Publicações do Núcleo de Memória da PUC-Rio

:: O vestibular unificado no Maracanã - série Crônicas de Memória - Fotografias: janelas do tempo; artigo publicado em 25/11/2013, Jornal da PUC, Edição 276


Vestibulandos no Maracanã. 1973. Fotógrafo Antônio Albuquerque.
Acervo do Núcleo de Memória.

“Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.”

(Futebol, de Carlos Drummond de Andrade)

A poesia de Drummond faz alusão às diferentes dimensões em que o futebol está presente e a possibilidade de uma partida com o Maracanã completamente lotado transformar cada um presente no estádio em técnico, juiz e jogador. A paixão brasileira pelo futebol encontra no Maracanã a sua materialização, o seu palco mais importante, onde sonhos, lendas, tragédias e glórias se concretizam. O palco de inesquecíveis confrontos também já deu lugar a outro tipo de competição, os vestibulares unificados.

Na década de 1960 os vestibulares foram unificados para cada aluno prestar uma única prova e concorrer a uma vaga em várias instituições. Criados com objetivo de forçar a adesão das universidades à Reforma Universitária, os conteúdos, as datas de aplicação das provas e as taxas de inscrição foram unificadas. Realizadas nas arquibancadas quentes e incômodas do estádio, vestibulandos das mais diversas origens se agrupavam, se misturavam e formavam quase uma grande torcida, que se aproximava de um verdadeiro domingo de clássico com desejos, aspirações e dúvidas, com a diferença que nos dias do vestibular a vontade de ver o clube campeão dava lugar ao sonho de ser aprovado.

Na foto que ilustra esta crônica, nota-se o ambiente de tensão entre os candidatos. Alguns aparecem com a mão na cabeça, outros contemplam a grandiosidade do Maracanã e grande parte está concentrada e curvada diante das suas pranchetas, item obrigatório nos vestibulares realizados nos estádios de futebol. Durante quatro horas vestibulandos resolviam questões e escreviam a redação, fiscais circulavam nas fileiras das arquibancadas. Era praticamente impossível colar, uma vez que as provas dos diferentes concursos eram entregues intercaladas. Para relaxar, alguns estudantes repousavam seus pés nas cadeiras da frente.

Os vestibulares no Maracanã podem ser encarados como uma grande partida de futebol. Nesses dias, os craques do campo inspiravam os craques das arquibancadas, eram dias em que ao invés de driblarem zagueiros e goleiros, driblavam as dificuldades e o desconforto, onde a concentração de um camisa 10 era necessária para resolver as questões da prova e, para aqueles que conseguissem realizar uma grande jogada, a frieza e a habilidade de um atacante, eram fundamentais para atingir a meta, o gol, a aprovação no vestibular.
 

Eduardo Gonçalves e Igor Valamiel
Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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