
Alberto Dines lê o seu discurso na formatura realizada
no antigo ginásio da PUC-Rio. Na mesa o Reitor Pe.
Laércio Dias de Moura S.J., o Decano do CTCH Pe. Ormindo
Viveiros S.J., o Diretor do Departamento Prof. Walter
Ramos Poyares e os professores Arnaldo Niskier e José
Henrique de Carvalho. 20/12/1968. Fotógrafo desconhecido.
Acervo pessoal de Alberto Dines.
Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está
irrespirável. O país está sendo varrido por fortes
ventos. Máx.: 38º, em Brasília. Mín.: 5º, nas
Laranjeiras. (Jornal do Brasil, 1ª página,
14/12/1968. Texto publicado no box que usualmente
trazia os dados meteorológicos.)
Em 20/12/1968 houve a formatura da primeira turma do curso
de Jornalismo da PUC-Rio que se graduou em separado à
Faculdade de Filosofia. Consolidava-se a Reforma
Universitária; haviam sido criados na Universidade os
departamentos, entre eles o de Comunicação Social.
A turma, formada em plena ditadura, refletiu o seu tempo em
suas escolhas: o patrono da turma foi Dom Helder Camara,
figura de destaque pelo enfrentamento à ditadura e que
fora professor da PUC-Rio. O paraninfo foi o jornalista
Alberto Dines, professor do curso de Jornalismo desde
1963, no qual criou as disciplinas de Jornalismo
Comparado e de Teoria da Imprensa. Era então editor-chefe
do Jornal do Brasil (JB), trabalhara, entre outros, no
jornal Última Hora e na revista Manchete. Desde 1994
dirige o Observatório da Imprensa.
Na noite em que foi anunciado o AI-5, em 13/12/1968,
militares ocuparam as redações dos jornais para
implantar a censura prévia. No JB revisaram as provas do
jornal na sala do editor-chefe, Dines. No entanto foi
impressa uma edição diferente da aprovada,
propositalmente estranha, para “avisar ao leitor” de que
havia algo errado: classificados invadiram as páginas do
primeiro caderno, fotos apareceram fora de contexto. Em
consequência, o jornal foi proibido de circular no dia
15/12/1968. Logo os jornais assumiram com o Governo um
compromisso de autocensura com consequências até mais
insidiosas do que a censura explícita e externa, ao
introjetar nos jornalistas restrições que só ao longo
dos anos foram rompidas.
O convite a Alberto Dines para ser paraninfo ocorrera muito
antes da edição do AI-5. Agentes do Serviço Secreto da
Marinha estiveram presentes durante a cerimônia de
formatura e gravaram o discurso no qual Dines criticava
duramente a censura aos jornais. Dois dias depois ele
foi chamado a depor na Polícia Federal e preso na Vila
Militar por alguns dias. A formatura foi registrada
normalmente nos eventos no Anuário da PUC-Rio de 1968 e
uma foto, com Dines na mesa ao lado do Reitor, publicada
na seção sobre o Departamento de Comunicação Social.
Nem sempre as cerimônias de formatura são previsíveis e
com significados restritos ao universo acadêmico.
Clóvis Gorgônio
Núcleo de Memória da PUC-Rio