Publicações do Núcleo de Memória da PUC-Rio - Jornal da PUC - 2011

:: A majestade do rio Rainha - artigo publicado em 15/09/2011 no Jornal da PUC, Edição 246


O Rio Rainha próximo à sua nascente, no trecho em que atravessa o terreno da sede do Curso de Graduação em Ciências Biológicas da PUC-Rio. Fotógrafo Antônio Albuquerque. Acervo do Núcleo de Memória da PUC-Rio, 2010.

“No verde seio da serra,/ Nasce o rio generoso”. Nos versos parnasianos de Olavo Bilac, um “nobre” e “feliz” rio surge como “fio d’água”, desliza “sem rumor” por “entre as pedras”, “engrossa”, “cresce” e se converte em “providência da terra”. Bilac não localiza ou dá nome ao rio que lhe despertou tamanha inspiração. Assim, aproveitamos a inspiração e pedimos licença ao poeta para falar de um rio tão nobre quanto generoso para PUC-Rio: o rio Rainha.

Nascido nas encostas do Maciço da Tijuca, o rio Rainha atravessa o terreno onde fica a sede do Curso de Graduação em Ciências Biológicas da PUC-Rio, vizinho ao Parque da Cidade, corta o bairro da Gávea e chega até o canal da avenida Visconde de Albuquerque. Originalmente o rio tinha como foz a Lagoa Rodrigo de Freitas e com a construção do canal, na década de 1920, suas águas passaram a ser conduzidas à praia do Leblon. Essa intervenção, realizada pelo prefeito Carlos Sampaio, visava solucionar os frequentes transbordamentos da lagoa atribuídos ao aumento da vazão, durante chuvas fortes, das águas do Rainha e de outros rios que ali desaguavam. O rio era visto como ameaça.

Contudo, “do rio que tudo arrasta/ se diz que é violento/ mas ninguém diz violentas/ as margens que o oprimem”, diria Bertold Brecht em momento de inspiração não tão parnasiano. Com o passar dos anos, além das violentas intervenções em seu curso, o homem deixou marcas na qualidade das águas. Outrora cristalino, o rio sucumbe diante dos mais variados dejetos e, numa triste agonia, espuma, escurece, cheira mal. Em silêncio, Sua Majestade sofre.

Ao cruzar o campus, porém, o rio que ostenta no próprio nome o foro de nobreza tem sua agonia notada e sua importância reconhecida. Há décadas, projetos variados desenvolvidos por professores e alunos da PUC-Rio buscam soluções ambientais para a recuperação do rio Rainha. Como exemplos, temos a conservação e replantio da mata ciliar que o protege contra o assoreamento; o monitoramento da qualidade da água; a contenção dos dejetos nele despejados, entre outros. É tamanha a reverência, que seu leito foi digitalmente representado e os sons de suas águas captados e reproduzidos na exposição que comemorou os 70 anos da Universidade.

Com suas margens arborizadas o rio Rainha é, para os que frequentam o campus Gávea da PUC-Rio, um aprazível local para encontros, descanso e reflexão. Seus súditos o estimam e aclamam por sua generosidade. Sereno, Sua Majestade agradece.

 

Roberto Cesar Silva de Azevedo
Aluno do Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura
do Departamento de História da PUC-Rio
Pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Núcleo de Memória da PUC-Rio