
Raul Amaro Nin Ferreira na Serra da Bocaina. s.d.
Fotógrafo desconhecido. Foto cedida por seu irmão,
Miguel Nin Ferreira.
Mães
são capazes de tudo para confortar um filho que sofre. É
isso o que mostra a carta escrita por Mariana Lanari
Ferreira, mãe de nove filhos, quando Raul, o mais velho,
foi preso na noite de 1º de agosto de 1971. Em carta
escrita ao Coronel Homem de Carvalho,
ela
deixa perceber sua angústia quando pede ao então
comandante da Polícia Especial que entregue ao
filho, “onde quer que ele esteja”, um
embrulho que, além de roupas, faria chegar a ele seu
carinho.
Raul tinha 27 anos, formara-se
em Engenharia Mecânica pela PUC-Rio, estava noivo e
acabava de ganhar uma bolsa de estudos para a Holanda.
Detido durante uma batida policial, foi considerado
suspeito por ter em seu carro esboços de dois mapas, um
deles do caminho para o apartamento que alugara em Santa
Teresa, onde a polícia encontrou mimeógrafos e material
de propaganda de um grupo político, guardados ali a
pedido de um amigo.
Enquanto
esteve preso, a família moveu céus e terras para
localizá-lo. Nem mesmo o fato de seu caso ter sido
levado ao conhecimento de Ministros de Estado fez que
tivessem dele qualquer notícia.
No dia 12 de agosto o corpo
de Raul, com evidentes marcas de tortura, foi entregue à
família. Os registros oficiais da causa mortis
são divergentes. Em alguns consta edema pulmonar,
em outros,
embolia e
ataque
cardíaco
ou
apenas a palavra “morto”.
O que foram os dias de prisão, torturas e morte está
amplamente documentado no site
armazemmemoria.com.br e no Relatório
feito por sua família.
Foram
muitos os jovens que tiveram o mesmo destino de Raul nos
duros tempos da ditadura. Mas ele é o único ex-aluno da
PUC-Rio morto sob tortura pelas mãos do Estado
Brasileiro.
Por isso, no dia 2 de junho
de 2014, data de seu aniversário, o C.A. de História fez
uma homenagem a Raul e plantou no campus uma muda da
mesma árvore que existia no jardim de sua casa. À sombra
desta árvore, foi inaugurada uma placa para que sua
memória permaneça sempre na universidade. “Onde quer
que ele esteja”, que Raul saiba que nunca será
esquecido na PUC-Rio.
Thaís
Lacerda Queiroz Carvalho
Margarida de Souza Neves
Núcleo de Memória da PUC-Rio