O Núcleo de Memória
da PUC-Rio se une ao Departamento de Filosofia, à família de
Claudia, seus ex-alunos e amigos da professora Claudia no momento da
dor da despedida.
Claudia Maria de
Castro, que nos deixou no dia 4 de agosto depois de uma longa luta
de 8 meses contra o câncer, foi professora da PUC-Rio desde 1992.
Foi aluna de graduação em Direito, e fez também na PUC-Rio o
mestrado e o doutorado em filosofia, sob a orientação da professora
Kátia Muricy. Seus trabalhos sobre Walter Benjamin são
reconhecidos, respeitados e influenciaram muitos de seus alunos.
O Núcleo publica, em
sua homenagem, um breve texto de uma de suas amigas, Laura Olivieri,
ex-aluna de graduação e de mestrado do Departamento de História e
doutoranda do Departamento de Serviço Social, que nos enviou também
um texto da própria Claudia sobre o que é ser professora.
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Claudia Castro
Ontem eu perdi uma amiga muito querida, a
Claudinha, professora da PUC-Rio, especialista em Walter Benjamin.
Eu a conheci quando tinha 12 anos (nossas mães são muito amigas) e
aos 14 ou 15 anos lia Nietzsche com ela. Certamente ela teve uma
influência enorme na minha decisão de seguir a vida acadêmica.
Escolhi História. No mestrado fui apresentada ao Benjamin por ela e
escrevi a dissertação sobre esse autor. No mestrado ela foi a minha
orientadora de fato, mas informalmente.
Eu estou muito triste com essa perda... Gostaria de dividir com
vocês esse singelo texto escrito por ela para um jornal interno da
PUC. É sobre a vida do professor, é sobre a relação em sala de aula
e é, acima de tudo, uma homenagem a ela, tão linda, tão inteligente
e tão nova...
Saudades, Claudinha. Que você descanse em paz e encontre o Benjamin
por onde passar...
beijos
Laura.
Laura Olivieri
Doutoranda em Serviço Social
Ex-aluna de graduação e de Mestrado do Departamento de História
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Aos alunos, com
carinho
Cláudia Castro
Professora do departamento de Filosofia da PUC-Rio
Comecei a ensinar ainda menina. Primeiro, para
as almofadas de meu quarto de criança. Depois, quando apenas alguns
anos me separavam dos olhos curiosos que tinha a minha frente.
Passados quinze anos como professora nesta universidade, talvez
possa perguntar: o que é ensinar filosofia? Há uma grande diferença
entre o ensino que hoje realizo e minha brincadeira infantil de
falar com as almofadas? Não seria esse prazer primevo a antecipação,
já a elaboração da tarefa que um dia iria realizar e à qual
dedicaria minha vida inteiramente? Hoje vejo que sim. Porque no
trabalho de formação filosófica não é o conteúdo o que mais importa,
aquilo que podemos chamar de saber e que traz consigo,
freqüentemente, um poder mutilante e nefasto. Em seu sentido mais
elevado, ensinar filosofia (se isto é possível) é, ao mesmo tempo,
ter o privilégio de viver e suscitar uma experiência de parada, de
interrupção no curso das atividades práticas e automáticas de nossas
vidas, para que um pouco de ar fresco, livre, possa atravessar.
Desde sua origem, os grandes pensadores concluíram que o pensamento
puro é desprovido de utilidade. Ele é um momento de crítica, de
indagação sobre o que somos e desejamos profundamente. E o professor
enfrenta, a cada aula, o desafio de despertar esse sutil
questionamento.
Ensinar é, antes de tudo, amar. Entrar num movimento em que nos
despojamos de tudo que nos caracteriza como um sujeito pequeno,
“humano demasiado humano”, nas palavras de Nietzsche, e, nessa
abertura, pensar-com, pensar junto aos espíritos com os quais o
acaso nos colocou em relação. Espíritos que também se abrem para o
pensamento que, de fora, os transforma, irreversivelmente.
Assim, o trabalho do professor – que se inicia do zero a cada vez
que ele adentra o espaço sagrado da sala, com as carteiras e a sua
mesa, o quadro e o giz – se assemelha ao de um baloeiro que ensaia
fazer subir um balão. Pois uma aula é como um balão. Se é boa, nos
leva ao céu, para além de nós mesmos, até o reino mais perfeito da
liberdade. Quando o balão consegue subir? Ele sobe se,
inexplicavelmente, tanto o professor quanto os alunos, encantados
com a magia misteriosa das palavras, tocam o insondável: a pergunta,
sem resposta, sobre o sentido de nossas vidas.
Publicado em Plástico Bolha, nº 16.
Links:
http://www.jornalplasticobolha.com.br/pb16/aosalunoscomcarinho.htm
http://jornalplasticobolha.blogspot.com/2010/08/homenagem-professora-claudia-castro.html