamente muito pequena. Mesmo assim, os salários estão em dia, a renovação do quadro docente continua, a manutenção do patrimônio físico vem sendo feita de acordo com a disponibilidade de recursos, a ocupação do prédio da Petrobras pelos projetos de pesquisa tem acontecido lentamente, com esperança de uma maior aceleração no próximo ano; a PUC-Rio continua a ocupar o lugar de destaque nos rankings nacionais e internacionais; no campus, um novo prédio foi edificado e novas áreas de convivência estão sendo criadas para estudo de nossos alunos. Mesmo com a diminuição de alunos estrangeiros nos intercâmbios, devido à crise no Brasil e no Rio de Janeiro, conseguimos manter com êxito a nossa política de internacionalização; atendendo uma demanda da Arquidiocese, criamos uma Cátedra da Reitoria para Estudos Arquidiocesanos (CREARQ), a exemplo de outras Universidades Católicas; a ocupação de parte dos pilotis pelos estudantes, fato que vem ocorrendo em várias universidades públicas e comunitárias, tem sido acompanhada com muito diálogo, prudência e sabedoria pela Vice-Reitoria Comunitária, decanos e alguns de nossos docentes, não impedindo em nada o andamento das atividades acadêmicas; as eleições estudantis, apesar das disputas, ocorreram num clima democrático, com uma participação maior de alunos votantes, quase o dobro do ano anterior; finalmente, novos núcleos interdisciplinares e interdepartamentais foram criados. 

      Quanto ao futuro, resta-nos apenas confiar e manter a esperança, pois como não temos acesso a ele, atributo que compete somente a Deus, fica para nós a missão de enfrentar alguns desafios, sejam aqueles que estão ao alcance de nossas mãos ou outros que dependam de conjunturas externas. De qualquer forma, a PUC-Rio tem que planejar e enfrentar com otimismo alguns desafios, a saber: manter as receitas das mensalidades e dos recursos oriundos dos projetos, pois isso é garantia de nossa estabilidade econômica e acadêmica; até que haja uma melhoria nos índices econômicos de nosso país, temos que evitar despesas além daquelas que estão previstas em nossos orçamentos; divulgar e acompanhar melhor, por meio das ouvidorias, as demandas e críticas de nossos alunos; motivar as unidades complementares para que elas revejam os seus orçamentos e procurem caminhos de sustentabilidade; manter a nossa política de bolsas, evitando ampliá-la mais do que a nossa capacidade de suporte; planejar para a construção do novo e necessário auditório, projeto tão sonhado e desejado por todos nós; continuar o processo de atualização do nosso estatuto e marco referencial, trabalho esse já iniciado; estudar e estabelecer normas e critérios de criação de fanpage institucional para a PUC-Rio; estabelecer critérios quantitativos sobre o valor da marca PUC-Rio; observar com mais atenção alguns cursos na Universidade para os quais as demandas vêm diminuindo nos últimos anos; apoiar as iniciativas interdepartamentais e interdisciplinares na criação de novos cursos e linhas de pesquisa; divulgar e apoiar as iniciativas simbólicas na linha da sustentabilidade ambiental no campus como hortas de terraço, energia solar, economia de água, uso de material reciclado etc.; manter e ampliar a colaboração dos docentes, sobretudo nas áreas sociais e humanas, com a Vice-Reitoria Comunitária, no que diz respeito às comissões de inquérito, o diálogo com os alunos e a mediação de alguns conflitos; novos núcleos interdepartamentais serão criados; vamos implementar em 2017 os mecanismos de identificação e controle das pessoas nos acessos ao campus, tanto em função do crescimento dos problemas ocorridos nos últimos anos, como também dos que virão após a conclusão da estação do metrô na entrada da Universidade; criar e implementar o Núcleo de  Estudos Estratégicos (NEST) para pensar os desafios futuros da PUC-Rio, cujo regimento já foi elaborado;  continuar o processo de preparação para a avaliação institucional de 2018, mesmo diante de algumas incertezas; apoiar o Núcleo de Memória na conclusão do belíssimo livro sobre a Igreja da PUC-Rio que está sendo elaborado com esmero e competência.

      Finalmente, ao encerrar este ano letivo, não podemos deixar de expressar publicamente alguns agradecimentos. Primeiro a Deus, que nos deu inspiração e luz para enfrentar os momentos mais difíceis pelos quais passamos nesse ano de 2016. Apesar dos momentos complicados que vivemos no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro e nas nossas Universidades parceiras, Deus nos deu a graça de concluir mais um ano letivo, cumprindo o nosso calendário acadêmico planejado. Em segundo lugar, pelo apoio e incentivo do Grão-Chanceler e de todos os membros da Mantenedora Faculdades Católicas. Em terceiro, a toda a equipe da reitoria (vice-reitores, decanos, secretárias, assessoria jurídica), pela tranquilidade e sábias sugestões em relação aos problemas discutidos em nossas reuniões. Em quarto, pelo trabalho competente e determinado de nossos diretores, coordenadores, membros dos conselhos universitário, ensino e pesquisa e desenvolvimento, dos funcionários acadêmicos, administrativos e comunitários, dos agentes patrimoniais, do Núcleo de Memória e de todos os funcionários terceirizados. Em quinto, pela compreensão de nossos alunos em saber aceitar as diferenças, dialogar, debater os problemas internos e externos, evitando radicalismos, confrontos e violências. Por último, aos dois gestos de solidariedade feitos nesse tempo de Natal, a saber: o gesto do aluno de engenharia em favor do vendedor de bolos no portão da PUC-Rio e o gesto de um ex-aluno da engenharia e empresário, que doou um volume generoso de recursos para que a Universidade pudesse usar em suas necessidades mais urgentes.

      Desejamos a todos um alegre e iluminado NATAL. Que o ano de 2017 seja mais cheio de fé e esperança, pois somente unidos em ideais mais elevados é que teremos força para enfrentar os desafios que certamente virão no ano vindouro.

Prof. Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J.
Reitor da PUC-Rio