:: Professor Luiz Cesar Monnerat Tardin
(13/05/1953 -
05/03/2011) (veja aqui a notícia sobre
o falecimento)
A falta que faz o Prof. Luiz Cesar Monnerat
Tardin
Caros Colegas, Professoras e Professores da PUC,
Diante da missa de sétimo dia amanhã para o Prof. Luiz Cesar Monnerat
Tardin, um amigo que eu prezava muito, quero acrescentar a minha voz à
dos colegas que fizeram elogios dele. Já o conheci quando ele era
estudante de graduação, já naquela época uma pessoa que tinha idéias
novas e boas que colocava em prática.
Como professor, fez muitas contribuições à
Universidade. Ao longo dos anos, levou muitos alunos à Amazônia para que
se sensibilizassem da realidade do País, da necessidade de ajudar os
pobres. Organizou a atuação da comunidade da PUC na Rocinha. Diante dos
desastres recentes na região serrana, articulou uma ação de socorro aos
flagelados feita pela comunidade da PUC. Inventou a Mostra PUC, que
divulga a PUC mais que qualquer outro evento, ajudando os alunos de
obter estágios e trazendo muitos jovens bons a estudar na PUC. Sempre
promovia ações para conscientizar as pessoas sobre tarefas urgentes para
a sociedade, tais como o tema da última Mostra PUC, a limpeza da Baía de
Guanabara.
Pensando de Luiz Cesar, me lembro de uma frase
famosa de meu compatriota Robert Kennedy (que a atribuiu ao dramaturgo
George Bernard Shaw), frase essa que para mim retrata o grande valor da
vida e da atuação do nosso querido professor: "Some people see things as
they are and say why? I dream things that never were
and say why not?"
Luiz Cesar constantemente pensava de novas maneiras
que ele poderia atuar para enriquecer e melhorar as vidas de todas as
pessoas ao seu redor.
A PUC vai sentir muito a ausência de suas
contribuições, de suas iniciativas, de suas idéas inovadoras. Que ele,
junto ao Pai que nos criou, possa pedir por nós e pela Universidade que
tanto amou e tanto serviu.
Agradeçamos a Deus pela presença tão importante que
ele exerceu por tantos anos entre nós. Que o exemplo dele nos leve a
imitá-lo em nossa atuação.
Um abraço solidário,
Pe. Paul Schweitzer, S.J. |

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Meu Caro Amigo
Dizem que ninguém é insubstituível. Mas dizem também que toda
regra tem a sua exceção. O Professor Luiz César era provavelmente uma
exceção a essa regra, assim como a muitas outras. Nosso Caro Amigo, como
era carinhosamente chamado por alguns de seus pupilos, atendia também
por Professor Tardin, César, Cesinha, Tardin, Luiz César e Monsieur.
A sua tripla e sólida formação – em Teologia, Direito e
Música – esconde, de certo modo, a sua verdadeira tripla e forte
atuação: como Educador, Empreendedor e Humanista. Além disso, sabia
viver, e gostava de viver; era um verdadeiro bon vivant. Mas não
perdia jamais a referência do fazer o bem, a quem quer que fosse, e de
cultivar incansavelmente os mais importantes valores da fé cristã e da
bondade humana.
Através da Igreja, encontrou sua vocação de Educador, e a
tomou como principal Missão nesta vida terrestre. A veia Empreendedora
era latente e presente em toda parte: na sua Fazenda, sem dúvida, com
suas vaquinhas e sua paixão pelo café; mas também e, sobretudo, na PUC e
na ONG Sociedade Brasileira para a Solidariedade, a SBS. O lado
Humanista era transversal, presente, portanto, em todas estas e outras
atividades, pessoais ou institucionais.
A Mostra PUC talvez seja o maior exemplo do cruzamento destas
três virtudes do Professor Luiz César. Em poucos anos, ele conseguiu
tornar a idéia de uma simples Feira de Estágios no maior evento da
PUC-Rio, com ofertas de estágio, evidentemente, mas também workshops,
palestras, e eventos artísticos, culturais e sociais, para toda a
juventude, além de um Prêmio de dimensão internacional, para custeio de
projetos acadêmicos voltados para as questões sociais. E sempre fez
questão de deixar alunos da graduação na linha de frente da organização
do evento, como forma de aprendizado através da vivência, o que, aliás,
sempre estimulou, apesar do re-trabalho que certamente lhe dava todos os
anos ao renovar a equipe coordenadora da Mostra PUC.
