:: Prof. Gilberto Velho (1945-2012)
O professor Gilberto Velho, do PPGAS da
UFRJ, morreu na madrugada de sábado, dia 14 de abril de 2012. O
Núcleo de Memória da PUC-Rio se solidariza com a família do
Professor Gilberto Velho, em especial com seu irmão, o também
antropólogo Otávio Velho, ex-aluno e ex-professor da PUC-Rio;
com a UFRJ; com o PPGAS/UFRJ; com a área de antropologia que perdeu
um de seus mestres e com a multidão de colegas, alunos, ex-alunos,
orientandos de mestrado e de doutorado que Gilberto soube, como
poucos, transformar em amigos.
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Prof. Gilberto Velho, fotografia que está publicada no CV
Lattes. |
. O Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da UFRJ criou
um Mural de Memórias em homenagem ao professor Gilberto Velho. Veja
aqui.
. O CPDOC/FGV tem, no site do projeto Cientistas Sociais de Língua
Portuguesa; histórias de vida uma longa entrevista com o professor
Gilberto Velho.
Veja aqui.
. A professora Tania Dauster, do Departamento de Educação da PUC-Rio
e que foi orientanda do professor Gilberto Velho, publicou no Blog do
Projeto Memória do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio,
em homenagem ao professor Gilberto Velho um artigo escrito por esse
professor e intitulado Antropologia urbana: interdisciplinariedade e
fronteiras do conhecimento, publicado originalmente pela revista Mana
- Estudos de Antropologia Social. vol.17 nº.1 Rio de Janeiro: PPGAS/UFRJ,
abril de 2011.
Veja aqui.
. A Editora Zahar publicou em seu site uma página em homenagem ao
professor Gilberto Velho. Veja
aqui.
Gilberto Velho, pela profª. Karina Kuschnir, PPPGAS da UFRJ
Eu gostaria de poder escrever que estou sem palavras
nesse momento. Mas estar "sem palavras" seria o oposto do que aprendi com
ele. Gilberto sempre tinha algo a dizer para os amigos nos momentos mais
difíceis. E era no momento exato, nunca no dia seguinte. Na emoção dessa
perda, registro aqui algumas lembranças em sua homenagem.
Como disseram
Celso Castro e Hermano Vianna, para ele, a antropologia não era
o centro do universo. Fazia parte de uma busca pelo conhecimento muito mais
ampla, que incluía história, arte, literatura, e a admiração por áreas como
a matemática e a filosofia. Não se tratava de uma retórica, mas de uma
prática que tinha sempre em vista comparar e colocar os dados em perspectiva.
Isso significava que nós, seus orientandos, de repente, tínhamos de
interromper nossas pesquisas para ler as memórias de Tarquínio de Souza ou
estudar a fundo os jovens turcos, ainda que estivéssemos fazendo trabalho de
campo num subúrbio carioca.
Não vou me estender sobre a importância de sua vida acadêmica ou sobre sua
dedicada atuação para o avanço das instituições científicas brasileiras.
Basta ler com atenção seu imenso currículo
Lattes.
(E hoje fiquei emocionada ao descobrir que a fotografia escolhida para seu
Lattes foi tirada por mim, nos Jardins da Princesa, ao lado de sua sala no
Museu Nacional, no dia em que realizamos a segunda etapa da entrevista sobre
sua vida e carreira para o projeto
Cientistas Sociais - Histórias de Vida.)
Prefiro lembrar de como nos divertíamos com seu humor peculiar, como tão bem
escreveu Peter Fry, no
texto em sua homenagem para a Associação Brasileira de
Antropologia. Quando falava de sua juventude, ou dos primórdios da carreira,
acrescentava sempre seríssimo: "Mas isso foi no século treze". Aos jovens
alunos do PPGAS, cobrava: "Já aprenderam a cantar o hino da antropologia?" E
entoava, operísticamente: "Estranhar, relativizar... " Gostava de nos deixar
atônitos com o horário de reuniões e encontros. Depois de consultar sua
agendinha preta, dizia: "ok, terça-feira, às 8 horas e 47 minutos". Nos
animava com os carimbos da "Venerável Sociedade das Capivaras", caçando
insetos com sua gigante espada de madeira, falando de seus tempos de "campeão
de esgrima", passando trotes, citando batalhas do Império Bizantino ou
contando histórias misteriosas sobre como o cérebro de Euclides da Cunha foi
parar nas aulas do Museu Nacional.
Tudo isso vinha junto com uma obsessiva disciplina para orientar, que
incluía ler capítulos de tese na mesma tarde em que eram entregues, ligar
para saber se estávamos trabalhando às 7 da manhã e marcar bancas com quatro
meses de antecedência. Cobrava, reclamava e brigava -- muito. Mas tentava
compensar essa rigidez com um imenso afeto e vontade de nos ver crescer,
como tão bem lembrou Maria Laura Cavalcanti, em sua breve e linda homenagem
hoje, no velório. Gilberto nos acolhia nas dificuldades e vibrava com nossos
sucessos. É verdade que resistia a mudanças, às vezes com ferocidade. Mas
frequentemente mudava de ideia, aceitando e até se divertindo com propostas
as mais inusitadas, desde mudar radicalmente o tema de uma pesquisa até
decidir a data de uma defesa de tese com ajuda de um mapa astrológico.
Entre os muitos que o perderam, é difícil separar quem são as centenas de
orientandos, alunos, colegas ou amigos. Na vida dele, essas categorias
estavam todas misturadas. "As pessoas são complexas", ele gostava de dizer;
"não devemos congelar as identidades". Para estar com todos, adorava marcar
reuniões, festas, aulas, palestras, almoços e jantares. Nestes,
invariavelmente deveríamos aguardar pela chegada de uma "ilustre antropóloga
húngara" -- mais uma de suas brincadeiras, que, mesmo depois de conhecida,
nos divertia pelo desafio de adivinhar quem faria o papel de
convidado-surpresa. Por meio desses encontros, surgiam incontáveis relações:
amizades, trocas profissionais, viagens transatlânticas, orientações,
pesquisas, publicações, livros e até namoros e casamentos.
Termino agradecendo a todos pelos abraços, telefonemas, e-mails e
pensamentos solidários. Embora nada possa reverter essa perda, ajuda muito
saber que somos tantos que a sentimos.
Karina Kuschnir
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