
Cinelândia: Passeata dos 100 mil. 26 de junho de 1968.
Fotógrafo: José Inácio Parente. Acervo José Inácio
Parente.
Há
lembranças que são dolorosas. Muitas vezes essa
rememoração triste diz respeito, precisamente, ao que
não deve ser esquecido. É o caso dos 21 anos que se
seguiram ao golpe civil-militar que, há 50 anos,
instaurou uma ditadura no Brasil. Com ela, não apenas a
liberdade e a cidadania foram cerceadas, mas muitas
vidas foram ceifadas, muitos corpos foram torturados,
muitos sonhos foram truncados.
Em
2014 somos convidados a uma comemoração às avessas que
aponta para a necessidade de viver o luto pelo que de
arbítrio, violência e morte marcou o país há 50 anos.
Serão inúmeras as oportunidades para refletir sobre os
anos que se seguiram àquele 31 de março de 1964. Os
livros sobre o tema já se multiplicam nas livrarias,
assim como exposições, congressos, documentários,
debates e iniciativas para fazer da justiça uma forma de
redenção, tardia mas imprescindível, dessa memória
sombria.
A
foto escolhida para abrir essa série de crônicas de
memória não é apenas um flagrante colhido pelo olhar
sensível de José Inácio Parente, então estudante de
psicologia da PUC-Rio, durante a passeata dos 100 mil.
Ela é também o registro de uma utopia. Sobre a faixa
que aparece no centro da fotografia alguém escreveu em
letras garrafais: “PUC: TERRITÓRIO LIVRE”, mesmo
sabendo que não podem existir territórios livres em um
país sem liberdade.
Por
dentro do campus da PUC-Rio passavam então – tal como
passam hoje – todos os conflitos, todas as tensões,
todas as contradições da sociedade, porque a
Universidade não era – e não é – um planeta a parte.
Mas isso não impediu então - como não impede hoje - que
o desejo e o sonho encontrassem formas de expressão.
Com
os poucos registros desses tempos difíceis que existem
no seu acervo, o Núcleo de Memória pretende escrever, em
2014, uma série de crônicas sobre a PUC-Rio durante os
anos da ditadura. Para não esquecer. Por dever de
justiça para com o passado e por acreditar no direito à
esperança no presente e no futuro.
Margarida de Souza Neves
Núcleo de Memória da PUC-Rio