Grande admirador das Artes e da História, ele sabia tudo
sobre as Grandes Guerras e os Grandes Imperadores, desde Alexandre o
Grande, passando pelos Imperadores Romanos, seu xará César inclusive
(Ave César!), até Napoleão Bonaparte. A admiração pela Arte da Guerra
permitiu, por contradição, ironia, ou pura consciência, ser um grande
estrategista para enfrentar a maior batalha dos dias de hoje: a
Desigualdade Social. Mas ao contrário dos Grandes Imperadores, sua
principal arma de batalha era o Amor. Através do Amor, era capaz de
enfrentar a terrível violência que afronta o nosso País e, de maneira
particular, a nossa Cidade do Rio de Janeiro. “Violência” certamente em
sentido amplo: desde daquela gerada pelo tráfico de drogas nos morros,
passando pela violência familiar, para chegar até a violência de
oportunidade. “Oportunidade”. Taí uma palavra que o César muito
apreciava. Ele certamente, neste instante, nos corrigiria: “Falta de
Oportunidade, meu caro”.
A Falta de Oportunidade nos leva à Solidariedade, e aqui
encontramos talvez o seu maior legado: a Consciência Social. Vivemos num
mundo de muitos, dividido por poucos. A falta de acesso, a falta de
oportunidade, a falta da falta, eram preocupações permanentes na vida do
nosso Caro Amigo. Através da sua ONG SBS e do Projeto UNICOM promovia,
no auge dos seus 1,60m, um agressivo programa de inclusão social.
Reforço pedagógico, atendimento jurídico, atendimento psicológico,
atendimento médico (geral, odontológico e geriátrico!), cursos
profissionalizantes como Cozinhando o Futuro. O que a máquina do Estado
teria a obrigação de fazer, o nosso Caro Amigo inventava a roda para
oferecer de graça à população de baixa renda. Como repetia um de seus
muitos pupilos: “nos pequenos frascos, encontramos os grandes perfumes”.
Isto tudo instrumentalizado por uma forte veia política, que
potencializava estas atividades, sem falar nas suas famosas, diversas e
freqüentes campanhas de conscientização social: a Marcha pelo Trabalho,
de Olho no Congresso, a Baia Nossa da Guanabara, a recente Campanha
pelos desabrigados de Nova Friburgo, dentre tantas outras.
Ao fazer tudo isto, César semeava sonhos e esperança na
juventude, e ensinava através de suas ações que nós não somos do tamanho
da nossa altura, mas sim do tamanho da nossa imaginação, e daquilo que
podemos enxergar, e fazia isso sendo ele próprio o exemplo.
No campo da relação entre a Vida e a Morte, encontramos mais
uma grande lição. Sua inabalável fé cristã e elevada espiritualidade o
permitiam lidar com muita naturalidade com este assunto. Durante seu
curso de Ética Profissional, para os alunos de Direito, costuma separar
uma aula por semestre para levar os alunos ao cemitério São João
Batista: “na semana que vem, nossa aula será no cemitério São João
Batista!”, dizia ele, para desespero da maioria. Evidentemente, muitos
alunos não apareciam no dia. Diziam que era “maluquice”. Estavam
preocupados em decorar as leis e os artigos dos códigos, ou então em
chegar mais cedo nos seus sagrados estágios, nos mais renomados
escritórios de advocacia. Mas uma parte dos alunos sempre comparecia ao
cemitério, e não conhecemos um só que tenha se arrependido de ter ido.
Alguns afirmam, aliás, que foi a aula mais marcante que tiveram durante
a Faculdade de Direito. Na entrada do cemitério, ele dizia: “eu trouxe
vocês aqui para vocês pensarem a relação entre a Vida, a Morte, e o
Direito. Circulem pelo cemitério, e reflitam sobre esta relação, e daqui
a pouco conversamos, nos encontramos aqui de volta em 30 minutos”. Na
volta, os mais diferentes e interessantes relatos eram dados pelos
alunos – desde depoimentos técnico-jurídicos a respeito de Sucessões e
Direito de Família, até ricos relatos pessoais, engasgados muitas vezes
pela correria do nosso dia-a-dia, e pela falta de espaço para tratar de
questões tão essenciais como a “Vida e a Morte”.
