Falecimento da Professora Claudia Maria de Castro, do Departamento de Filosofia da PUC-Rio

:: 05/08/2010 - Com pesar, comunicamos a morte da professora Claudia Maria de Castro, do Departamento de Filosofia.

O Núcleo de Memória da PUC-Rio se une ao Departamento de Filosofia, à família de Claudia, seus ex-alunos e amigos da professora Claudia no momento da dor da despedida.

Claudia Maria de Castro, que nos deixou no dia 4 de agosto depois de uma longa luta de 8 meses contra o câncer, foi professora da PUC-Rio desde 1992.  Foi aluna de graduação em Direito, e fez também na PUC-Rio o mestrado e o doutorado em filosofia, sob a orientação da professora Kátia Muricy.  Seus trabalhos sobre Walter Benjamin são reconhecidos, respeitados e influenciaram muitos de seus alunos.

O Núcleo publica, em sua homenagem, um breve texto de uma de suas amigas, Laura Olivieri, ex-aluna de graduação e de mestrado do Departamento de História e doutoranda do Departamento de Serviço Social, que nos enviou também um texto da própria Claudia sobre o que é ser professora.

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Claudia Castro

Ontem eu perdi uma amiga muito querida, a Claudinha, professora da PUC-Rio, especialista em Walter Benjamin. Eu a conheci quando tinha 12 anos (nossas mães são muito amigas) e aos 14 ou 15 anos lia Nietzsche com ela. Certamente ela teve uma influência enorme na minha decisão de seguir a vida acadêmica. Escolhi História. No mestrado fui apresentada ao Benjamin por ela e escrevi a dissertação sobre esse autor. No mestrado ela foi a minha orientadora de fato, mas informalmente.

Eu estou muito triste com essa perda... Gostaria de dividir com vocês esse singelo texto escrito por ela para um jornal interno da PUC. É sobre a vida do professor, é sobre a relação em sala de aula e é, acima de tudo, uma homenagem a ela, tão linda, tão inteligente e tão nova...

Saudades, Claudinha. Que você descanse em paz e encontre o Benjamin por onde passar...
beijos
Laura.

Laura Olivieri
Doutoranda em Serviço Social
Ex-aluna de graduação e de Mestrado do Departamento de História

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Aos alunos, com carinho

Cláudia Castro
Professora do departamento de Filosofia da PUC-Rio

Comecei a ensinar ainda menina. Primeiro, para as almofadas de meu quarto de criança. Depois, quando apenas alguns anos me separavam dos olhos curiosos que tinha a minha frente. Passados quinze anos como professora nesta universidade, talvez possa perguntar: o que é ensinar filosofia? Há uma grande diferença entre o ensino que hoje realizo e minha brincadeira infantil de falar com as almofadas? Não seria esse prazer primevo a antecipação, já a elaboração da tarefa que um dia iria realizar e à qual dedicaria minha vida inteiramente? Hoje vejo que sim. Porque no trabalho de formação filosófica não é o conteúdo o que mais importa, aquilo que podemos chamar de saber e que traz consigo, freqüentemente, um poder mutilante e nefasto. Em seu sentido mais elevado, ensinar filosofia (se isto é possível) é, ao mesmo tempo, ter o privilégio de viver e suscitar uma experiência de parada, de interrupção no curso das atividades práticas e automáticas de nossas vidas, para que um pouco de ar fresco, livre, possa atravessar.

Desde sua origem, os grandes pensadores concluíram que o pensamento puro é desprovido de utilidade. Ele é um momento de crítica, de indagação sobre o que somos e desejamos profundamente. E o professor enfrenta, a cada aula, o desafio de despertar esse sutil questionamento.

Ensinar é, antes de tudo, amar. Entrar num movimento em que nos despojamos de tudo que nos caracteriza como um sujeito pequeno, “humano demasiado humano”, nas palavras de Nietzsche, e, nessa abertura, pensar-com, pensar junto aos espíritos com os quais o acaso nos colocou em relação. Espíritos que também se abrem para o pensamento que, de fora, os transforma, irreversivelmente.

Assim, o trabalho do professor – que se inicia do zero a cada vez que ele adentra o espaço sagrado da sala, com as carteiras e a sua mesa, o quadro e o giz – se assemelha ao de um baloeiro que ensaia fazer subir um balão. Pois uma aula é como um balão. Se é boa, nos leva ao céu, para além de nós mesmos, até o reino mais perfeito da liberdade. Quando o balão consegue subir? Ele sobe se, inexplicavelmente, tanto o professor quanto os alunos, encantados com a magia misteriosa das palavras, tocam o insondável: a pergunta, sem resposta, sobre o sentido de nossas vidas.
 

Publicado em Plástico Bolha, nº 16.
Links:
http://www.jornalplasticobolha.com.br/pb16/aosalunoscomcarinho.htm
http://jornalplasticobolha.blogspot.com/2010/08/homenagem-professora-claudia-castro.html
 

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