Publicações do Núcleo de Memória da PUC-Rio - Jornal da PUC - 2011

:: A Mata Atlântica que emoldura a Gávea - artigo publicado em 06/06/2011 no Jornal da PUC, Edição 242


Vista aérea da Gávea com a serra da Carioca ao fundo. 2010.
Fotógrafo Nilo Lima. Acervo do Núcleo de Memória da PUC-Rio.

O Ano Internacional das Florestas, instituído pelas Nações Unidas em 2011, trás à reflexão internacional a importância que têm estes ecossistemas para a humanidade. Eles recobrem 30% da superfície terrestre, dos quais 1,6 bilhões de pessoas dependem, assim como resguardam 80% da diversidade biológica conhecida pela ciência.

A Floresta Atlântica encontra-se reduzida a 6% de sua cobertura original no território brasileiro e compõe a paisagem carioca distribuindo-se por toda a cadeia de montanha que a circunda, ainda que seus remanescentes totalizem 16% na cidade do Rio de Janeiro.

A Floresta Atlântica por possuir elevadas taxas de diversidade e endemismo de espécies (os chamados hotspots), encontra-se entre as dez áreas prioritárias para a conservação biológica no mundo. Diferentemente de grande parte das cidades, o ambiente natural atravessa o cotidiano da população carioca, o que por um lado sensibiliza, mas por outro também impacta.

Os moradores da Gávea ocupam as encostas da serra da Carioca – uma das montanhas que compõem o Maciço da Tijuca – assim como a área de vale, onde, à época do descobrimento, vicejavam matas frondosas nas altitudes e de menor porte, sobre solo alagadiço, nas áreas de baixada sob influência dos córregos e rios que ali se formavam, como o rio Rainha. Nos séculos XVI-XVII a cultura da cana-de-açúcar se espraiava por toda a região de baixada. Inicialmente nos arredores da Baía de Guanabara e logo depois nos terrenos proximais à lagoa de Camambucaba (atual Rodrigo de Freitas) até beirar os arredores do sopé da serra da Carioca na região atual da Gávea.

Esta parte da serra da Carioca, especialmente a região das Paineiras, Corcovado e Pedra Bonita foi muito frequentada por naturalistas europeus no século XIX que se empenhavam em documentar a rica e diferenciada natureza das florestas tropicais reveladas ao Velho Continente através da coleta de plantas e animais. Destacam-se nesta empreitada Glaziou, Gardner, Martius, Riedel, entre outros, cuja documentação histórica encontra-se dispersa nos acervos biológicos nacionais e, sobretudo, internacionais.

Este valioso patrimônio natural que embeleza nossa paisagem diária presta outros relevantes serviços ambientais à população: manter o equilíbrio climático, as nascentes e cursos d´água, proteger as encostas e propiciar a salvaguarda de inúmeras espécies da fauna e flora que lhes são típicas.

Ainda que documentada ao longo dos anos e localizada ao longo das maiores cidades brasileiras, a Floresta Atlântica ainda é uma lacuna de conhecimento. A forma com que foi destruída, ao longo dos últimos séculos, deve inspirar novas abordagens de pesquisa, tanto quanto ações educativas para que sua fragmentação não se repita em outros biomas brasileiros, sobretudo em tempos de excessiva cobiça nas sociedades contemporâneas.

 

Profa. Rejan R. Guedes-Bruni
Curso de Ciências Biológicas da PUC-Rio

 

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Núcleo de Memória da PUC-Rio