E assim ele nos deixa, de forma prematura, desta vida
terrestre. Alguns desavisados podem pensar “que pena, não tinha filhos,
nem esposa, nem pais vivos, apenas uma irmã e primos”. Mas o engano é
tamanho. Deixou herdeiros de todas as idades, de todas as cores, de
todas as formas e formações. Herdeiros que hoje formam o seu Batalhão, e
que continuarão sua Luta, com a sua poderosa arma do Amor, contra as
injustiças e as desigualdades que assolam este Mundo, por vezes cruel,
dos Homens na Terra.
Texto escrito por ex-alunos, e eternos pupilos, do Professor Tardin:
- Fernando Carvalho (Desenho Industrial)
- José Pedro Pradez (Engenharia)
- Leonardo Moreira (Informática)
- Marcos de Oliveira Gleich (Direito)
- Paulo Burnier da Silveira (Direito)
- Raphael Trindade (Direito)
- Ricardo Calheiros (Informática)
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Lembrando Luiz Cesar Tardin
Conheci Luiz Cesar nos
encontros do Movimento Universidade a Serviço do Povo-MUSP, iniciado
pelo nosso saudoso Pe.Agostinho Castejon, nos anos 70, na PUC. Quando
assumi a Coordenação Central de Estágios-CCESP, em dezembro de 1980, ele
participava das atividades do MUSP, já incorporado à CCESP, para a
melhoria da qualidade de vida em algumas comunidades de baixa renda.
Acompanhava estagiários de direito, especialmente em Senador Camará e,
mais tarde, em Acari.
Lembro-me das suas
sugestões ousadas para as atividades internas da CCESP, que me
assustavam, nos anos 80, mas que me levaram a indicá-lo para assumir
esta Coordenação, quando dela me retirei para concluir minha Tese de
Doutorado, em 1990. A originalidade, com que Luiz Cesar desenvolveu
estas funções bem como o enriquecimento que elas trouxeram para a PUC
nestes vinte anos, pode ser avaliada por todos nós que as acompanhamos e
pelos alunos e ex-alunos que dela tem-se beneficiado. Como bem lembrou
Pe. Paul, a concretude das atividades da CCESP, fez-se sentir, durante
estes últimos anos, desde a Rocinha até toda a cidade do Rio de Janeiro
e promoveram estágios de nossos alunos bem mais longe, na Amazônia. Isso
aconteceu: quer em seu aspecto de atividade social em favor dos menos
favorecidos junto com Jesuítas locais, quer para o reconhecimento da
importância da ação de nossas forças armadas (especialmente do Exército,
naqueles lugares de enorme importância nacional, mas distantes dos
centros mais populosos), quer para o ingresso no mercado de trabalho,
dos nossos jovens profissionais. A abrangência e variedade das ações
puderam ser observadas pessoalmente por mim, desde a favela da Gávea,
até o curso que fiz junto com alunos e professores da PUC-Rio, para a
sobrevivência na Selva, em um dos muitos batalhões do Exército
visitados, nos estados do Amazonas e Roraima, em 2003.
Também pude participar
de perto, a seu convite, em 2010, das atividades por ele estimuladas,
com o objetivo de ações múltiplas, para a melhoria física da nossa Baía
da Guanabara. Como Raul Nunes, eu temia suas valentes incursões, neste
caso, junto às escolas públicas das Secretarias Municipal e Estadual de
Educação do Rio de Janeiro, importantes como campo de pesquisa para o
Departamento de Educação da PUC-Rio. Confesso que, mesmo tendo
constatado sempre que, no fim, tudo valeu a pena, o arrojo de Luiz
Cesar, muitas vezes me assustava.
Enfim, dou Graças a Deus
por Luiz Cesar ter vivido entre nós!
Abençoado seja o seu
nome e perdoados os pecados que, porventura, tenha cometido na sua
ânsia de fazer o bem!
Hedy Silva Ramos de
Vasconcellos
Professora Emérica do Departamento de Educação da PUC-Rio
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Tardin – cidadão coragem
Prezados colegas,
Fui contemporâneo de graduação do Tardin, ele no Direito e eu na Física:
ele no Movimento Pastoral e eu, no Estudantil; era o ano de 1975. Desde
esta época, o Tardin apresentava uma capacidade de liderança e dedicação
a causas com temas abrangentes, e arriscados, como Justiça, Liberdade e
Solidariedade. Para entender o jovem Tardin é preciso saber que ele é
de origem de um “clã” que tem um cardeal Tardini (assessor do
papa João XXIII, Secretário de Estado e Presidente da Comissão
Preparatória do Concílio Vaticano II) e uma militante de esquerda Elza
Monnerat (do PC do B, integrante da guerrilha do Araguaia). Ele não
falava sobre estas coisas, mas isto fazia
parte de sua experiência de vida. Anos difíceis aqueles de nossa
graduação... Mas, já nestes anos, o Tardin exibia a sua habilidade para
tocar projetos sociais de natureza inclusiva, sem perder a visão
política, mas também sem deixar que os mesmos fossem instrumentos de
propaganda política de qualquer corrente interna ou externa à igreja
católica. Ele era universal.
