
Aníbal Mesquita (funcionário do Depto. de Comunicação),
Anne-Marie Devos, prof. Ernani Ferraz (na época no Depto.
de Educação, hoje no Depto. de Comunicação) e Manoel
Wambier no Laboratório de Vídeo do CTC. 1988.
Fotógrafo César Duarte. Acervo do Projeto Comunicar.
Nesta série de artigos sobre as
pessoas que emprestam seus nomes a espaços do campus
da PUC-Rio os denominadores comuns são o reconhecimento do
papel desempenhado na Universidade e a saudade.
Esse é o caso da homenagem ao professor Manoel Wambier, que
batiza os laboratórios de rádio e TV do Departamento de
Comunicação da PUC-Rio desde 1998.
Amigos de diversas épocas e lugares publicaram relatos que
ajudaram a compreender melhor a personalidade de Wambier.
Nesses relatos e em matérias publicadas no Jornal da PUC
surge a figura do “menino do Rio”, da praia, das festas, da
música. No depoimento do professor Miguel Pereira, que o
trouxe para o Departamento de Comunicação em 1981, aparece o
professor muito próximo aos alunos e ao mesmo tempo muito
rigoroso. No discurso da profa. Lenira Alcure na inauguração
dos laboratórios, ela resume: “Eterno menino do Rio, com seu
jeitinho malandro e doce de quem nunca abandonou a infância,
dá sentido à inauguração dos nossos estúdios de rádio e TV,
pois foi ele o seu primeiro idealizador.” Ressalta ainda o
“espírito conciliador e a coragem de enfrentar os maiores
desafios”. Um amigo dos anos 1970, Luiz Sergio Nacinovic,
assim descreve Wambier: “cara de bugre saído de quadro
clássico de Almeida Júnior”, resultado da mistura da bisavó
índia com imigrantes alemães.
Manoel Herrington Wambier, nascido em Ponta Grossa, Paraná,
em 1942, iniciou sua carreira como locutor de rádio em
Curitiba, onde estudava Filosofia. Em 1963 já apresentava o
principal telejornal da TV Paraná. Um episódio definiu sua
saída de Curitiba e a vinda para o Rio: no telejornal, ao
preparar-se para ler uma notícia sobre uma greve de gráficos
e jornalistas duramente reprimida, viu que o texto era
tendencioso e traduzia a visão do grupo empresarial que
incluía jornais e o canal de TV no qual trabalhava. Ao vivo,
o jovem locutor com espírito de menino que vê e fala,
declarou “isso eu não leio, porque não é verdade”. Perdeu o
emprego.
Veio para o Rio e trabalhou como locutor e depois
redator-chefe da Rádio Globo, onde conheceu o prof. Miguel
Pereira, que pesquisava nos arquivos do jornal O Globo.
Wambier completou o curso de Filosofia na UFRJ em 1969, um
período conturbado da vida nacional. Foi para a Alemanha
onde passou sete anos, dominou a língua e trabalhou como
locutor, redator e tradutor para a Deutsche Welle, e como
tradutor e dublador de filmes.
Ao chegar na Alemanha foi recebido com suspeita pela
comunidade de exilados brasileiros por não ter um passado de
militância política explícita. Ganhou o apelido de "O Espião
de Colônia", história contada pelo jornalista Osvaldo
Peralva em livro que reuniu crônicas publicadas nos anos
1980. Logo o menino que fazia amigos com a facilidade da
infância superou a desconfiança, que deu lugar a reuniões
para as quais Wambier preparava “uma sopa de lentilhas para
chef germânico nenhum botar defeito”, seguindo a tradição de
boa cozinha transmitida por sua mãe.
Voltou para o Brasil, foi diretor da Rádio Roquette Pinto,
do jornalismo da TV Bandeirantes no Rio de Janeiro e do
núcleo de programas especiais da Rede Manchete. No
Departamento de Comunicação da PUC-Rio ajudou a definir as
disciplinas relacionadas a rádio e TV e a montar os
laboratórios. Coordenava os programas de rádio e depois de
TV produzidos pelo Departamento.
Se da mãe herdou a habilidade culinária, com o pai aprendeu
a mexer com eletrônica. Era capaz de construir e consertar
rádios. Na PUC-Rio desenvolveu um pequeno transmissor e fez
experiências para implantar uma rádio que transmitisse a
programação produzida pelos alunos de Comunicação. Testou a
transmissão do sinal de rádio do alto do Edifício Cardeal
Leme para os outros prédios da Universidade. Não foi
possível colocar a rádio no ar por limitações técnicas e
legais, por isso criou e coordenou uma rádio transmitida nos
pilotis através de alto-falantes. Havia na programação
radionovelas, música e programas produzidos pelos alunos.
Wambier faleceu em 1993. O sentimento da jornalista Dalva
Ventura é de que ele foi plenamente feliz no Rio de Janeiro:
“Não perdia uma praia, sempre no final da tarde e, nos
finais de semana, preparava almoços antológicos para nós e
uma galera de agregados. Que eram muitos.” Os amigos da
PUC-Rio estavam entre eles, presentes naqueles dias de sol
de Ipanema e atentos às orientações do professor próximo,
mas exigente, que dizia sem hesitar: “Isso não está certo.
Corrija”.
É justo que essa edição comemorativa dos 60 anos do curso de
jornalismo na PUC-Rio volte a homenagear o professor Wambier
e que todos nós relembremos que os laboratórios de rádio e
TV do Departamento de Comunicação da PUC-Rio levam seu nome.
Clóvis Gorgônio
Núcleo de Memória da PUC-Rio |