
O primeiro edifício do campus da Gávea
inaugurado em 1955 e batizado, em 1968, como Cardeal Leme.
c. 1958. Fotógrafo desconhecido. Acervo do Núcleo de Memória
da PUC-Rio.
Percorrer o
campus da Gávea para identificar sua toponímia e, a
partir dela, construir um mapa da memória inscrita em seus espaços nos
desafia a compreender a densidade da trama que tece a memória.
De
início, uma questão se impôs. Qual seria o primeiro registro deste mapa
simbólico do campus? A primeira edificação inaugurada ou o espaço
consagrado àquele que, na história da Universidade, ocupa o lugar de
fundador? Decidimos que o mapa deveria percorrer as sete décadas de
história da PUC-Rio e sublinhar aqueles nomes que, por distintas razões,
são representativos de cada uma delas.
O
percurso é iniciado com o Cardeal Dom Sebastião Leme de Silveira Cintra.
Bispo Auxiliar e Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro de 1911 até sua
morte em 1942, Dom Leme teve atuação política destacada em âmbito
nacional e como líder dos grupos católicos nas décadas de 1920 e 1930.
Criou entidades que pretendiam organizar a participação dos católicos na
vida pública, como a Ação Católica Brasileira, a Liga Eleitoral Católica
e, especificamente no campo intelectual, o Centro Dom Vital e o
Instituto Católico de Estudos Superiores.
No
início da década de 1930, ganhou força o projeto, idealizado por ele e
pelo padre Franca S.J., de fundação de uma universidade que, em compasso
com o tema da direção intelectual da sociedade brasileira e com os
objetivos de reforma social defendidos pela Igreja naquele momento,
deveria atuar em âmbito nacional. Em 1940 aprovaram-se os Estatutos
das Faculdades Católicas, criadas para constituirem-se em uma “Universidade
Católica para o Brasil.”
O
Cardeal Leme empresta seu nome, desde 1968, ao primeiro edifício
construído no campus da Gávea, prédio inaugurado bem antes desta data,
em 17 de julho de 1955. A inauguração foi parte da programação oficial
do 36º Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro e está bem
documentada pelo programa oficial do Congresso e por fotografias e
matérias na imprensa carioca que identificam o prédio com o próprio campus universitário. Outro registro da solenidade fundadora, este
inscrito no próprio edifício, é uma placa com dizeres em latim instalada
no pilotis, acima de um dos elevadores do Leme. No Anuário de
1955 o fato é registrado por fotografias e pelo histórico que identifica
os primeiros órgãos acadêmicos e administrativos a ocupar o Edifício
Central que, após a inauguração do Edifício da Amizade, em 1965,
passou a ser reconhecido pela comunidade como “o prédio velho”.
Da
homenagem prestada em 1968 ao Cardeal, provavelmente pelos 25 anos de
sua morte, não foram encontrados registros. Os indícios que nos levam a
essa data são as primeiras referências ao Edifício Cardeal Leme,
citado no precioso Anuário de 1968 como endereço dos novos
departamentos, laboratórios e demais unidades criadas pela Reforma
Universitária implementada na PUC-Rio em 1967 e que veio consolidar a
implantação de um novo modelo de Universidade.
A rede
de temporalidades de que é feito o mapa sugerido indica que a memória se
constrói no presente pelo entrelaçamento de espaços e tempos, de
indivíduos e coletividades, de identidades e projetos, de lembranças e
esquecimentos.
Silvia Ilg Byington e Clóvis Gorgônio
Núcleo de Memória da PUC-Rio |