Para tentar ilustrar um pouco sobre o Tardin, cidadão coragem que muitos
desconhecem, relato aqui dois momentos marcantes desta época envolvendo
eu e o Tardin:
1. Em 1976, participamos de um evento da FEUCAL (Federação de
Estudantes Católicos da América Latina), que se realizou em Petrópolis:
um estranho evento, com pouca divulgação, para o qual o Tardin insistiu
em que eu participasse, mesmo não sendo católico praticante. Para me
convencer a participar, ele afirmou, e repetiu isto muitas vezes, “que
eu era mais católico do que muito católico”. Um grupo de alunos da
PUC-Rio foi ao evento com o intuito de não deixar que envolvessem o nome
da PUC-Rio em algo não fosse a expressão das idéias e compromissos de
seu grupo Pastoral. Neste evento, encontramos um pequeno grupo de
“estudantes” chilenos, argentinos e da católica de Campinas, cuja faixa
etária era superior a dos demais, que faziam barulho e uma pregação
vamos dizer assim conservadora e contra o que preconizava o Concílio
Vaticano (seus discursos eram cheios de menções ao diabo e aos
comunistas...). O grupo da PUC-Rio logo se destacou na contraposição às
teses deste grupo e, em determinado momento, quando eu fazia uso da
palavra, vieram para cima de mim com fúria, quase para o linchamento.
Foi a intervenção do Tardin e demais companheiros que impediram a
consumação do mesmo. Saímos dali protegidos por alguns amigos, mas
satisfeitos por termos sido em parte vitoriosos. De volta ao Rio, vemos
nos jornais o retrato falado dos sequestradores do bispo dom Adriano
Hypólito. Estes retratos nos indicavam claramente que aquele grupo que
estava neste evento tinha participado do seqüestro de dom Adriano. O que
fazer??? Lembro aqui que eram dias difíceis, isto
aconteceu no final de 1976. Através do Tardin, fizemos chegar à CNBB e à
OAB a informação sobre os personagens do sequestro de dom Adriano. Não
soube até hoje, e portanto nunca saberei, se a insistência do Tardin
para que eu participasse do encontro teria sido reforçada por alguma
“inside information” sobre o encontro da FEUCAL ou se foi apenas pela
amizade e confiança que existia entre nós.
2. Em 1977, estava em organização um Encontro Nacional de
Estudantes, seria o primeiro após a extinção da UNE. Classificávamos
este encontro como um movimento necessário no sentido de testar os
limites do regime militar e de seu processo de abertura. Não
controlávamos esta iniciativa, mas não podíamos ignorá-la. Estávamos
preocupados com os desdobramentos possíveis de sua realização. Só para
relembrar, naquele ano, um ano após o seqüestro de dom Adriano, por
determinação do Comandante do 1° Exército, foi cancelada uma conferência
sobre Direitos Humanos,
para constituição de uma Comissão de Justiça e Paz na Diocese de Nova
Iguaçu (finalmente criada em 1978). Se uma iniciativa de uma diocese
para tratar de direitos humanos havia sido proibida, o que poderíamos
esperar de um encontro nacional de estudantes? Certamente algo pior...
