
Missa por D. Oscar Romero, arcebispo de El Salvador,
assassinado em 24/03/1980. Fotógrafo: Antonio
Albuquerque. Acervo do Núcleo de Memória.
Uma sala em construção. Um altar. Velas acesas. E um
grande número de sacerdotes, entre os quais é possível
reconhecer os padres Garcia Rubio, Álvaro Barreiro, Antonio
Pereira e José Carlos de Lima Vaz. Não fosse a inscrição na
faixa presa à parede inacabada, pouco mais saberíamos sobre
a janela que a fotografia aqui impressa abre no tempo.
Nela, as palavras do arcebispo de El Salvador, Oscar Romero,
ditas na véspera de ser assassinado a tiros quando celebrava
missa no dia 24/03/1980. A faixa indica que na sala ainda
sem reboco celebrava-se uma missa em homenagem a esse
salvadorenho, nascido de uma família de mineiros em 1917,
ordenado em 1942, que o Concílio Vaticano II, as
Conferências Episcopais de Medellín e de Puebla e o contato
intenso com o povo pobre transformaram em um bispo
comprometido com a causa da justiça e, por isso, incômodo
para os donos do poder.
No acervo do Núcleo de Memória outras 12 fotos permitem
descobrir mais informações e novas perspectivas do mesmo
evento. A sala em construção é o antigo Salão de Vidro que
ocupava parte dos pilotis do Leme. Eram 17 os padres que
concelebraram aquela missa, entre eles o Reitor, Pe. Mac
Dowell, o Vice-Reitor Acadêmico, Pe. Agostinho Castejón e
professores de vários Departamentos. E a razão pela qual a
celebração não foi na pequena capela bem ao lado fica clara
nas fotos que mostram o grande salão inacabado repleto de
estudantes, professores e funcionários.
Nos anos 1980, as diretrizes da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), a reflexão da teologia da
libertação, e a organização do povo nas Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) uniram forças com outras
instituições, outras matrizes de pensamento e outros grupos
sociais na mobilização que levou à lenta abertura política e
à democratização. Na PUC-Rio, como em toda a sociedade, os
debates de idéias e os confrontos de posições políticas eram
constantes.
Naquela manhã de março de 1980 diferenças e divergências
foram suspensas para celebrar a vida de Oscar Romero, um
homem corajoso e simples, capaz de falar a língua do povo e
de lutar as lutas dos pobres. No salão inacabado era
possível entrever uma utopia que “ergueu no patamar
quatro paredes sólidas / tijolo com tijolo num desenho
mágico”, como na poesia feita música por Chico Buarque.
Não será a magia desse desenho que o papa que
escolheu chamar-se Francisco propõe para a construção
a ser erguida por todos nós?
Margarida de Souza Neves
Coordenadora do Núcleo de Memória da PUC-Rio
Wendy Macintyre
Aluna de graduação do IRI e bolsista de IC do Núcleo de
Memória da PUC-Rio
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