Publicações do Núcleo de Memória da PUC-Rio

:: Um reitor engenheiro - série Crônicas de Memória - artigo publicado em 14/06/2011 no Jornal da PUC, Edição 256


O Edifício pe. Pedro Belisário Velloso Rebello S.J., localizado ao lado do Rio DataCentro. 2012.
Fotógrafo Antônio Albuquerque. Acervo do Núcleo de Memória da PUC-Rio.

A homenagem feita pelo Departamento de Informática ao padre Pedro Belisário Velloso Rebello, S.J., ao batizar com seu nome o edifício sede de alguns de seus laboratórios, fornece mais um registro no mapa da memória inscrita no campus e permite recordar uma das figuras centrais na história da PUC-Rio.

O prédio discreto, localizado ao lado do Rio DataCentro e inaugurado em meados dos anos 1990, resulta das ampliações e reformas feitas na casa construída no início dos anos 1970 para abrigar baterias cedidas pela Marinha do Brasil à PUC-Rio e que serviam de no-break para o computador mainframe do RDC. Um detalhe arquitetônico singular da atual construção é o telhado suspenso que dá aspecto sci-fi ao conjunto sóbrio. Foi colocado após inúmeras jacas, com sua indiscrição característica, arruinarem o telhado original dos laboratórios lá instalados e a concentração de seus pesquisadores.

Uma placa afixada, em 1997, na entrada do prédio formaliza a homenagem ao padre Velloso e sintetiza os traços biográficos eleitos por seus idealizadores para justificá-la. Nela se lê: “Pe. Pedro Belisário Velloso Rebello, S.J. 1902 – 1993. Engenheiro, depois Sacerdote Jesuíta. Grande promotor do Operariado Cristão, Reitor da PUC-Rio em dois períodos e Provincial dos Jesuítas do Brasil Central.”

Padre Velloso era engenheiro formado pela Universidade do Brasil e autor de projetos de grande porte como a construção do dique da Ilha das Cobras quando, em 1933, entrou para o noviciado da Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1941, tornou-se Secretário do padre Leonel Franca na Reitoria das Faculdades Católicas e foi nessa posição que empenhou-se na concepção e implantação da Escola Politécnica, tendo sido seu primeiro diretor, e no projeto de uma nova sede para a Universidade.

Sempre discreto, o padre Velloso comandou, já como reitor, todas as etapas da construção do campus da Gávea, espaço físico e simbólico do “patrimônio aplicado no ensino e na pesquisa científica”, nas palavras de padre Franca. Inaugurado em 1955, o novo campus atualizou o projeto fundador das Faculdades Católicas em direção a novos tempos em que a relação complementar entre ensino e pesquisa se concretizaria como prática acadêmica e como marca de identidade da PUC-Rio.

Como bem registra a placa comemorativa, padre Velloso aliava suas atividades acadêmicas a um intenso compromisso pastoral junto aos Círculos Operários e aos trabalhadores pobres. Assumiu, antes mesmo do início das obras do novo campus, o cargo de assistente eclesiástico do Parque Proletário da Gávea, onde fundou uma Congregação Mariana de Operários. Logo depois criou a Escola de Líderes Operários, ligada à Escola de Serviço Social da PUC-Rio, e que foi um núcleo de formação de importantes lideranças que conquistaram posições decisivas em sindicatos do Rio de Janeiro.

Também em 1951, iniciou sua atuação de catequese e de promoção social na favela Santa Marta, em Botafogo, atividade que manteve até o fim da vida. Na toponímia da favela, tão diversa do espaço do campus universitário planejado e construído pelo “reitor engenheiro”, a presença do jesuíta é lembrada na principal rua de acesso aos becos e vielas do morro e no Centro Comunitário, ambos batizados com seu nome. Quando as ruas e becos do Santa Marta receberam nomes, para que fosse possível o trabalho de entrega de correio e a operacionalização de outros serviços públicos, o critério era que nenhuma pessoa viva receberia a homenagem. Única e merecida exceção, decidida por unanimidade em assembleia dos moradores: o padre Velloso. Seu nome na “Avenida pe. Velloso”, que atravessa o morro inteiro, e no prédio do Departamento de Informática manifesta o reconhecimento da vida e da obra desse engenheiro que se tornou jesuíta e que sempre soube integrar o compromisso com a universidade, com a ciência e com a justiça.

Silvia Ilg Byington
Núcleo de Memória da PUC-Rio
 

 

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