“Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.”
(Futebol, de Carlos Drummond de Andrade)
A poesia de Drummond faz alusão às diferentes dimensões
em que o futebol está presente e a possibilidade de uma
partida com o Maracanã completamente lotado transformar
cada um presente no estádio em técnico, juiz e jogador.
A paixão brasileira pelo futebol encontra no Maracanã a
sua materialização, o seu palco mais importante, onde
sonhos, lendas, tragédias e glórias se concretizam. O
palco de inesquecíveis confrontos também já deu lugar a
outro tipo de competição, os vestibulares unificados.
Na década de 1960 os vestibulares foram unificados para
cada aluno prestar uma única prova e concorrer a uma
vaga em várias instituições. Criados com objetivo de
forçar a adesão das universidades à Reforma
Universitária, os conteúdos, as datas de aplicação das
provas e as taxas de inscrição foram unificadas.
Realizadas nas arquibancadas quentes e incômodas do
estádio, vestibulandos das mais diversas origens se
agrupavam, se misturavam e formavam quase uma grande
torcida, que se aproximava de um verdadeiro domingo de
clássico com desejos, aspirações e dúvidas, com a
diferença que nos dias do vestibular a vontade de ver o
clube campeão dava lugar ao sonho de ser aprovado.
Na foto que ilustra esta crônica, nota-se o ambiente de
tensão entre os candidatos. Alguns aparecem com a mão na
cabeça, outros contemplam a grandiosidade do Maracanã e
grande parte está concentrada e curvada diante das suas
pranchetas, item obrigatório nos vestibulares realizados
nos estádios de futebol. Durante quatro horas
vestibulandos resolviam questões e escreviam a redação,
fiscais circulavam nas fileiras das arquibancadas. Era
praticamente impossível colar, uma vez que as provas dos
diferentes concursos eram entregues intercaladas. Para
relaxar, alguns estudantes repousavam seus pés nas
cadeiras da frente.
Os vestibulares no Maracanã podem ser encarados como uma
grande partida de futebol. Nesses dias, os craques do
campo inspiravam os craques das arquibancadas, eram dias
em que ao invés de driblarem zagueiros e goleiros,
driblavam as dificuldades e o desconforto, onde a
concentração de um camisa 10 era necessária para
resolver as questões da prova e, para aqueles que
conseguissem realizar uma grande jogada, a frieza e a
habilidade de um atacante, eram fundamentais para
atingir a meta, o gol, a aprovação no vestibular.
Eduardo Gonçalves e Igor Valamiel
Núcleo de Memória da PUC-Rio