Um dos pontos da pauta do encontro era a criação da UNE, ponto este que
éramos contra (os diretórios do CTC, então com a gestão da chapa da
Unidade). Éramos contra naquele momento, pois não existiam diretórios
nas universidades. Diante disto, esta era mais uma das razões pela qual
não podíamos
deixar de participar. Antes de partir para Belo Horizonte, nos reunimos
com o vice-reitor Comunitário onde expomos nossas posições e
preocupações. Avisamos a que horas partiríamos da Vila dos Diretórios da
PUC-Rio para chegarmos a Belo Horizonte no início da manhã. Tarde da
noite, no horário de nossa partida, a Vila cheia de estudantes, aparece
para se despedir de nós, e manifestar preocupação com nossa viagem e com
o evento, o Tardin e o vice-reitor Comunitário, o pe. Mendes. Claro que
o congresso não se realizou, fomos presos na estrada. Não só nós, mas
todos os jovens que viajavam desacompanhados em ônibus, avião ou carro,
foram retirados destes veículos e levados para a cadeia, muitos nem
sabendo da existência do tal Encontro... Quando o primeiro de nós
conseguiu sair da cadeia, avisou ao Tardin e este ao vice-reitor
Comunitário, pe. Mendes. Ao retornarmos de Belo Horizonte, soubemos que
o pe. Mendes, irmão do general Ivan de Souza Mendes, na época chefe do
SNI, havia falado com seu irmão e recebido a notícia de que a situação
estava sobre controle. A situação
sobre controle significou que ninguém “foi desaparecido”. De fato a
única conseqüência foi o enquadramento de alguns na lei de Segurança
Nacional, processo este que acabou sendo arquivado com o avanço da
“abertura”. Tardin, como sempre, por sua característica, acompanhou tudo
sem aparecer muito e ainda ajudou a orientar os que foram enquadrados na
Lei de Segurança Nacional.
Depois, já nos anos 80, no período pós anistia, Tardin participava de
projetos associados à Comissão de Justiça e Paz e de Pastorais Penais.
Em suas várias atividades sociais em comunidades tais como Dona Marta,
Rocinha, Acari, Senador Camará, dentre outras, teve de conviver com a
organização dos bicheiros e dos traficantes. No período do governo
Brizola e sua “política de direitos humanos para a favela”, a polícia,
já deformada pelo arbítrio do regime militar, foi muitas vezes utilizada
como braço político de alguns. Esta polícia ao subir na favela, prendia
pequenos traficantes, batia e depois avisava que isto não iria parar a
menos que eles se tornassem “cabos eleitorais”. Em muitas subidas da
polícia, o Tardin foi acionado por membros da comunidade
para comparecer à delegacia e tentar garantir que o preso não mais
apanhasse. O incrível é que isto funcionava, e o Tardin teve que fazer
isto muitas vezes. Mas, como sempre, ele pouco falava sobre isto.
Mais recentemente, já neste século, a convite do Tardin e por nomeação
do pe. Hortal, participei de uma comissão da PUC-Rio, cedida para a
CNBB, com a missão de realizar um estudo sobre a viabilidade de se criar
uma Instituição de Ensino Superior Católica na Amazônia. Neste período
de realização do trabalho da comissão, tive a oportunidade de
testemunhar o excelente trabalho que o Tardin realizava, principalmente
em Manaus,
junto à Diocese de lá, não somente em trabalhos sociais, mas também na
área do direito junto à Pastoral Penal e à Comissão de Direitos Humanos.
O Tardin, através do UniCom, ajudava a apoiar o trabalho legal destes
grupos, organizando os processos dos presos e propiciando apoio àqueles
que já haviam cumprido a sua pena, mas ainda se
encontravam presos, ou aos que estavam com seus processos parados por
falta de apoio jurídico. Neste trabalho de estudo e prospecção sobre a
viabilidade de constituição de uma IES Católica na Amazônia, pude
perceber o enorme respeito dos bispos de Porto Velho, Manaus e Belém
pelo Tardin, e também pela PUC-Rio. Pude perceber como
a PUC-Rio era maior do que eu tinha noção e o quanto o Tardin era
responsável por isto.
Talvez nem todos na PUC-Rio endossassem algumas de suas iniciativas, mas
entendo que isto é uma questão menor relacionada com aqueles que não
procuravam conhecer a dimensão e profundidade de seu trabalho. Não tenho
dúvidas em afirmar que a universidade perdeu um grande empreendedor das
causas da justiça, liberdade e solidariedade. Meu sentimento é de que a
PUC-Rio ficou menor.
Finalmente, extremamente consternado com esta perda súbita, só consigo
pensar em como ele fará falta e em agradecer sua existência e de ter
podido desfrutar de sua amizade.
Raul A. Nunes
Professor do Depto. de Engenharia de Materiais - PUC-Rio
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Você tem alguma sugestão de nomes para essa galeria das nossas saudades? Gostaria de escrever sobre esta pessoa ou sugere alguém para fazê-lo? Você tem outras histórias do
Prf. Tardin para contar? Escreva para nós no seguinte endereço eletrônico: nucleodememoria@puc-rio.br
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