
D. Myriam Alonso. 1981. Foto do acervo de Ana Lúcia
Einloft.
A sala de reuniões da Vice-Reitoria Acadêmica tem nome
próprio.
Na placa de identificação em sua porta, lê-se: SALA DE
REUNIÃO MYRIAM ALONSO. É uma justa homenagem a uma pessoa
muito especial e que assessorou, por muitos anos, os vários
professores que exerceram a função de Vice-Reitores para
Assuntos Acadêmicos. É também um exemplo expressivo do
significado do mapa simbólico da memória da Universidade que
a toponímia do campus da PUC-Rio traça ao nomear alguns de
seus espaços com referências aos que fazem parte de sua
história.
Dona Myriam, como todos a chamavam com carinho e com
deferência, foi funcionária da PUC-Rio por mais de 40 anos.
Ao ingressar no quadro de funcionários da Universidade em
1962,
secretariou a antiga Escola Politécnica. Posteriormente
passou a atuar na Vice-Reitoria Acadêmica, onde sua
capacidade de trabalho, sua generosidade e sua estatura
humana fizeram dela uma assessora preciosa não apenas para
os Vice-Reitores Acadêmicos, mas para todos os que
procuravam nela a solução para os problemas que sempre
aparecem no dia a dia da vida acadêmica. D. Myriam atendia
a todos da mesma forma, e punha o mesmo empenho em buscar a
solução para um aluno que a procurasse para resolver um
impasse de matrícula; para um funcionário de algum
Departamento que telefonasse para assegurar-se se uma dada
medida era compatível com as normas da PUC-Rio; para um
professor que indagasse sobre o andamento de seu processo de
promoção ou para o Vice-Reitor Acadêmico que a consultasse
sobre a legislação federal a respeito de algum aspecto da
vida acadêmica.
O segredo que fazia de D. Myriam o porto seguro onde era
possível encontrar acolhida e informação certeira era a rara
combinação de competência, discrição, e disponibilidade que
nela se aliavam a uma memória prodigiosa.
Todos os que interagiram com ela
certamente se lembram de histórias que mostram como D.
Myriam manejava sua chave secreta capaz de abrir, sem ruídos,
portas por vezes emperradas. Pessoalmente, me lembro muito
bem de uma reunião na Vice-Reitoria que ela secretariava e
na qual eu sugeri, diante do problema de teses defendidas
por alunos estrangeiros e que vinham redigidas em uma língua
levemente aparentada com o português, que os alunos pudessem
apresentar suas teses e dissertações em qualquer língua,
desde que a banca atestasse por escrito que aceitava ler o
trabalho naquela língua. D. Myriam, discretíssima, nada
disse no momento em que fiz a proposta, e citei para
sustentá-la o exemplo da Universidade de Louvain, que assim
procedia há décadas.
Minutos depois do final da reunião ela me procurou e disse,
como sempre com o cuidado de cumprir com esmero o protocolo
acadêmico mesmo ao falar com alguém que ela conhecia muito
bem desde que ingressara na PUC-Rio como aluna, aos 17 anos
de idade: “professora, tenho a impressão que não vai ser
possível implementar a sua idéia, porque existe uma norma do
MEC que impede que teses e dissertações sejam defendidas no
Brasil em outra língua que não o português” e, depois de
citar sem titubear o número da tal norma, me entregou a
cópia da legislação pertinente.
É um acerto que a sala de reuniões da Vice-Reitoria
Acadêmica tenha o nome de Myriam Alonso. Ela seguramente
merece emprestar seu nome a uma sala cuja vocação é reunir
os que assessoram o Vice-Reitor; examinar processos que
dizem respeito à carreira docente; atender alunos e
professores; discutir a melhor forma de encaminhar o
cotidiano acadêmico e onde se faz tudo isso sem deixar de
oferecer um espaço em que os aniversários dos funcionários,
dos coordenadores centrais e do Vice-Reitor são festejados e
onde, todos os dias, é possível encontrar a disposição um
cafezinho acolhedor.
D. Myriam soube fazer tudo isso muito bem. E é muito bom
poder lembrar dela com carinho e com saudades quando
cruzamos a porta da sala que leva seu nome.
Professora Margarida de Souza Neves
Departamento de História
Núcleo de Memória da PUC-Rio |