Nos
idos de 1960 o Bar do Seu Zé ocupava o extremo dos pilotis do
Edifício Cardeal Leme, ao lado dos elevadores que, então, levavam às
instalações das Engenharias da PUC-Rio. Na memória dos que viveram
aqueles anos na Universidade, o Bauru do Bar do Seu Zé remete a
uma iguaria de sabor inesquecível, ainda que dificilmente fosse aprovado
pelos padrões da vigilância sanitária hoje vigentes.
Seu Zé, o
responsável pelo Bar que levava o seu nome, era um português de coração
grande e sorriso raro, que vendia fiado aos estudantes quando estava de
bom humor e, algumas vezes, se encarregava de entregar bilhetinhos
amorosos trocados entre alunos e alunas.
Ele foi o
protagonista de uma das melhores páginas do folclore da PUC-Rio: um belo
dia, para facilitar o trabalho no Bar, Seu Zé decidiu modernizar seu
sistema de vendas e pareceu-lhe uma boa idéia mandar fazer fichas
coloridas de plástico que correspondessem aos vários produtos que
oferecia. Azuis redondas e pequenas para o cafezinho; vermelhas maiores
e sextavadas para o Bauru famoso; amarelas de igual tamanho e formato
para o queijo quente e assim por diante. Sabedor que era da malandragem
de seus fregueses, mandou gravar nas fichas o nome da Universidade, para
evitar o uso indevido de fichas de outras proveniências.
Por
telefone, comunicou-se com um patrício seu que trabalhava no ramo da
confecção de fichas de plástico e fez a encomenda, sem esquecer de
recomendar enfaticamente que gravasse em cada uma delas Universidade
Católica.
Quando as
fichas chegaram, ostentavam orgulhosamente a inscrição:
NOBRE
CIDADE CATÓLICA
Seu Zé foi
traído pelo sotaque lusitano carregado e, provavelmente, também pela
pouca familiaridade do fabricante das fichas com o mundo universitário,
e a encomenda feita por telefone sofreu uma metamorfose linguística mais
saborosa que o Bauru que vendia.
As fichas
tornaram-se um sucesso extraordinário de vendas. Todo mundo comprava
uma para guardar de lembrança. O Núcleo de Memória da PUC-Rio conseguiu
localizar duas fichas originais, ambas cuidadosamente guardadas em
invólucros transparentes por seus felizes proprietários, os, hoje,
professores Marco Antônio Grivet Mattoso Maia (Cetuc) e Alfredo
Jefferson de Oliveira (Departamento de
Artes & Design).
Nada mais justo do que
rememorar com carinho o Seu Zé e cunhar uma edição comemorativa dessas
históricas fichas para a Exposição PUC-Rio: 70 anos, rumo aos 80,
coisa que a competência do Laboratório de Volume e
Prototipagem e a cumplicidade do professor Felipe Rangel Carneiro
tornaram possível.

Em tempo: duas fichas
originais e o protótipo da recunhagem comemorativa de 2010 fazem parte
da Exposição.

O bar do Seu Zé pode ser visto à direita no térreo do edifício Cardeal
Leme.
Professora Margarida de Souza Neves
Coordenadora do Núcleo de Memória da PUC-Rio
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