
Pe. Leopoldo Hainberger S.J. em seu gabinete no
Departamento de Química. c. 1970. Fotógrafo desconhecido.
Acervo do Núcleo de Memória da PUC-Rio.
Em uma vista aérea do campus da PUC-Rio, o prédio da química é
identificado como um bloco contíguo ao antigo Instituto de
Física que expande e alonga, na direção dos limites do
campus, o corpo original do Edifício Cardeal Leme. A
composição é bela e orgânica. Conforma-se à sinuosidade das
encostas do Morro Dois Irmãos e, na curvatura adotada, dá
continuidade ao desenho modernista do vizinho Conjunto
Habitacional Marquês de São Vicente, o Minhocão, projeto de
1951 do arquiteto Affonso Eduardo Reidy.
O bloco foi construído entre 1965 e 1971 para sediar o Instituto de
Química que, fundado em 1959, tinha instalações precárias na
casa nº 21, uma das moradias operárias adquiridas pelas
Faculdades Católicas por ocasião da compra dos terrenos para
a construção do campus. Nesta casa foi criado, em
1960, o Laboratório de Pesquisas Radioquímicas, com verba do
Conselho Nacional de Pesquisas. A casinha deu lugar ao
prédio de sete andares, pilotis e subsolo, com área de 7.700
m², projetado para salas de aula, dois grandes auditórios e
quarenta laboratórios, uma impressionante expansão que
simboliza na dimensão espacial e de infraestrutura as
ambições e conquistas científicas e acadêmicas do Instituto
e de seu fundador e diretor, o padre Leopoldo Hainberger S.J.
Austríaco, o padre Leopoldo Hainberger ingressou na Companhia de Jesus em
1928, ano de sua chegada ao Brasil, e iniciou seus estudos
no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo. Ordenou-se sacerdote
em 1941 e, após lecionar filosofia e teologia, voltou para
seu país para estudar química. Doutorou-se aos 50 anos pela
Universidade de Viena, sob orientação do reconhecido químico
analítico austríaco Fritz Feigl, refugiado de guerra que
vivia e pesquisava no Rio de Janeiro desde 1940.
Os Anuários da PUC-Rio registram as intensas atividades realizadas
pelo pe. Hainberger em favor da criação do Instituto e que,
segundo relatos de seus colegas professores, pesquisadores e
ex-alunos, podem ser tomadas também como medida de sua
dedicação em favor do desenvolvimento da área de química
analítica no Brasil, expressa na sua importante e vasta
produção científica e em sua atividade docente.
Entre viagens e contatos, obteve verbas e equipamentos científicos de
empresas, instituições e governos da Alemanha e do Brasil
para as obras do Instituto, que se transformou no
Departamento de Química após 1968, e para o reconhecimento
deste como um centro avançado de pesquisas, um dos
principais do país na área de química analítica. Estabeleceu
convênios com universidades alemãs que possibilitaram o
intercâmbio de professores e pesquisadores, a obtenção de
bolsas e a instalação de equipamentos. Um dos principais
resultados de sua atuação obstinada foi a criação do
programa de pós-graduação em química simultaneamente à
inauguração das novas instalações, em 1971. Tais iniciativas
expressam o compromisso dos gestores e pesquisadores da
Universidade com a formação e aperfeiçoamento de docentes do
ensino superior e de quadros capacitados para gerir o
acelerado processo de desenvolvimento científico-tecnológico
em curso no Brasil naquele momento.
Em 1988, ano da morte do jesuíta, o chamado bloco da química ganhou o nome
de Padre Leopoldo Hainberger S.J. e faz-se presente no mapa
da memória do campus da PUC-Rio como expressão da
gratidão à figura do padre cientista e do projeto de uma
universidade em que o ensino e a pesquisa apresentam-se como
atividades indissociáveis.
Silvia Ilg Byington
Núcleo de Memória da PUC-Rio |