
O Museu Histórico da Cidade do Rio de
Janeiro, antiga casa do Marquês de São Vicente. 2009.
Fotógrafo Rodrigo Soldon. Acervo particular.
Era uma vez,
uma ruazinha simpática chamada Rua da Boa Vista da Lagoa, ou
simplesmente Bela Vista, localizada na Gávea, bairro que,
desde o século XIX, já era procurado por membros da elite
para estabelecer suas moradas permanentes ou casas para
passar temporadas. Nela, localizavam-se belas chácaras que
serviam como refúgio para famílias ilustres que desejavam
fugir do tumulto da cidade. Eram, apesar da distância em
relação ao centro, casas nas quais se cultivavam hábitos
urbanos.
Na Rua da Boa
Vista da Lagoa, em seu ponto mais alto, encontrava-se a
Chácara do Morro Queimado, onde, no século XVIII, em
ambiente provavelmente rural, vivia a senhora Catarina de
Sene. Após sua morte, seus herdeiros venderam a chácara ao
Barão de Penedo, doutor Francisco Inácio de Carvalho
Moreira.
Em 1858, o
político e jurista paulista José Antonio Pimenta Bueno
(1803-1878), o Marquês de São Vicente, que hoje dá nome à
rua tão conhecida pelos frequentadores da PUC-Rio, a
comprou. Era comum no Rio de Janeiro do século XIX que
famílias urbanas morassem permanentemente fora do núcleo da
cidade, o que parece ter sido o caso dessa importante figura
do Império do Brasil. Diz-se, inclusive, que o Marquês, em
sua chácara, recebia visitas do Imperador do Brasil, Dom
Pedro II, o que não surpreende, devido ao seu papel
proeminente na vida política do Império.
Após a morte
do Marquês, sua viúva viveu ainda na chácara por alguns
anos, mas esta acabou por ser vendida. Passou pelas mãos de
homens como o empreiteiro português Antônio Teixeira
Rodrigues e o senhor João Vieira da Silva Borges, que, em
1931, deu seu nome para a estrada que, posteriormente, viria
a ser batizada de Estrada Santa Marinha. Já no início da
década de 1930, a casa foi comprada pela família de
Guilherme Guinle que pouco depois a doou para a Prefeitura.
Esta chácara passou, então, a sediar, a partir de 1941, o
Museu Histórico da Cidade e o Parque da Cidade.
Do alto da
Estrada Santa Marinha, da chácara do Marquês, que outrora se
localizava às margens do crescimento urbano, pode-se hoje
observar a trajetória de transformações sofridas pela
cidade. Faz jus ao nome do bairro, gávea, que, em
vocabulário relacionado à marinha, significa plataforma
situada a certa altura dos mastros.
Ao lado da
antiga chácara, funciona hoje o curso de Ciências
Biológicas, a mais nova graduação da PUC-Rio. Lado a lado,
as duas casas têm em comum a integração com a natureza.
Origem do nome da rua na qual se localiza e vizinha de uma
de suas unidades, a Casa do Marquês faz parte do universo
simbólico que permeia a vida da universidade, mesmo que nem
sempre nos demos conta disso.
Juliana
Cordeiro de Farias
Aluna do curso de graduação em História
Pesquisadora Bolsista do Núcleo de Memória da PUC-Rio