
Apuração dos votos das eleições para a UNE e UEE.
05/10/1979. Fotógrafo Alfredo Jefferson. Acervo do prof.
Alfredo Jefferson.
A foto desta coluna registra um fragmento do processo de abertura
política no Brasil no final dos anos 1970. Remete a um
momento crucial para o movimento estudantil, durante a
apuração dos votos da eleição para as diretorias da UNE (União
Nacional dos Estudantes) e da UEE (União Estadual dos
Estudantes) que, com o Golpe de 1964, haviam sido colocadas
na ilegalidade e assim continuavam.
A moça que dorme no banco de madeira era um dos 300 voluntários que
participaram da apuração, muitos acampados por ali mesmo na
virada da noite. Ela parece alheia ao burburinho da apuração
e ao barulho que as chapas concorrentes às eleições faziam
do lado de fora do antigo ginásio esportivo. Seu sono pesado,
quem sabe, atribui-se ao desgaste físico e mental das duras
lutas travadas num momento tão crítico da vida nacional, mas
ao mesmo tempo de intensa mobilização da juventude
estudantil e desejo por dias melhores.
Apuraram-se na PUC-Rio 45 mil votos do Estado do Rio. Foram 340 mil
votantes no país num universo de pouco mais de um milhão de
universitários. Foi a primeira vez que a UNE utilizou o voto
direto nas suas eleições. Elas ocorreram nos dias 3 e 4 de
outubro de 1979 sob ameaças: os DCEs e CAs haviam voltado a
funcionar nas universidades, mas a UNE e as UEEs não eram
reconhecidas nem toleradas pelo Governo Federal.
A PUC-Rio tornara-se um importante espaço no qual as discussões e
manifestações políticas encontraram refúgio, em particular
as relacionadas à reestruturação do movimento estudantil e o
processo de reconstrução da UNE a partir de 1976. As
reuniões dos DCEs dos estados para organizar as eleições
estudantis realizaram-se na PUC-Rio, reunindo em agosto de
1979 mais de 500 participantes durante vários dias.
O ano de 1979 é um marco na história não só da UNE e da PUC-Rio, mas
também na história do movimento estudantil brasileiro e da
própria democracia que, naquele momento, parecia ter sido
entorpecida e adormecido em um sono muito diferente daquele
da jovem estudante, vencida pelo cansaço da luta.
Clóvis Gorgônio e Namíbia Rodrigues
Núcleo de Memória da PUC-Rio
|