Falecimento do Professor Dionísio Dias Carneiro, do Departamento de Economia da PUC-Rio

Dionísio Dias Carneiro: O formador de gerações

Era o auge da inflação, os jornalistas de economia sentiam que a velocidade dos acontecimentos era rápida demais. A gente se perdia naquela profusão de regras mutantes de cada plano econômico. Para fazer direito o nosso trabalho, era preciso estudar mais. Foi quando o jornal em que eu trabalhava teve a ideia de ter professores que, uma vez por semana, nos desvendassem os mistérios da economia. Dois economistas aceitaram o encargo de combater a nossa ignorância: Rogério Werneck e Dionísio Dias Carneiro.

O jornalismo tem vantagens assim. A minha chance foi durante aqueles anos da segunda metade dos anos 1980. Almoçávamos com Dionísio e Rogério toda quarta-feira. Eu costumava levar uma lista de dúvidas e o almoço passava voando. Dionísio tinha um jeito gostoso de ensinar: meio brincando, misturando conhecimento profundo e muita ironia, precisão técnica e clareza, charme e objetividade. Seu conhecimento parecia infinito. O aluno nunca se sentia ignorante quando fazia uma pergunta; e sempre se sentia mais inteligente após a explicação.

Em uma conversa recente com Luiz Roberto Cunha sobre o Departamento de Economia da PUC, quando ele virou o centro de excelência no desenvolvimento de tecnologia de combate à inflação, ele resumiu: "o Dionísio era a alma do departamento." Entre outras razões por ser genuinamente professor, no sentido mais amplo que a palavra tem, e que define não apenas o que transmite informação, mas o que forma.

Dionísio foi um formador de gerações de economistas. Alunos dele como Armínio Fraga, Pedro Bodin, Beny Parnes, tantos, tantos, repetiam ontem a mesma ideia. Dionísio fazia com exatidão o papel de professor. Ele transmitia informações da sua vasta cultura econômica, ampliava a visão dos alunos nas suas permanentes visitas às fronteiras do conhecimento, provocava dúvidas com seu pensamento sempre independente. Isso já era muito, mas Dionísio ia além. Ele formava pessoas. É esse formador de gerações que a economia brasileira acaba de perder. Se estivesse lendo esse artigo, Dionísio diria que não era bem assim. E iria destilar uma de suas frases de humor inteligente para tudo terminar numa gostosa gargalhada.

Miriam Leitão
Editoria de Economia, IN O Globo, 30/07/2010, p. 31.

* Miriam Leitão autorizou a transcrição deste texto.

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Núcleo de Memória da PUC-Rio