Publicações do Núcleo de Memória da PUC-Rio

:: Raul Amaro Nin Ferreira, “onde quer que ele esteja” - série Crônicas de Memória - Para não esquecer; artigo publicado em 25/08/2014,  edição 283 do Jornal da PUC


Raul Amaro Nin Ferreira na Serra da Bocaina. s.d. Fotógrafo desconhecido. Foto cedida por seu irmão, Miguel Nin Ferreira.

Mães são capazes de tudo para confortar um filho que sofre. É isso o que mostra a carta escrita por Mariana Lanari Ferreira, mãe de nove filhos, quando Raul, o mais velho, foi preso na noite de 1º de agosto de 1971. Em carta escrita ao Coronel Homem de Carvalho, ela deixa perceber sua angústia quando pede ao então comandante da Polícia Especial que entregue ao filho, “onde quer que ele esteja”, um embrulho que, além de roupas, faria chegar a ele seu carinho.

Raul tinha 27 anos, formara-se em Engenharia Mecânica pela PUC-Rio, estava noivo e acabava de ganhar uma bolsa de estudos para a Holanda. Detido durante uma batida policial, foi considerado suspeito por ter em seu carro esboços de dois mapas, um deles do caminho para o apartamento que alugara em Santa Teresa, onde a polícia encontrou  mimeógrafos e material de propaganda de um grupo político, guardados ali a pedido de um amigo.

Enquanto esteve preso, a família moveu céus e terras para localizá-lo. Nem mesmo o fato de seu caso ter sido levado ao conhecimento de Ministros de Estado fez que tivessem dele qualquer notícia.

No dia 12 de agosto o corpo de Raul, com evidentes marcas de tortura, foi entregue à família. Os registros oficiais da causa mortis são divergentes. Em alguns consta edema pulmonar, em outros, embolia e ataque cardíaco ou apenas a palavra “morto”. O que foram os dias de prisão, torturas e morte está amplamente documentado no site armazemmemoria.com.br e no Relatório feito por sua família.

Foram muitos os jovens que tiveram o mesmo destino de Raul nos duros tempos da ditadura. Mas ele é o único ex-aluno da PUC-Rio morto sob tortura pelas mãos do Estado Brasileiro. Por isso, no dia 2 de junho de 2014, data de seu aniversário, o C.A. de História fez uma homenagem a Raul e plantou no campus uma muda da mesma árvore que existia no jardim de sua casa. À sombra desta árvore, foi inaugurada uma placa para que sua memória permaneça sempre na universidade. “Onde quer que ele esteja”, que Raul saiba que nunca será esquecido na PUC-Rio.

Thaís Lacerda Queiroz Carvalho
Margarida de Souza Neves
Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

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