
O Rio Rainha próximo à sua nascente, no
trecho em que atravessa o terreno da sede do Curso de
Graduação em Ciências Biológicas da PUC-Rio. Fotógrafo
Antônio Albuquerque. Acervo do Núcleo de Memória da PUC-Rio,
2010.
“No verde seio da serra,/ Nasce o rio generoso”. Nos versos
parnasianos de Olavo Bilac, um “nobre” e “feliz” rio surge
como “fio d’água”, desliza “sem rumor” por “entre as
pedras”, “engrossa”, “cresce” e se converte em “providência
da terra”. Bilac não localiza ou dá nome ao rio que lhe
despertou tamanha inspiração. Assim, aproveitamos a
inspiração e pedimos licença ao poeta para falar de um rio
tão nobre quanto generoso para PUC-Rio: o rio Rainha.
Nascido nas encostas do Maciço da Tijuca, o rio Rainha
atravessa o terreno onde fica a sede do Curso de Graduação
em Ciências Biológicas da PUC-Rio, vizinho ao Parque da
Cidade, corta o bairro da Gávea e chega até o canal da
avenida Visconde de Albuquerque. Originalmente o rio tinha
como foz a Lagoa Rodrigo de Freitas e com a construção do
canal, na década de 1920, suas águas passaram a ser
conduzidas à praia do Leblon. Essa intervenção, realizada
pelo prefeito Carlos Sampaio, visava solucionar os
frequentes transbordamentos da lagoa atribuídos ao aumento
da vazão, durante chuvas fortes, das águas do Rainha e de
outros rios que ali desaguavam. O rio era visto como ameaça.
Contudo, “do rio que tudo arrasta/ se diz que é violento/
mas ninguém diz violentas/ as margens que o oprimem”, diria
Bertold Brecht em momento de inspiração não tão parnasiano.
Com o passar dos anos, além das violentas intervenções em
seu curso, o homem deixou marcas na qualidade das águas.
Outrora cristalino, o rio sucumbe diante dos mais variados
dejetos e, numa triste agonia, espuma, escurece, cheira mal.
Em silêncio, Sua Majestade sofre.
Ao cruzar o campus, porém, o rio que ostenta no
próprio nome o foro de nobreza tem sua agonia notada e sua
importância reconhecida. Há décadas, projetos variados
desenvolvidos por professores e alunos da PUC-Rio buscam
soluções ambientais para a recuperação do rio Rainha. Como
exemplos, temos a conservação e replantio da mata ciliar que
o protege contra o assoreamento; o monitoramento da
qualidade da água; a contenção dos dejetos nele despejados,
entre outros. É tamanha a reverência, que seu leito foi
digitalmente representado e os sons de suas águas captados e
reproduzidos na exposição que comemorou os 70 anos da
Universidade.
Com suas margens arborizadas o rio Rainha é, para os que
frequentam o campus Gávea da PUC-Rio, um aprazível
local para encontros, descanso e reflexão. Seus súditos o
estimam e aclamam por sua generosidade. Sereno, Sua
Majestade agradece.
Roberto Cesar Silva de Azevedo
Aluno do Programa de Pós-Graduação em História Social da
Cultura
do Departamento de História da PUC-Rio
Pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio