
Projeção na sala do Conselho Universitário.
Fotógrafo Antônio Albuquerque. Acervo do Núcleo de
Memória.
As
contradições que marcaram a sociedade durante os 21 anos
que se seguiram ao golpe civil-militar passaram por
dentro dos campi das universidades brasileiras.
Em razão de suas ideias políticas, alunos e professores
foram perseguidos, expulsos, presos e torturados; alguns
professores foram aposentados compulsoriamente e outros
exonerados; cursos encerrados; verbas de pesquisa
cortadas.
O
expurgo de professores ocorreu mais sistematicamente em
1964 e 1969, após a promulgação do AI-5 e do decreto
477, instrumento de repressão voltado para a educação
que permitiu as expulsões dentro das universidades
públicas sem nenhuma defesa prévia.
A
liberdade estava cerceada e a PUC-Rio não passou
incólume pelos conflitos desse período. Alguns militares
eram professores dos cursos de Engenharia do
recém-criado CTC e em todos os Centros havia quem
apoiasse a ditadura, o que aumentava a pressão para que,
também nesta Universidade, o decreto fosse colocado em
prática. A PUC-Rio acolhera alguns professores das
universidades federais, sobretudo da UFRJ. Tal decisão
acirrou conflitos internos.
Em
depoimento, o professor Carmelo, do Departamento de
Educação, relata a “sessão memorável” do Conselho
Universitário, ocorrida no início de 1969. Alguns
conselheiros defendiam a suspensão dos contratos dos
docentes oriundos da UFRJ. O consenso parecia impossível.
Paulo de Assis Ribeiro, Assessor de Planejamento da
Reitoria, ligou o retroprojetor e argumentou: “a
doutrina social da igreja é como este foco: há posições
mais centrais, mais à esquerda e à direita; acima ou
abaixo. Entretanto, desde que esteja dentro deste foco
de luz, está de acordo com a doutrina. Não há, portanto,
condição de se afastar um professor e pesquisador da PUC
por razões do AI-5, sempre que suas opções políticas se
coloquem dentro do foco abrangente da doutrina social da
igreja". Após intenso debate, o Conselho Universitário
decidiu manter os professores.
Os
tempos difíceis não impediram que a solidariedade e o
sonho de dias melhores encontrassem formas de expressão.
Eduardo Gonçalves
Namíbia Rodrigues
Núcleo de Memória da PUC-Rio