
Vista aérea de parte do bairro da Gávea,
destacada a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição da
Gávea. Fotógrafo Nilo Lima. Acervo do Núcleo de Memória da
PUC-Rio, 2010.
Em um vôo de helicóptero, realizado em
junho 2010, o campus da PUC-Rio e seu entorno foram
registrados de um ângulo incomum. As fotografias aéreas
retrataram, para além do espaço universitário, a beleza da
paisagem natural e alguns elementos arquitetônicos que
traçam a singularidade dessa região e que escapam à maioria
dos que circulam pelas ruas do bairro, envolvidos pela
pressa do dia-a-dia.
Um desses detalhes, a Igreja da Nossa
Senhora da Conceição da Gávea, localizada no início da rua
Marquês de São Vicente, foi focado pelas lentes do fotógrafo
voador a duras penas. Emparedada e ensombreada por edifícios
por todos os lados, a igreja some na paisagem sobre a qual
se destacava imponente, segundo a iconografia do século XIX
e início do XX.
Sobre essa antiga paisagem, de fato rural
e distante do que era o núcleo urbano da cidade do Rio de
janeiro até o final dos anos 1800, a Igreja tem muito a
informar. Pela sua posição fora de esquadro em relação à
testada da rua, evidencia que esta, antes de ser logradouro
de perímetro urbano, era um caminho colonial de sugestivo
nome, o da Boa Vista, aberto em terras do Engenho de Nossa
Senhora da Conceição da Lagoa para acesso aos limites
ocidentais da sesmaria.
Através do nome herdado, a igreja também
nos dá pistas valiosas para se conhecer as formas espaciais
históricas que marcam, como expressões dos processos
sociais, a trajetória de urbanização de uma cidade. A capela
foi construída nos anos 1850 para atender à crescente
população desta parte longínqua da freguesia de São João
Batista da Lagoa. A nova edificação substituía a antiga
capela rural erigida por Diogo de Amorim Soares no século
XVII e dedicada à Nossa Senhora da Conceição, orago desde
então de seu engenho. Em 1873, a capela recém construída foi
elevada à igreja matriz e sua padroeira batizou a nova
Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Gávea.
A chegada do bonde, nos mesmos anos 1870,
a construção de fábricas e de vilas operárias na virada do
século, a inauguração do Jockey Club do Rio de Janeiro, nos
anos 1920, a instalação do campus da PUC-Rio, iniciada nos
anos 1950 e a explosão imobiliária ocorrida a partir dos
anos 1970 são alguns exemplos do processo de ocupação urbana
acelerado que norteou o crescimento da Gávea e de resto da
cidade do Rio de Janeiro durante o ultimo século.
Tão somente por sua permanência como
fragmentos de formas espaciais do passado atualizados e
reconhecidos por novas funções urbanas e sociais, a igreja
matriz, assim como o traçado do antigo caminho, os trilhos
do bonde visíveis sob o asfalto gasto da Praça Santos
Dumont, os muros grafitados do Jockey ou as palmeiras do
arboreto do Jardim Botânico explicitam que o tecido urbano é
construção coletiva e histórica. Expressam em sua
materialidade cenários vivos e dinâmicos que compõem uma
cidade. A seus habitantes, resta não perder de vista o seu
panorama.
Silvia Ilg Byington
Núcleo de Memória da PUC-Rio