
Construção do Edifício Cardeal Leme, a mata
da Gávea como moldura. c.1954.
Fotógrafo desconhecido. Acervo Correio da Manhã/Arquivo
Nacional.
A Gávea era considerada um
subúrbio até as primeiras décadas do século XX. No bairro
conviviam chácaras de famílias abastadas, e fábricas que se
beneficiavam do acesso fácil à água, dos preços baixos dos
terrenos e do transporte regular para os operários pelas
linhas de bondes. Estes buscaram moradia próxima às fábricas
em vilas, casas de cômodos e depois nas favelas que se
formaram. As chácaras começaram a se desvalorizar e algumas
foram ocupadas por habitações populares.
A PUC-Rio nasceu em 1940 com as
faculdades de Filosofia e Direito. Tornou-se Universidade em
1946 ao incluir a faculdade de Serviço Social, no projeto
formulado nos anos 1930 para a criação de uma universidade
católica para o Brasil. Ocupou no início instalações do
Colégio Santo Inácio, em Botafogo, e logo a necessidade de
mais espaço para alunos, laboratórios, bibliotecas e
administração tornou-se urgente.
Desde os primeiros anos o
fundador e primeiro reitor, padre Leonel Franca, S.J.,
buscou junto ao Governo Federal um local adequado à
construção da Universidade, de forma a que esta pudesse ser
uma referência nacional, abranger todas as áreas de
conhecimento e atuar no fortalecimento do catolicismo no
Brasil. O presidente Getúlio Vargas manifestou-se favorável
à doação de terrenos da União. Foram oferecidos terrenos em
São Cristóvão, no Caju, em Duque de Caxias, entre outros,
todos considerados inadequados.
O padre Franca propôs ocupar
terrenos na Praia Vermelha ou no Jardim Botânico que, porém,
já estavam reservados para outros usos. Durante algum tempo
a solução pareceu ser a construção de prédios em terrenos
disponíveis na Esplanada do Castelo, no Centro do Rio, que
atenderiam à intenção de que a Universidade fosse acessível
em termos de transportes. Diversas dificuldades levaram a
que estes terrenos fossem vendidos.
Mesmo sem uma solução
definitiva iniciou-se em 1947 uma campanha nacional de
arrecadação de fundos para a construção da Universidade.
Padre Franca faleceu em 1948, sendo sucedido na reitoria da
PUC-Rio pelo padre Paulo Bannwarth, S.J. Foi na sua gestão
que os terrenos de diversas chácaras na Gávea foram
adquiridos, os quais representam a maior parte do espaço
hoje ocupado pela Universidade.
Contribuíram para a escolha
desse local fatores diversos. Havia a oportunidade de
adquirir terrenos desvalorizados próximos à Zona Sul, onde
morava a maioria dos professores e alunos, numa região com
clima desde há muito conhecido como “aprazível” – um campus
ecológico antes que se falasse nisso -, mas o fator
transportes parece ter sido decisivo. Linhas de bondes e
ônibus passavam em frente ou próximos aos terrenos, e o Plano
Piloto do Distrito Federal, então a cidade do Rio de
Janeiro, trazia a perspectiva da construção de um túnel
ligando a rua Uruguai, na Tijuca, à praça Santos Dumont. A
Universidade estaria a 10 minutos de distância da Zona
Norte. Esse, como outros planos urbanísticos e viários no
Rio de Janeiro, foi esquecido, retomado e modificado.
Hoje é o Metrô que bate à nossa
porta, em um novo contexto de cidade, e em uma Universidade
que se dissemina no mundo virtual e em unidades espalhadas
pela cidade e pelo Estado.
Clóvis Gorgônio
Pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio