Publicações do Núcleo de Memória da PUC-Rio - Jornal da PUC - 2011

:: Como a PUC-Rio chegou à Gávea - artigo publicado em 06/09/2011 no Jornal da PUC, Edição 245


Construção do Edifício Cardeal Leme, a mata da Gávea como moldura. c.1954.
Fotógrafo desconhecido. Acervo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

A Gávea era considerada um subúrbio até as primeiras décadas do século XX. No bairro conviviam chácaras de famílias abastadas, e fábricas que se beneficiavam do acesso fácil à água, dos preços baixos dos terrenos e do transporte regular para os operários pelas linhas de bondes. Estes buscaram moradia próxima às fábricas em vilas, casas de cômodos e depois nas favelas que se formaram. As chácaras começaram a se desvalorizar e algumas foram ocupadas por habitações populares.

A PUC-Rio nasceu em 1940 com as faculdades de Filosofia e Direito. Tornou-se Universidade em 1946 ao incluir a faculdade de Serviço Social, no projeto formulado nos anos 1930 para a criação de uma universidade católica para o Brasil. Ocupou no início instalações do Colégio Santo Inácio, em Botafogo, e logo a necessidade de mais espaço para alunos, laboratórios, bibliotecas e administração tornou-se urgente.

Desde os primeiros anos o fundador e primeiro reitor, padre Leonel Franca, S.J., buscou junto ao Governo Federal um local adequado à construção da Universidade, de forma a que esta pudesse ser uma referência nacional, abranger todas as áreas de conhecimento e atuar no fortalecimento do catolicismo no Brasil. O presidente Getúlio Vargas manifestou-se favorável à doação de terrenos da União. Foram oferecidos terrenos em São Cristóvão, no Caju, em Duque de Caxias, entre outros, todos considerados inadequados.

O padre Franca propôs ocupar terrenos na Praia Vermelha ou no Jardim Botânico que, porém, já estavam reservados para outros usos. Durante algum tempo a solução pareceu ser a construção de prédios em terrenos disponíveis na Esplanada do Castelo, no Centro do Rio, que atenderiam à intenção de que a Universidade fosse acessível em termos de transportes. Diversas dificuldades levaram a que estes terrenos fossem vendidos.

Mesmo sem uma solução definitiva iniciou-se em 1947 uma campanha nacional de arrecadação de fundos para a construção da Universidade. Padre Franca faleceu em 1948, sendo sucedido na reitoria da PUC-Rio pelo padre Paulo Bannwarth, S.J. Foi na sua gestão que os terrenos de diversas chácaras na Gávea foram adquiridos, os quais representam a maior parte do espaço hoje ocupado pela Universidade.

Contribuíram para a escolha desse local fatores diversos. Havia a oportunidade de adquirir terrenos desvalorizados próximos à Zona Sul, onde morava a maioria dos professores e alunos, numa região com clima desde há muito conhecido como “aprazível” – um campus ecológico antes que se falasse nisso -, mas o fator transportes parece ter sido decisivo. Linhas de bondes e ônibus passavam em frente ou próximos aos terrenos, e o Plano Piloto do Distrito Federal, então a cidade do Rio de Janeiro, trazia a perspectiva da construção de um túnel ligando a rua Uruguai, na Tijuca, à praça Santos Dumont. A Universidade estaria a 10 minutos de distância da Zona Norte. Esse, como outros planos urbanísticos e viários no Rio de Janeiro, foi esquecido, retomado e modificado.

Hoje é o Metrô que bate à nossa porta, em um novo contexto de cidade, e em uma Universidade que se dissemina no mundo virtual e em unidades espalhadas pela cidade e pelo Estado.

Clóvis Gorgônio
Pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio
 

 

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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