Professor Paulo Fiúza Bocater: Um “general prussiano” de alma doce
Do alto de seus quase um metro e noventa, com longos bigodes louros, aquela figura altiva e de porte elevado, cheia de dinamismo e atenta a tudo e a todos, colocava o dever acima de tudo, ajudava a “comandar” uma PUC num período de muitas crises, fazia lembrar um “general prussiano”. Mas sua alma era doce, seu humor era saudável, sua vida era feliz... Sua preocupação, dedicação e compromisso com a instituição, em muitos momentos acima até de sua saúde nos longos meses de sofrimento, sendo consumido pela doença, mas sempre presente, mostravam realmente quem era o professor Bocater.
Sua vida foi dedicada à “nossa” PUC. Entrou para o curso de economia em 1971, após concluir o 2º grau no Santo Inácio. Nos seus primeiros anos na economia, dividiu os estudos quantitativos com as aulas de religião, que ministrava no antigo colégio. A partir de 1973, mais envolvido com a PUC e o com o departamento de economia, foi monitor, passando a se integrar cada vez mais no dia a dia da universidade. Aqueles eram outros tempos... O numero de professores de “horário integral” no CCS era ainda pequeno e, como as tarefas eram muitas, monitores mais dedicados e comprometidos integravam-se também às atividades acadêmico-administrativas, participavam das discussões sobre o futuro da instituição. Estava se iniciando o curso de mestrado em administração de empresas, e Bocater optou pela pós-graduação em administração em 1976. Ainda no mestrado, é contratado como professor-auxiliar de “horário integral” e, além das aulas, passa a colaborar também na administração acadêmica do departamento, sendo a partir de julho 1976 coordenador de graduação
Em 1977, na Igreja da Glória do Outeiro, oficiado por seu prefeito no colégio Santo Inácio, Pe. Guy Ruffier, casa-se com Maria Isabel do Prado, advogada, que além de João e Marília, lhe deu uma nova área de interesse, as questões jurídicas...
No final de 1979, licencia-se para fazer o doutorado na NYU. Retorna em no 2º. semestre de 1983, passando a atuar no departamento de administração. Logo volta a se integrar na administração acadêmico-administrativa da Universidade, em agosto de 1985, quando os cursos de extensão foram desvinculados das atividades de extensão, é nomeado Coordenador dos Cursos de Extensão (CCE).
Em junho de 1987 assume a Vice-reitoria Administrativa. Foram quase treze anos no cargo. Treze anos que marcaram profundamente a Universidade. No inicio, foram tempos difíceis, especialmente no começo dos anos 90, quando enfrentou junto com a reitoria e o apoio dos decanos, uma conjuntura econômica desordenada, onde problemas administrativos e trabalhistas acumulados ao longo de anos, levaram a PUC a um período de muitas discussões, negociações e ajustes financeiro-administrativos. O desafio para o Vice-reitor Administrativo era enorme, pois se de um lado era necessário adequar o orçamento, de outro só com o crescimento a instituição poderia sobreviver. Nas reuniões dos conselhos e comissões, sob a orientação do Pe. Laércio e depois do Pe. Hortal, sua presença era marcante. O professor Bocater teve um papel importante no processo de definição dos rumos da Universidade, sempre com uma preocupação de futuro, sempre entendendo, como um acadêmico, as características diferenciadas do “modelo-PUC”.
Passada a crise, vemos o professor Bocater exercer outro papel que lhe dava gosto e prazer, “comandar” a renovação do campus... Com sua figura marcante, destacava-se sempre ao vistoriar as obras, como novas salas de aula e laboratórios para cursos de graduação, e pelas alamedas ajardinadas, o “Paseo de Bocater”...
Paulo foi sempre um grande amigo de todos nós, em todas as unidades sua lembrança está sempre presente. Já em sua turma de graduação, destacava-se por suas muitas qualidades, que iam além do excelente aluno. Nos primórdios do departamento de economia lembro-me de suas idéias e de seu compromisso com o futuro da instituição. Nos tempos de crise, visitá-lo ao fim de um dia longo para trocar idéias sobre a ‘nossa’ PUC, era sempre um prazer, pois do alto de sua voz marcante, mesmo nos assuntos difíceis, a conversa era boa, os assuntos fluíam, as decisões eram tomadas. Nas horas de lazer, na companhia de Bebel, os ‘papos’ eram sempre animados, a visão do mundo era otimista, positiva.
Paulo, nós todos sentimos muito a sua falta.
16 de setembro de 2007
Luiz Roberto Cunha
amigo, admirador, professor, paraninfo, antecessor e sucessor na administração da “nossa” PUC